G.R.E.S.Unidos da Tijuca
Ouvindo tudo que vejo, vou vendo tudo que ouço

 

O Enredo no Samba: Estrutura discursiva

          A Unidos da Tijuca tem como enredo a música e os sentimentos que ela nos desperta. Um enredo criativo, desenvolvido na sinopse de forma clara e simples. O carnavalesco dividiu os setores temáticos do enredo em sete atos de uma ópera que serão apresentados por Mozart, um dos maiores gênios da música universal.
          Os compositores conseguiram com muita sabedoria reunir as principais informações em frases repletas de imagens que remetem ao tema abordado, por isso podemos identificar todos os fatos do enredo ao longo da letra do samba, o que facilitará o entendimento do mesmo durante o desfile.

O Samba no Enredo: Estrutura lingüística

          O samba inicia-se com a proposição épica, em que se anuncia o tema a ser cantado pela agremiação: “Minha Tijuca / abre os olhos para a melodia”
          Depois apresenta sutilmente seu ilustre convidado, Mozart, que apresentará o tema do qual é especialista: “Para ouvir a genial batuta / regendo nossa sinfonia”
          A partir daí, aparecem, seqüencialmente, os sete atos em que foi dividido o enredo, a saber:

  • 1o. ato: “Joga serpentina em versos e rimas” = a música carnavalesca.

  • 2o. ato: “É a pura cadência brasileira / esse requebrado que fascina” = o samba.

  • 3o. ato: “Suspense eternizado / na tela, um beijo apaixonado / o filme que passa em minha mente” = trilha sonora de filmes.

  • 4o. ato: “Chega a emocionar / ver a platéia delirar” = a música dos festivais.

  • 5o. ato: “Vendo o artista na consagração” = os ídolos musicais criados pelos meios de comunicação.

  • 6o. ato: “Piscam luzes coloridas / a noite pra dançar convida” = a música da discoteca e o roque.

  • 7o. ato: “Ouvindo o que vejo, vendo o que ouço / na ópera do carnaval” = o carnaval das escolas de samba, a grande ópera de rua.

          Das figuras de linguagem, predomina no samba a prosopopéia ou personificação, em que se atribui características e ações humanas a seres inanimados, conforme os seguintes exemplos:

“Minha Tijuca / abre os olhos para a melodia”
“Vê a poesia brincar no salão”
“A noite pra dançar convida”

          Isso ocorre porque o tema da escola é abstrato, perceptível apenas pela audição, mas que ganhará forma e representação, ou seja, a música será resgatada pela nossa visão durante o desfile da agremiação.
          Com o emprego de verbos no tempo presente (abre, vê, joga, é, fascina, ecoa, passa, ganha, chega, vibra, piscam, traz, faço, vejo, ouço, faz), no gerúndio (regendo, seguindo, vivendo, vendo, ouvindo) e no infinitivo (ouvir, brincar, emocionar, ver, delirar, dançar), os compositores conseguiram imprimir ao texto uma certa duração das ações apresentadas que poderão ser visualizadas durante o desfile.

Julio Cesar Farias
Julio é professor, escritor, pesquisador da linguagem na cultura popular, colaborador do Centro de Memórias do Carnaval da LIESA e membro do conselho Consultivo do Instituto do Carnaval da Universidade Estácio de Sá.

 

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