Os critérios de escolha do júri

 

          Escrevo este post para responder a Carlos Eduardo da Silva, de Floripa, que pede esclarecimentos sobre a escolha dos jurados. Carlos, esta é uma atribuição exclusiva do presidente da Liesa, Aílton Guimarães Jorge. Ele é o único responsável por colocar ou tirar alguém do júri, e tem seus próprios critérios para isso. Guimarães costuma dizer que ninguém lê mais os mapas de apuração do que ele. Ou seja, depois de cada carnaval, ele avalia minuciosamente as notas e justificativas dos jurados, para comparar com o que ele e sua equipe viram na Avenida. A partir daí, se definem as trocas dos julgadores para o ano seguinte.
          A idéia primordial de um júri de desfile de escola de samba deveria ser reunir pessoas de diferentes áreas e formações, para que o julgamento se aproxime ao máximo da visão do público. Assim, para julgar alegorias ou fantasias, por exemplo, não é interessante ter apenas profissionais formados na Escola de Belas Artes ou figurinistas e cenógrafos renomados. O ideal é que entre os nomes haja, por exemplo, uma costureira que entenda de carnaval, que vai dar sua opinião com outra visão, diferente da dos "graduados". Afinal, com o público também é assim: temos pessoas de todas as áreas.
          Isso explica, por exemplo, o fato de o jogador Sócrates, na década de 80, ter julgado bateria, se lembram? Isso gerou muita polêmica na época, mas quem disse que apenas maestros devem julgar este quesito? O que deve ser discutido é se o escolhido entende (não apenas tecnicamente, mas de uma forma geral) do assunto. Este ano, temos um jurado de conjunto, Roberto Horcades, que é médico (além de presidente do Fluminense). Ora, que formação deveria se exigir de um jurado de conjunto? Apenas que ele tenha uma noção boa do que é um desfile de escola de samba e, a partir daí, consiga julgar os diferentes conjuntos que passem a sua frente.
          Há dois anos, fiz uma reportagem para o EXTRA em que citava as principais recomendações da Liesa aos julgadores, nos encontros que eles fazem às vésperas do carnaval. Podemos discutir se elas são válidas ou não. Seguem aí os principais pontos:

  • Valorizar a alegria e a espontaneidade: Carnaval é a festa da alegria e os componentes têm que estar nesse clima. Os jurados devem punir o excesso de alas de passo marcado e as manifestações fúnebres dos desfiles.

  • Premiar enredos de relevância cultural: Além de avaliar se os enredos são bem desenvolvidos, os julgadores de enredo devem avaliar se os temas têm relevância cultural. A história do guarda-chuva, por exemplo, que já foi contada na Sapucaí, não é um enredo que mereça ser bem avaliado.

  • Não punir em excesso: Com notas entre 7 e 10, dar uma nota como 7.5, só no caso de a escola não apresentar o quesito. Uma nota dessa tira a escola da disputa e causa desequilíbrio no julgamento.

  • Valorizar a ousadia e a criatividade: É a principal bandeira da Liga nos últimos anos. Os jurados devem premiar as escolas que se arriscam para trazer algo novo, em detrimento das que buscam apenas o trivial. Pensando nisso, a bateria da Mangueira passou a fazer paradinhas e coreografias, o que contrariava sua tradição.

  • Valorizar a nota 10: A nota máxima é a perfeição e o júri não pode desperdiçá-la com muitas escolas. Só devem dar o 10 quando o quesito atingir a perfeição.

  • Não se influenciar por outros quesitos: Um jurado de alegorias não pode se impressionar se a escola estiver com um ótimo samba, uma bateria sensacional ou empolgando o público. O julgamento de cada quesito é independente.

  • Não julgar pelo nome da escola: Muitos jurados dão notas maiores para as escolas grandes, mesmo quando elas não merecem.

Leonardo Ferreira
(Publicado Originalmente no jornal EXTRA em 06/01/07)

 

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