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O samba-enredo:
Um grito ecoa no ar (Homem/Natureza – o perfeito equilíbrio)
(Marcão, Marcelo Ramos e João Bosco)
Meu grito ecoa pelo ar
Faço um alerta ao mundo
O homem com a sua ambição
Trouxe a tecnologia
Fez mal uso da razão
De mãos dadas com a ganância
Tem tudo que lhe deu o criador
De graça com amor
No seu futuro vai semear a dor
No meu verde das matas tem magia
Equilíbrio perfeito que irradia
As minhas águas cristalinas
São poluídas no seu dia a dia
Choro com essa tal evolução
Ressentida estou
Ao ver minha devastação
O homem com a sua sapiência
Transformou tudo em Ciência
Maltratando a minha natureza
É muito lixo jogado aos ventos
Usou o átomo sem consciência
Causou tristeza, degradação
Coloca em risco toda civilização
Enfim num grande gesto de amor
Já tem gente a refletir
E por mim vive a lutar
Um fio de esperança a reluzir
Basta reciclar os seus conceitos
Na reforma ser perfeito
Produzir sem maltratar
Sou a Mãe-Terra
Só o amor vai me salvar
Clamando numa só voz, vem meu Império
A gente tem que pensar, é caso sério
Pra natureza sorrir, o homem tem que mudar
E aprender a preservar
O Enredo no Samba: Estrutura discursiva
A Império Serrano segue a tendência dos enredos politicamente corretos ao tratar da destruição do planeta pelo homem, clamando por providências imediatas. A exposição do enredo na sinopse foi feita de forma detalhada num texto, no mínimo, exemplar.
Os compositores do hino imperiano acertadamente preferiram dar voz ao nosso planeta, a Mãe-Terra, para que seu grito de conscientização da humanidade para ter atitudes antidestrutivas ecoe na Sapucaí. Para isso, há denúncia de maus tratos à natureza em nome do progresso e uma profunda reflexão em busca do equilíbrio do homem com a Ecologia.
Um samba prosopopéico, em que se dá vida a um ser inanimado, com a intenção de humanizá-lo, para enfatizar seu sofrimento causado pelo homem moderno. E o longa letra deste belíssimo samba é reflexo da duração, no tom certo, desse grito que tem tudo para ser ouvido por aqueles que não cuidam da natureza e do mundo em que vivem. E as ONGs que há muito lutam sozinhas ganham agora uma parceria de peso no carnaval, amplificando o grito a favor de um futuro melhor.
O Samba no Enredo: Estrutura lingüística
Da epopéia clássica este samba contém a proposição, ou seja, a enunciação do que é exaltado. Normalmente a proposição aparece no início do texto, contudo optou-se por essa identificação no final do samba: “Sou a Mãe-Terra”.
Para isso, os compositores utilizaram-se da 1a. pessoa do singular para dar voz e vida ao planeta e apenas no final da composição ele se apresentar. Este recurso do emprego da 1a. pessoa do singular constitui fator discursivo importantíssimo neste samba-enredo-denúncia, na medida em que ao ser cantado, ele faz com que a pessoa assuma o papel do planeta e sinta tudo o que está sendo reclamado na própria pele. Este expediente certamente toca mais fundo na consciência dos cantantes.
Há predominância do uso do tempo presente nos verbos com dupla função expressiva: inserir na narração quem canta o samba e mostrar que as ações destrutivas estão acontecendo a todo instante. O tempo presente, neste caso, indica ação duradoura, mesmo que se refira a fatos passados.
A cadência melódica dos versos é constituída por rimas simples e pelo uso intensivo de termos preposicionados, formando assim uma linha rítmica peculiar.
Rimas |
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Termos preposicionados |
“Tem tudo que lhe deu o criador |
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“O homem com sua ambição” |
De graça com amor |
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“De mãos dadas com a ganância” |
No seu futuro vai semear a dor” |
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“De graça com amor” |
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“O homem com a sua sapiência” |
“Causou tristeza, degradação |
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“Transforma tudo em Ciência” |
Coloca em risco toda civilização” |
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“Usou o átomo sem consciência” |
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“Enfim num gesto de amor” |
A preferência pelos termos preposicionados no lugar dos adjetivos equivalentes está justamente na constituição da rima e do ritmo dos versos, o que confere ao samba-enredo uma identidade melódica única. Além disso, o emprego de substantivos abstratos (ambição, ganância, amor, sapiência, dor, degradação, dentre outros) realça o tom emocional do texto, com o propósito de tocar mais fundo o coração e a consciência das pessoas.
Enfim, um samba bastante didático, rico em conteúdo que poderá ilustrar muitas aulas de Ciências, pois há uma gama de informações sintetizadas nesse oportuno monólogo de alerta.
Bibliografia:
- “Enredos – Rio Carnaval 2005” , da LIESA.
- “Palavras de Purpurina”, Raquel Valença, UFF.
- “Para Tudo Não Se Acabar Na Quarta-Feira – A Linguagem do Samba-Enredo” – Julio Cesar Farias.
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