Carnaval, ópera de rua

 

          Na qualidade de presidente de uma associação, que fez do intercâmbio de informações e experiências empresariais a sua grande missão,  tivemos o prazer de integrar uma Diretoria que promoveu um expressivo número de eventos sobre excelência organizacional.
          Japão, Argentina, Uruguai, Bolívia e Colômbia se fizeram representar nessas promoções e, do nosso país, contamos com profissionais de todos os escalões hierárquicos e dirigentes da mais variadas entidades. Das várias esferas governamentais, recebemos diversas autoridades, inclusive  dois Ministros de Estado.
          Um desses seminários, cujo tema era - Motivação e Criatividade -, ficou marcado de maneira indelével pela genialidade do seu apresentador – o consagrado carnavalesco Joãozinho Trinta.
          A ginga do passista e a magia do futebolista brasileiro são embaixatrizes da cultura de um povo, que fez da sua incorrigível alegria o reluzente brilho da Marca Brazil.
          Da riquíssima diversidade das formas de expressão do carnaval – fantástica ópera de rua - nosso enfoque vai para as escolas de samba, cujo pioneirismo pertence a “Deixa Falar” fundada em 1928, pelos sambistas: Ismael Silva, Bide, Brancura, entre outros.
          Do Criador à criatura, da pobreza à riqueza,  da tradição à inovação,da flora à fauna, da história à geografia e da antiguidade à atualidade, surgem temas que se transformam em  samba-enredo – espinha dorsal do desfile – gerador do maior espetáculo de artes ao ar livre do planeta azul.
          A análise gerencial, do cotidiano das escolas de samba, revela a aplicação de conceitos de consagrados especialistas mundiais,  em gestão da excelência, como por exemplo o PDCA de Deming, a adequação de uso com satisfação do cliente de Juran, as equipes de trabalho de Ishikawa, a filosofia de Crosby, e os sábios ensinamentos de Peter Drucker.
          A empregabilidade, habilidade eclética do profissional moderno, também desfila nas avenidas deste país continente, pois os foliões sabem sambar, cantar, fazer  evoluções e interpretar o personagem que representam no contexto.
          Motivada, a galera se levanta, estufa o peito e solta o tão aguardado grito de...é Campeã!!!...é Campeã!!!...é Campeã!!!
          Por alguns instantes o sonho da igualdade universal acontece no verso do poeta, no som inconfundível do tamborim, no largo sorriso das passistas, na mistura das raças, credos, hierarquias, profissões e classes sociais.
          Nessa hora a emoção fala mais alto e a adrenalina vai a mil, pois é o reconhecimento, e a valorização, do árduo trabalho de milhares de pessoas – a grande maioria anônima – que durante o ano todo se desdobra nas tarefas do barracão, na confecção das fantasias e das alegorias  e participa dos ensaios na quadra.
          Colocar na passarela milhares de sambistas, com perfeita noção de tempo e de espaço e gerenciar o escasso orçamento da agremiação requer, sem dúvida alguma, muita criatividade para provocar efeitos especiais de baixo custo.
          Deve haver muita harmonia entre o planejamento estratégico e o “jogo de cintura” dos dirigentes, para lidar com pessoas de características tão diversificadas.
          Da leveza das evoluções da  porta-bandeira à agressividade das batidas nos surdos, podemos assistir a uma aula singular de MBA (Master of Business Administration) que, simbolicamente,  podemos traduzir por - doutoramento tupiniquim.
          Para que as organizações de todos os portes e segmentos, possam agregar valores com o estilo interativo das escolas de samba, basta que seus executivos dêem oportunidades (iguais) para o funcionário possa revelar e desenvolver todo seu potencial empreendedor.
          Sendo o carnaval brasileiro, através de suas mais variadas expressões regionais, a nossa mais internacionalizada manifestação cultural,  encerramos com o seguinte alerta: vamos explorar o turismo, não o turista.

Faustino Vicente
Advogado, Professor e Consultor de Empresas e de Órgãos Públicos

 

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