Batista
rima com sambista. Lembro-me sempre de Wilson Batista em julho porque
neste mês ele, crônica viva do Rio de Janeiro, nasceu na cidade de Campos
a 3 de julho de 1913 e morreu no Rio a 7 de julho de 1968, logo depois
de fazer 55 anos. A obra de Wilson incorpora todos os elementos da malandragem
carioca mesmo sem haver nascido no Rio, embora para cá tenha vindo rapazote.
No Rio, Wilson Batista conseguiu emprego de acendedor de lampiões a gás, da Light. Logo, porém, enturmou-se com o pessoal dos cabarés e a partir daí freqüentou uma grande escola de malandragem e boêmia da noite carioca, a Lapa, cujo auge conheceu, período que vai da década de 20 a fins da década de 40, exatamente o que correspondeu dos 18 aos 40 anos de Wilson Batista. Durante muitos anos foi protagonista de composições cantadas por todo o povo, sem, porém, significativa repercussão nos meios intelectuais. Estes de certa forma até antipatizaram com o mulato da Lapa por haver ousado estabelecer polêmica com o genial Noel Rosa. E em vida, teve mesmo é que lutar. Quando morreu não sonhava ter a repercussão que lhe chegou depois. Apenas a partir da década de 70 alguns estudiosos da música popular começaram a levantar a necessidade de recuperação e de reconhecimento do trabalho notável de Wilson Batista. Ele pertence à linha dos talentos naturais espontâneos e autodidatas da música popular brasileira. São criadores atilados e exuberantes, oriundos dos setores pobres da cidade, asfalto ou morro, capazes de notável percepção dos fenômenos populares. Aliás Wilson compunha com facilidade. A mesma com a qual, na hora do aperto, vendia seus sambas ou dava parceria em troca de algum... talento, viração e sabor de povão. É um tipo de samba que muitos chamam de asfalto, outros de malandrinho e eu prefiro usar a forma de gíria da palavra esperto. Sim, é o samba esperto. Essa esperteza representa um dos aspectos mais vivos da malandragem carioca, entendida aqui não como sinônimo de marginalidade ou delinqüência, mas de capacidade de viver no sistema sem ceder às suas regras ou ceder só para driblá-lo. Grande Wilson Batista! Em julho e sempre há que saudar seu talento. |
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Arthur
da Távola |
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