Carta aberta a Paulinho da Viola

 
Prezado Paulinho da Viola
          Paz, muita paz nos seus 60 anos comemorados neste 12 de novembro!
          Quando falo em paz é porque os sessenta trazem certa inquietação à alma. E como você é um ícone da paz, você que no-la deu até aqui em sua obra que é "um rio que passou em nossas vidas", aceite-a agora para você. Você para quem jamais haverá um "sinal fechado" no coração dos brasileiros. Você: que proposta, harmonia, elegância!
          Saber, você sabe, mas preciso que aprofunde a certeza de sua importância para a música popular brasileira. Se a sua maravilhosa e luminosa humildade o retira do foco das luzes vãs do sucesso aparente, a qualidade do seu trabalho enraíza-se na história de nosso samba urbano. E para sempre de modo gradativo e crescente. Você de Minhas Madrugadas; do Arvoredo; do Jurar com Lágrimas; do Coisas do Mundo, Minha Nega; do Sei Lá Mangueira; do Sol e Pedra; da Dança da Solidão; do Coração Leviano; do Choro Negro; do Bêbado Samba; do Tímido e a Manequim; tantas outras, a Portela... você é bamba, Paulinho. Conseguiu evoluir sem se afastar das raízes do samba, segredo que eu acho pertencer também a alguns de seus parceiros, como o Candeia, o Hermínio e o Elton Medeiros.
          Por falar no Elton, e para que os 60 anos não lhe tragam os t(r)emores naturais da idade, o Elton anda fagueiro e galante nos seus 71 anos, com cara de 58, o danado! Bem como seu pai, Paulinho, o César Faria, sublime figura e músico maior, que vai fazer 84 em fevereiro do ano que vem e é um dos maiores violões de todos os tempos. Você está, portanto, cercado de "longevos" que deveriam ser chamados de "lonjovens", palavra que invento neste momento para homenageá-los. Entre nos sessenta com a serenidade que o faz um mestre.
          Parabéns, Paulinho. Você é um grande amigo a quem nunca conheci pessoalmente. Fico cá de longe a intuir a sua beleza interior, a sua sabedoria, a sua contenção e sobriedade. E a apreciar - como brasileiro - o valor de sua luta, sem discursos e sem bazófia, mas genuína e valente, pelo que ainda resta de brasileiro na música pródiga e maravilhosa deste País ingênuo e original. Parabéns deste seu velho desconhecido, mas grande amigo Artur da Távola.

Arthur da Távola
(Publicado originalmente no Jornal O Dia em 12 de novembro de 2002)

 

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