O dia do samba em Santos

 

          Sob o patrocínio da Confederação Brasileira das Escolas de Samba, da Associação Brasileira das Escolas de Samba, da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, do Conselho Nacional de Cultura e da Ordem dos Músicos do Brasil, teve lugar de 28 de novembro á 2 de dezembro de 1962, no Rio de Janeiro, o I Congresso Nacional do Samba.
          Com o objetivo primordial de se preservar as características tradicionais do samba e de ressaltar a sua importância como música e dança, o encontro aconteceu no Palácio “Pedro Ernesto”, contando com a participação de estudiosos, pesquisadores, interpretes, compositores, dirigentes e amigos do samba, verificando-se no seu decorrer a aprovação da Carta do Samba, de autoria do folclorista e professor Edison Carneiro, que presídiu o mesmo.
          Tendo acompanhado de perto o desenrolar dos trabalhos do congresso, o então deputado Estadual Anésio Frota Aguiar apresentou na Assembléia Legislativa, o projeto de lei n° 681, de 19 de novembro de 1962, instituindo o dia 2 de dezembro como data consagrada ao samba, através do seguinte parecer.
          “O Samba, segundo consta, teve suas remotas origens no Continente africano e para o Brasil foi trazido, ainda em estado embrionário, pelos escravos que traduziram nos seus ritmos, um tanto dolente, a saudade e a nostalgia que os assediavam. Em face da sua natural evolução a nossa musica popular foi tomando a sua verdadeira fisionomia, sofrendo, como é obvio, sucessivas modificações, através dos anos, para torna-se, em nossos dias, aquela musica alegre, agradável e, sobretudo, contagiante. Os nossos músicos e poetas expressam com felicidade e singeleza pelo Samba, verdadeiros sentimentos do povo brasileiro que, por seu turno, ouvindo-o e cantando, da completa vazão aquele prazer sadio e o faz de modo especial por ocasião dos festejos de Momo”.
          “Assim a instituição do Dia do Samba é, com efeito, uma justiça que se impõe como homenagem aos seus compositores, aos próprios brasileiros e á Musica Popular de nosso país, a qual encontra no Samba a sua expressão máxima”.
          Todavia, o projeto de lei do deputado Frota Aguiar acabou sendo rejeitado e mesmo assim durante o II Congresso Nacional do Samba, em 1963, foi recomendado que o Dia do Samba fosse comemorado condignamente, de acordo com o boletim expedido, que dizia textualmente: “Nas escolas de samba na Guanabara e nos redutos principais do Samba, nessa data, o samba será festejado com os repicar dos tamborins com o roncar das cuícas e com uma alvorada de 21 batidas no surdo”.
          “O tão esperado Dia do Samba, também será comemorado pelas emissoras de rádio que apresentarão programas, com gravações da nossa consagrada musica popular”.
          “O dia 2 de dezembro que será festejado por todos os sambistas do país, marcará no Rio de Janeiro o encerramento do II Congresso Nacional do Samba, com a entrega de títulos honoríficos a todos aqueles que se destacaram na causa do samba”.
          Foi assim que o Dia do Samba foi comemorado condignamente pela primeira vez a 2 de dezembro de 1963, não só no Rio de Janeiro, como também em Santos, pois o Estado-Maior da Escola de Samba X-9, seguindo á risca a recomendação do congresso, levou a cabo uma alvorada festiva e solene alusiva à grata efemérede.
          Apesar da comemoração extra-oficial, a luta pelo dia do samba prosseguiu na Assembléia Legislativa do Estado da Guanabara, através do Dr. Frota Aguiar, até a derrubada do veto e a conseqüente promulgação da lei n°554, de 29 de julho de 1964, que instituiu oficialmente a data consagrada ao samba.
          Sobre a escolha da data de 2 de dezembro como Dia do Samba o autor do projeto de lei assim se expressou: “A iniciativa foi do presidente da Confederação Brasileira das Escolas de Samba, Paulo da Costa Lamarão, visto que, nesta data, na época, começavam, por determinação legal, os ensaios das referidas Escolas, visando ao carnaval do ano seguinte, uma vez que, antes, eram bastante tumultuados e desordenados”.
