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Renovada, Estrelinha da Mocidade é mais do que uma escola de samba mirim. É uma escola para formar cidadãos
Caracterizada, essencialmente, pela força de sua comunidade, era natural que a Mocidade Independente de Padre Miguel estabelecesse um trabalho de formação de novos sambistas. A Estrelinha da Mocidade Independente, nascida em 1992 por iniciativa de Beth Andrade, nora do ex-patrono da escola, Castor de Andrade, e Vicente de Paula, presidente da ala “O agito”, sempre trouxe embutido este ideal. A escola mirim enrolou a sua bandeira por cerca de 10 anos. Mas, com a eleição de Paulo Vianna, voltou à ativa, constituindo-se uma espécie de celeiro de craques do samba, além de pólo de integração social e cultural.
Maria das Graças Carvalho, presidente da Estrelinha há dois anos, conta que a intenção básica da agremiação é a de oferecer perspectivas e sonhos para a criançada da comunidade de Padre Miguel, carente de um olhar mais carinhoso por parte do poder público: “É gratificante proporcionar alegria para estes pequenos através do samba, que é uma manifestação de extrema importância na cultura carioca”, diz.
Co-autor do samba de 2007 da Mocidade, Marquinho Marino ocupa a função de diretor geral de carnaval da Estrelinha: “É bacana poder lapidar talentos, o mesmo trabalho que fizeram comigo lá atrás”. Ele é uma espécie de filho da agremiação, já que foi como ritmista do então mestre de bateria Burunga que estabeleceu os primeiro contatos com o samba.
A mesma leva que trouxe Marquinho permitiu o início da carreira de um amigo seu também ilustre: Lequinho – um dos compositores do samba de 2007 da Estação Primeira de Mangueira e de outros hinos da verde-rosa –, que ensaiou os seus primeiros acordes no carnaval como membro da escola mirim da Mocidade.
Componente bom é aquele que também tem notas altas no colégio
“Meu maior projeto é o de estabelecer uma base para que um menino que não teve as mesmas condições que outro, de mesma idade, morador da Zona Sul, possa trilhar um caminho do bem, passando ao largo de problemas como drogas e criminalidade”, conta Marquinho. Segundo ele, duas escolas particulares da região, CEPROM e Marques Rodrigues, já possuem alas na agremiação: “Se não for possível conseguir bolsas de estudo para parte destes integrantes da Estrelinha, tentarei, pelo menos, um projeto para que alguns professores destes colégios possam ministrar aulas de reforço para eles”, salienta o compositor e diretor.
A preocupação com os estudos dos componentes é um fator primordial na política empreendida pelos dirigentes. “Os meninos têm de nos mostrar os boletins, as notas, para que possamos acompanhar o desempenho no colégio. A participação no desfile é condicionada por estes fatores, justamente, para que possamos cumprir a nossa função social. Célia Vianna, vice-presidente da Estrelinha, e eu deixamos isto bem claro desde o início dos ensaios”, explica Maria das Graças.
Para 2007, a escola conseguiu englobar os dois maiores pilares em um projeto de inclusão social: esporte e cultura. O enredo é “Rio 2007, esporte, amor e alegria no PAN da Estrelinha”, de autoria de Sidiney Rocha, e trata do desenvolvimento das competições esportivas ao longo da história, tendo como pano de fundo e desfecho o Pan-Americano do Rio de Janeiro.
Segundo o carnavalesco, “a Estrelinha promoverá no carnaval 2007 a manutenção da saúde, a autonomia do corpo e a expressão criativa do movimento, atuando como agente de interação e transformação social”, como deixou claro na sinopse entregue à agremiação. Ao todo, cerca de 1300 crianças, de cinco a 17 anos, participarão desta celebração de amor ao samba, ao esporte e à vida.
“O melhor de tudo é que no desfile dos meninos todos são vitoriosos”, frisa a presidente. Longe de ser um mero discurso-chavão, a fala se justifica: o julgamento da Associação das Escolas Mirins do Rio de Janeiro (AESMRJ) premia cada escola por um quesito em que se destaca, o que, inegavelmente, valoriza e estimula o trabalho dos novos foliões.
Neste cenário de pequenos passistas, intérpretes e ritmistas, Padre Miguel, portanto, continua a fazer história. E dá asas à vitalidade, à vanguarda, cultivadas e colhidas no seio da própria gente que lhe dá suporte. Através de um contínuo erguer de sua bandeira, no plantar de sua raiz, a Mocidade revela para o mundo do samba um dos segredos da eterna mocidade: renovação. |