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Em
2001, este Observatório publicou um artigo meu ["Globo
na Sapucaí: Silvio Santos sacudiu" (remissão abaixo)] que analisava
a transmissão do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro daquele
ano pela Rede Globo. Assistindo ao evento de 2005, constato que pouca
coisa evoluiu e ainda há problemas evidentes para quem se aventura a virar
a noite diante da TV no fim de semana do carnaval.
A maior crítica à cobertura da Globo é o modelo da
transmissão. Os locutores Cléber Machado e Maria Beltrão – que, justiça
seja feita, conseguem ser espontâneos e se esforçam em passar as notícias
obtidas na apuração realizada semanas antes do desfile – só informam as
alas, as fantasias e os carros alegóricos quando a escola chega a um determinado
ponto da Marquês de Sapucaí, o que leva cerca de meia hora. Até lá, as
imagens se repetem: comissão de frente, carro abre-alas e o início do
desfile não cansam de ser mostrados pelas câmeras. Por maior que seja
a empolgação do telespectador, isso enfastia. Ainda mais às 3 da manhã.
Não seria melhor começar a transmissão das informações
logo no início do desfile? Assim, quando o último folião atravessasse
o portão de entrada da Marquês de Sapucaí, as explicações já foram dadas
pelos locutores e os comentaristas, muito bons, mas que hoje só podem
falar quando convocados, poderiam entrar em cena e dar suas opiniões e
debater a participação da escola, que ainda teria uns 20 minutos para
encerrar sua passagem na avenida. Ainda sobraria tempo para as reportagens
na dispersão e na concentração da escola seguinte. E, para solucionar
um problema recorrente da transmissão global (já citado no artigo de 2001),
os locutores ainda poderiam ficar em silêncio durante o "esquenta"
da bateria, momento precedente ao desfile em que o puxador canta algum
samba antigo para animar a platéia.
Sugestões para 2006
A emissora também vacilou
em questões técnicas. Várias vezes os narradores comentavam uma ala que
não era a mesma focalizada no vídeo. As correções foram freqüentes. Pareceu
falta de treino e/ou de coordenação.
Na apuração das notas, na Quarta-Feira de Cinzas,
a cobertura foi correta, mas o locutor Márcio Gomes e o comentarista Haroldo
Costa, embora preocupados em transmitir a aflição e o nervosismo na leitura
da última nota, quando a Beija-Flor já estava a um décimo da Unidos da
Tijuca, não informaram um detalhe que aumentava dramaticamente a carga
emocional daquele instante: se, naquela nota, a escola tijucana empatasse
com a agremiação de Nilópolis, o título iria para a Unidos da Tijuca pelos
critérios de desempate. Ficou a impressão de que a igualdade de pontos
confundiria tanto o público quanto a própria Globo. O 10 da Beija-Flor
foi oportuno e acabou facilitando as coisas.
Vale registrar que, de toda a cobertura, destacaram-se
dois repórteres. Um foi Edmilson Ávila, que buscou conversar, de forma
bem-humorada sem ser boboca, com espectadores que assistem ao desfile
fora da avenida, como na arquibancada popular montada em frente à concentração,
no viaduto ao lado e até nas árvores próximas à Sapucaí. A outra repórter
que fez um bom trabalho foi Mônica Sanches. Ela entrevistava, na Praça
da Apoteose, não apenas as celebridades, mas também personagens importantes
das escolas que acabavam de desfilar, como membros da comissão de frente,
ritmistas, diretores e coreógrafos. Os dois bons exemplos mostram que
a Globo tem material humano competente para fazer uma transmissão do desfile
bem mais informativa, atraente e emocionante. Ficam as sugestões para
2006.
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