G.R.E.S.Mocidade Independente de Padre Miguel
A vida que pedi a Deus

 

O Enredo no Samba: Estrutura discursiva

          A Mocidade Independente de Padre Miguel tem como mote de seu enredo a defesa de um mundo com mais qualidade de vida, composta pela paz, pela fartura, pela saúde e pelo equilíbrio, respectivamente, além de festejar o cinqüentenário da agremiação.
          Convém esclarecer que os quatro elementos utilizados para falar da vida ideal na sinopse estão diretamente relacionados aos quatro cavaleiros do apocalipse bíblicos, porém são idéias opostas, a saber:  1o. cavaleiro = a guerra, 2o. cavaleiro = a fome, 3o. cavaleiro = a peste e 4o. cavaleiro = a morte.
          Os refrões procuram resgatar a auto-estima da escola com ênfase nas cores da mesma e o uso da 1a. pessoa do discurso. O refrão principal resume as duas vertentes do enredo da escola por meio de uma proposição que anuncia o que será cantado na Avenida: “A vida que pedi a Deus... São 50 anos de história...”.

O Samba no Enredo: Estrutura lingüística

          Há predominância de verbos no tempo presente para enfatizar idéias e para que o espectador visualize o que está sendo cantado no desfile, como por exemplo:

  • “Roda baiana, faz o meu mundo girar”

  • “No compasso, a bateria faz meu povo delirar”

  • “A Mocidade risca o chão de poesia”

  • “Hoje é um eterno folião”

  • fartura em toda mesa”

  • “A vida tem mais qualidade”

          A letra do samba é formada basicamente por verbos transitivos com seus complementos e por circunstanciais adverbiais:

verbo complemento circunstanciais
fui - ao céu
viajei - ao infinito
atendeu o meu pedido -
mudar a profecia -
apostei

-

na alegria e na magia do meu carnaval
faz o meu mundo -
faz meu povo -
risca o chão de poesia
leva te nesta folia
unindo os povos num só coração
fazia a guerra -
fartura em toda mesa
tem mais qualidade  
pedi a vida a Deus
proporcionou me -

          Seguindo a proposta do enredo, a letra narra em 1a. pessoa, a mudança da profecia do apocalipse (de teor negativo) para da apoteose (de teor positivo) a partir de um pedido feito a Deus. Essa apoteose é representada pela vida idealizada e pelo orgulho de fazer parte da Mocidade nesses 50 anos de existência. É também a indissociável valorização da escola e do carnaval.

Julio Cesar Farias
Julio é professor, escritor, pesquisador da linguagem na cultura popular, colaborador do Centro de Memórias do Carnaval da LIESA e membro do conselho Consultivo do Instituto do Carnaval da Universidade Estácio de Sá.

 

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