Samba’schools

 
            Acabou. Estou falando das Escolas de Samba. Sempre fui Mangueira, mas este ano torci pelo Império Serrano, que foi na contramão no Sambódromo. Ou seja, foi a única que ousou desfilar, kamikaze, como uma escola de samba. Como a Mangueira de antanho. E se ferrou de verde e amarelo ou, melhor dizendo, de verde e branco. Das brumas do passado (perdão, leitores), ressurge a suprema dignidade dos cabelos prateados do Nelson Cavaquinho e do nariz férreo do Cartola na comissão de frente da Estação Primeira, que os anos não trazem mais. Acabou. A Adeg (também acabou) informa: saem as Escolas de Samba, entram as Escolas de Balé. Sem dúvida belíssimas, coisa de primeiro mundo, dão de goleada no Cirque de Soleil.
            Já que a patuléia não tem acesso ao espetáculo, e bota espetáculo nisso, sugiro que seja exportado para o primeiro mundo. Já pensou que deslumbramento seria a Beija-Flor (Kiss-Flower) desfilando em Nova Iorque, na Quinta Avenida? Ou a União da Ilha (United Island) em Paris, com seus carros alegóricos ofuscando o Arco do Triunfo, hem? A idéia teria, sem dúvida, a aprovação do FMI e do Palocci porque contribuiria para amortizar a dívida externa.
            Antes que alguém pergunte o que fazer do Sambódromo: seria entregue ao povo, numa reedição tropical da queda da Bastilha. Na passarela, onde evoluíam as suntuosas escolas do primeiro grupo, blocos de sujo se esbaldariam de graça até o sol raiar. Nos camarotes, quiosques de churrasquinho de gato, x-tudo, sacanagem (espetinho de pimentão, picles e salsicha), frango marítimo, empadinha, pastel e o escambau. E muita cachaça e cerveja no isopor. Aposto que meu amigo Oscar Niemeyer, comuna de carteirinha, adoraria.

Jaguar
Publicado originalmente no Jornal O Dia em 03 de março de 2004
(Jaguar é cartunista, humorista e boêmio, escreve no jornal às quartas
)

 

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