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Nessa
época do ano, nós que fazemos a festa costumamos sofrer de ansiedade,
angústia e forte tensão. Mas frio na barriga mesmo devem sentir as pessoas
que se sentam no banco dos jurados.
Posição difícil, complicada e de alta responsabilidade, uma vez que estas
pessoas definem os destinos daqueles que idealizam urna festa que já não
mais pertence somente aos brasileiros, pois suas imagens caminham livremente
pelo mundo via satélite.
Mas julgar é preciso. E, por isso, vale sempre a pena estar a todo momento
revendo os critérios de julgamento.
Vejo o desfile como uma grande ópera que tem seu libreto, trilha sonora,
grandes cenários e figurinos. Porém, há uma diferença básica: não há como
fazer um ensaio geral. A filosofia da festa é completamente impregnada
de espontaneidade, até de uma forte dose de improviso, visto que se trata
de uma manifestação de massa (o que nunca podemos esquecer). Apesar de
todo o planejamento prévio, não podemos esquecer do fator emoção.
A própria digestão da história a ser contada só se processa dentro de
quem idealiza, poucos dias antes de ela acontecer na forma de desfile,
sendo necessária a oportunidade de podermos acrescentar sempre mais algum
detalhe no roteiro definitivo, o que às vezes é difícil, devido às regras
estabelecidas, que exigem a entrega das sinopses 30 dias antes da festa.
No que diz respeito à parte plástica, às vezes a gente se pergunta, por
exemplo, o que é acabamento? Cada estilo possui uma maneira própria de
finalização. É importantíssimo preservar as diferenças entre os trabalhos
e suas formas de execução, sob pena de tornar o espetáculo monótono.
Quem define melhor suas pinceladas: Van Gogh ou Portinari? O que parece
ser mais bonito, as pinceladas soltas do holandês ou o racionalismo do
brasileiro? Transportando isso para o desfile das escolas de samba, acho
importantíssimo que cada um tenha seu próprio estilo, pois precisamos
de todos eles. Acho necessário que alguém tenha a preocupação com a História
que a Rosa Magalhães, carnavalesca da Imperatriz Leopoldinense, tem. Uma
coisa didática, escolar, de professora universitária mesmo. Ela se preocupa
com a verruga no dedo do pé direito de D. João VI. Ao mesmo tempo,acho
importantíssimo o estilo hi-tech do Renato Lage, carnavalesco da Mocidade
Independente. São estilos diferentes. Não há o mais bonito, daí ser difícil
julgar.
Não dá para saber quem define melhor suas pinceladas, só dá para sentir,
mais emoção ou menos emoção.
Não gostaria de estar na pele de quem julga.
Acho dificílimo classificar emoção com números. Por enquanto, só consigo
sentir. Mas mesmo assim, desejo à comissão julgadora muito boa sorte.
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