Uma fórmula mais lógica

 

           Meu nome é Alexandre Mendonça Rocha, tenho 34 anos e desde os 9 anos, portanto, desde 1976, nunca deixei de acompanhar um desfile das Escolas de Samba. Sendo assim, é claro que nunca deixei de acompanhar também a polêmica que sempre envolve a apuração das notas dos jurados. Venho através deste apresentar uma proposta, talvez revolucionária, mas muito simples, para, não acabar com as reclamações, mas, com certeza, torná-las bastante sem sentido.
           Venho acompanhando a louvável tentativa da LIESA aprimorar a cada ano o processo da apuração. O erro estrutural do método em vigor, no meu entender, é que ele tenta tornar objetivo um processo de avaliação que jamais deixará de ter uma grande parcela de subjetividade. Assim sendo, não importa se a diferença entre as notas possíveis é de 0.5 ou 0.1, porque um jurado pode muito bem dar dez para uma escola e sete para outra. Este é um método quantitativo, cabendo ao jurado a quantificação da subjetividade, da sua subjetividade, e o fato de ter que explicá-la em nada muda o problema.
           O método que estamos propondo, completamente diferente do atualmente em vigor, é classificatório, e não quantitativo. E para quem achar que ele não vingará justamente porque não faz parte da cultura do mundo do samba, está redondamente enganado. Sem tirar nem pôr, é exatamente ele que é aplicado na escolha do samba-enredo de todas as escolas de samba, salvo raras exceções, desde que o samba é samba. Tirando a questão de se existe ou não favorecimento em algumas destas escolhas, porque este já é um outro problema, o fato é que o grupo de pessoas designado para a função de escolher o samba-enredo que irá representar cada escola de samba não dá notas aos sambas, ele simplesmente escolhe sucessivamente aquele, ou aqueles, que considera ser o mais fraco para eliminá-lo. Este processo se repete até a grande final, quando é escolhido o melhor, portanto, não sendo utilizado em nenhum momento o método quantitativo e falho de atribuição de notas.
           O método classificatório facilitará em muito a vida do jurado, uma vez que ele não mais estará tentando quantificar sua subjetividade para dar uma nota a uma escola e sim simplesmente a estará colocando em uma determinada classificação. Para mostrar o quanto é simples e lógico este método, vamos supor que só houvessem duas escolas de samba desfilando, o Salgueiro, minha escola, e a Mangueira. Não vamos mexer em nada na estrutura dos quesitos, não há porquê, e nem na quantidade correta, a meu juízo, de 5 jurados para cada quesito, porque a comparação das classificações indicadas pelos vários jurados é justamente a melhor forma de se buscar uma coerência para a classificação individual de cada um, e esta comparação, a ser feita por quem de direito, é que pode, ao longo dos anos, contribuir para a retirada de uma ou outra pessoa da equipe de jurados.
           Pelo método antigo, o jurado A deu 10 para a bateria da Mangueira e 9.2 para a do Salgueiro. Já o jurado B deu 10 para as duas. Pelo método classificatório que estamos propondo, os jurados não precisarão dar notas, eles simplesmente dirão: "Para mim a melhor bateria foi a da Mangueira e a Segunda melhor foi a do Salgueiro". Reparem que, se o trabalho dele fica bem mais simplificado, não poderá, em contrapartida, optar pela, as vezes, fácil saída de igualar todas ou algumas escolas, uma vez que terá que classificá-las. O jurado B, portanto, pelo nosso método, apesar de achar teoricamente que as duas baterias estavam muito boas terá que fazer um pequeno esforço para apontar qual das duas muito boas foi um pouquinho melhor naquele desfile.
           Agora então tudo fica muito fácil e a escola campeã será aquela que obtiver o menor número de pontos, uma vez que serão atribuídos pontos de maneira crescente dependendo da classificação obtida por cada escola, senão vejamos já agora com um exemplo hipotético envolvendo as 14 escolas que desfilaram em 2002, continuando com o quesito bateria.

  • Melhor bateria: Salgueiro! = 1 ponto

  • Segunda melhor bateria: Viradouro = 2 pontos

  • Terceira melhor bateria: Mangueira = 3 pontos

  • Quarta melhor bateria: São Clemente = 4 pontos

  • Quinta melhor bateria: Império Serrano = 5 pontos

  • Sexta melhor bateria: Beija-flor = 6 pontos

  • Sétima melhor bateria: Mocidade = 7 pontos

  • Oitava melhor bateria: Grande Rio = 8 pontos

  • Nona melhor bateria: Portela = 9 pontos

  • Décima melhor bateria: Unidos da Tijuca = 10 pontos

  • Décima primeira melhor bateria: Imperatriz Leopoldinense = 11 pontos

  • Décima segunda melhor bateria: Porto da Pedra = 12 pontos

  • Décima terceira melhor bateria: Tradição = 13 pontos

  • Décima Quarta melhor bateria: Caprichosos de Pilares = 14 pontos

           Soma-se normalmente os pontos de todos os jurados em todos os quesitos e facilmente chega-se a classificação final com a campeã sendo aquela que tiver o menor número de pontos e a última colocada a que tiver o maior número de pontos.
           O equivalente com este método para uma escola que tirava 10 em todos os quesitos para todos os jurados pelo método antigo, seria ser escolhida por todos os jurados como a melhor escola em todos os quesitos, o que, convenhamos, provavelmente jamais ocorrerá. O oposto também é verdade, ou seja, aquela escola de menor expressão que acaba atraindo, estranhamente em todos os quesitos, as menores notas, por este método novo teria que ser escolhida por todos os jurados, em todos os quesitos, como a pior escola, o que também certamente muito dificilmente acontecerá.
           Além de ser mais justo, lógico e até mesmo muito mais simples, este método transformará a apuração, que já é um espetáculo a parte, em um momento especial em termos de emoção e adrenalina.
           Em primeiro lugar, não serão mais divulgadas as notas das escolas segundo a ordem em que desfilaram, pois que não existem notas e sim classificações. E elas serão indicadas pelo apresentador de maneira crescente, ou seja, para o caso do exemplo hipotético apresentado acima: "Quesito Bateria, Julgador, João das Couves, Décima Quarta melhor bateria: Caprichosos de Pilares; décima terceira melhor bateria: Tradição..." e assim sucessivamente num crescente de emoção até chegar na "... segunda melhor bateria: Unidos do Viradouro; melhor bateria: Salgueiro!"
           Em segundo lugar, teremos a garantia de que esta emoção vai até o final, o que muitas das vezes, não temos no método atual. Falando francamente, quando uma escola chega no último quesito, no caso, Bateria, com uma pequena vantagem que seja, poucas pessoas acreditam que o resultado irá se alterar, uma vez que não basta a escola que está atrás tirar a nota máxima, é preciso também que a escola que está na frente perca pontos. Pelo método da classificação, a escola que estiver um pouco a frente de uma outra só garantirá o título, independentemente da classificação da escola que estiver disputando com ela, se for considerada pelos 5 jurados como tendo a melhor bateria, sinceramente falando, algo muito mais difícil do que obter cinco notas "dez", quase uma banalidade atualmente.

 

Alexandre Mendonça Rocha (Passarinho)
(é carioca,salgueirense, nasceu em 1976 e acompanha os desfiles desde os 9 anos)

 

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