          Dessa forma a data consagrada ao samba passou a ser comemorada na Guanabara e em todo território brasileiro como Dia Nacional do Samba, principalmente em Santos, que teve a primazia de sediar a primeira Alvorada do Samba, no antigo terreiro da legendária Tia Inês, famoso reduto xisnoveano (Quartel General do Samba), que ficava na rua Almirante Tamandaré, 94, na Bacia do Macuco.
          Desde aquele memorável 2 de dezembro de 1963, o Dia do Samba passou a ser festejado em Santos, com a marcante presença de grandes personalidades do mundo do samba do Rio de Janeiro, dentre os quais: Cartola e Tia Zica da Mangueira, Mano Décio da Viola e Mestre Fuleiro do Império Serrano; Moacyr Lord, Jorge Cardoso e Alberto Caetano da Academia do Salgueiro; Renato Ferreira da Silva e Mestre André, da Mocidade Independente; Xangô e Mano, da Mangueira; Armando Passos e Natal da Portela, Amaury Jório e Ivan Araújo, da Imperatriz Leopoldinense; Romário Melo de Castro, da Mocidade Independente; Geraldo Gomes, da Unidos de Lucas, Jose Severino, da Em Cima da Hora e Adeilton Alves (Filho do Mestre Ataulfo Alves). E mais: Paulo da Costa Lamarão (Presidente da CBES), Jose Calazans (Presidente da AESG), João Paiva “Rei do Samba”, Edison Carneiro (Etinólogo e Folclorista), Salvador Batista (Marechal do Samba), Tião do Salgueiro “Cidadão Samba 1967”, Jorge Peçanha “Cidadão Samba 1969”, Silvinho da Portela “Cidadão Samba 1970”, Jorginho do Império “Cidadão Samba 1971” e Martinho da Vila, alem dos jornalistas Antonio Lemos, Valdynar Ranulpho e outros.
          Inúmeros sambistas de São Paulo também prestigiaram o Dia do Samba em Santos, desde 1963: Germano Matias, Trio Pagão, Jorge Costa, Tia Eunice (ES Lavapés), Nenê da Vila Matilde, Carlão e B. Lobo (Unidos do Peruche), Geraldo Filme, Silval Rosa (Império do Cambuci), Mala (Acadêmico do Tatuapé). Juarez da Cruz (Mocidade Alegre) e outros.
          Convém lembrar que das comemorações do Dia do Samba em Santos resultaram dois Simpósios do Samba (1966/67), com a chancela do antigo Conselho Municipal de Turismo e três Festivais de Samba (1970/72/80), sob os auspícios da Secretaria de Turismo. Tais eventos contaram com a presença de agremiações do Rio de Janeiro e de São Paulo passando assim, a figurar oficialmente no calendário da cidade de Santos, como Dia Nacional do Samba.
          O Dia do Samba de 1981 comemorado na quadra Tia Inês da X-9 contou com a honrosa presença do ex-deputado Anésio Frota Aguiar acompanhado pelo Cidadão Samba do Rio de Janeiro, Manoel Soares da Silva Filho (Mano da Mangueira), que foram homenageados pela Pioneira. Alem da X-9, outras Escolas locais também passaram a comemorar o dia consagrado ao samba: Brasil, Império do Samba, Mocidade Independente Padre Paulo e União Imperial.
          Pela brilhante participação nas comemorações do Dia do Samba em Santos reverenciamos as inesquecíveis Tias Euclidia e Lydioneta. Inês e Euvira (Império) e Isaurinha (Brasil); Cabo Roque (X-9), cabo Brilhantina (Império), cabo Olívio (Brasil) e cabo Carlinhos (X-9); Derosse de Oliveira “Cidadão Samba -67”, Esmeraldo Tarquínio Campos Filho, alem dos cronistas: Olao Rodrigues, Antonio Nunes, Oswaldo Figueiredo, Antonio Samarco, José Alves de Moura e Jorge dos Santos.
          Após 20 anos de comemorações consecutivas, a data consagrada ao samba, que tivemos a primazia de introduzir na Baixada Santista, em 1963, foi oficializada pela Câmara Municipal de Santos, por iniciativa do sambista Luiz Octavio de Brito (Sambão), através do vereador Adelino Rodrigues, em sessão de 22 de novembro de 1983, cuja a Lei n° 4.581 foi sancionada e promulgada no dia 2 de dezembro daquele mesmo ano, pelo prefeito Paulo Gomes Barbosa.
          Assim é que, de acordo com a aludida lei, foi instituído o Dia Municipal do Samba, que passou a ser festejado oficialmente a partir de então.
          Hoje, passados quarenta e quatro anos da primeira comemoração, o mundo do samba santista encontra-se em festa para comemorar este grandioso acontecimento, contando com o valioso apoio do prefeito municipal João Paulo Tavares Papa, que vem se destacando como um dos grandes incentivadores do samba e do tradicional carnaval santista.

J. Muniz Jr.
(Jornalista e estudioso da MPB [Introdutor do Dia do Samba em Santos])

 

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