Pra onde vão os sambas-enredo

 

          Mestre Nelson Sargento discute em artigo a transformações dos ritmos nacionais, do Carnaval e pergunta: pra onde vão os sambas-enredo?

          Na música popular brasileira, tem vários ritmos: jongo, caxambu, côco, embolada, calango, baião, samba de roda, lundum, ciranda, choro, samba, e talvez outros tantos perdidos no agreste desse imenso Brasil.
          Mas a criatividade musical vai modificando alguns ritmos, exemplo; o vitorioso baião, foi sufocado pelo forró. No côco, temos a valente Selma do Côco, lutando para mantê-lo vivo. O jongo tem o pessoal da Serrinha, lutando para que não seja extinto e preservar a memória do bravo e saudoso Darci do Jongo, que lutou muito pelo gênero.
Caxambu, lundum, calango, embolada, ciranda, não se ouve mais, e talvez poucas pessoas se lembrem desses ritmos.
          O choro, música tradicional instrumental, ganhou letra, muitos choros famosos sofreram esta invasão. Houve um período em que se compôs vários sambas-choro, eram letras que recebiam melodia com ritmo de choro, eram cantadas e não tinha execução instrumental.
          Ao samba foram acoplando as seguintes preciosidades: samba (pagode, rock, reggae, pop, hip hop, rap, enredo).
          No momento atual o samba é tratado nas escolas de samba como peça importante com o pomposo nome de Samba-Enredo.
          Vivemos em um país de plena democracia, quando as escolas de samba abriram as portas, para qualquer cidadão compor samba-enredo, mesmo sem pertencer a escola, esta praticando um ato democrático, o que aconteceu com esta atitude? Pessoas que jamais rimaram, água com mágoa, começaram a compor samba-enredo. É claro que aparecem sambas bons de um qualquer ilustre desconhecido, que depois não se houve mais falar no cidadão.
          Acontece que por causa desta abertura nas escolas, estão se perdendo anualmente centenas e centenas de sambas-enredo, por exemplo, no grupo especial são quatorze escolas, vamos calcular que uma pela outra de trinta sambas por escola, dá um total de quatrocentos e noventa sambas, porém só quatorze serão utilizados durante o desfile, sobrando quatrocentos e setenta e seis sambas-enredo. Para onde vão estas criações litero-musicais, para onde? Sem contar que nos grupos de acesso um, dois e três, onde vários sambas são apresentados para ser escolhido um por escola, devem sobrar mais de mil sambas ou mais. Que desperdício! É um despautério.

Nelson Sargento
(Publicado originalmente no site Samba e choro em 30/10/2003 )

 

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