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A Cris Moura diz que arte contemporânea não é alegoria de escola de samba.
Sim, mas e o que é uma alegoria de escola de samba? Se a Cris Moura fosse jurada na década de 1960, quando os artistas do Salgueiro revolucionaram a estética do carnaval, ela escreveria a mesma justificativa e argumentaria que a verdadeira alegoria de escola de samba é o caramanchão. O que diria a Cris Moura, então, vendo que o Pamplona havia colocado negros fantasiados de escravos na avenida? Diria, claro, que aquilo não era fantasia carnavalesca.
Se dependesse dela, o barroco e o rococó, jamais teria existido no carnaval. Ela não compreende, por exemplo, que a grande virtudes das escolas de samba está no fato dela incorporar e re-elaborar à sua forma as mais diversas linguagens. Qual o problema dos artistas do carnaval realizarem uma leitura própria da arte contemporânea, adaptando-a ao seu espetáculo?
Este é o ponto que os críticos do Paulo Barros, incluindo a Cris Moura, não querem compreender. Ele oferece uma nova linguagem, tanto em termos de fantasia quanto em alegorias. Depois de tanto tempo, finalmente uma nova forma de expressão carnavalesca. Já estava em tempo, pois realmente tudo estava muito chato.
Num carnaval em que toda novidade, nos últimos anos, foi vazia de significados e consistência, como os astronautas e batidas funk, finalmente uma transformação nas estruturas da concepção artística do espetáculo.
Os conservadores correm o risco de comer a poeira da história. Ao comparar a obra do Paulo Barros, especialmente a alegoria do Fuscão Preto, uma das mais criativas e bonitas que passaram pela avenida, à arte contemporânea, a própria Cris Moura, mesmo tentando criticar, mostrou que, ao contrário do que dizem os críticos, as alegorias do Paulo Barros não são apenas um poleiro cheio de gente fazendo coreografia. As alegorias do Paulo Barros possuem uma linguagem própria e uma concepção artística apurada. Doa a quem doer. |