G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio
Amazonas, o eldorado é aqui

 

O Enredo no Samba: Estrutura discursiva

          A construção textual do samba-enredo está pautada no didatismo, isto é, na preocupação dos compositores em apresentar, passo a passo, mesmo resumidos, todos os itens do enredo.
          A história do estado do Amazonas, contada seqüencialmente no texto claro e fluente da sinopse, de forma setorizada para facilitar o entendimento do tema no desfile, pode ser perfeitamente percebida na letra do samba, a saber:

  • Abertura:  de “Uma expedição partiu” a “Buscando o Eldorado no Brasil”

  • 1o. Setor:  de “O homem com sua ambição” a “Assim... dizimando aldeias”

  • 2o. Setor:  de “Seguiu rio abaixo até encontrar” a “Daí o nome desse rio-mar”

  • 3o. Setor: de “A lenda virou história... O mundo quis conhecer” a “E o bandeirante veio pra colonizar”

  • 4o. Setor:  de “A luta... desse povo continua sem parar” a “Levaram riquezas em nome da fé”

  • 5o. Setor:  de “O ouro e a borracha, quem é que não quer” a “E a nossa capital é internacional”

  • 6o. Setor:  de “Viva o nosso pólo industrial!!!” a “Deixem o meu Eldorado em paz!!!”

  • 7o. Setor:  de  “Sou Grande Rio... Amor! A “Teu nome do mapa... ninguém vai tirar”

          Nos últimos anos, a agremiação tem optado acertadamente por sambas descritivos de cunho didático com o propósito de facilitar a leitura do enredo tanto pelo público quanto pelos julgadores. O resultado disso são as excelentes colocações que a Escola vem obtendo.

O Samba no Enredo: Estrutura lingüística

          O refrão principal do samba traz a invocação e a proposição, elementos do discurso épico, próprios de textos de exaltação. A invocação centraliza-se na musa do compositor (“Amor!”) e a proposição, isto é, a anunciação antecipada do que se pretende abordar no samba (“Amazonas... Teu nome do mapa ninguém vai tirar”).
          O enfoque na história do estado do Amazonas, fatos acontecidos há muito tempo, impulsionaram o emprego de verbos, em sua maioria, no passado (partiu, matou, destruiu, seguiu, foram, virou, pagaram, fizeram, lutaram, veio, levaram, nasceu, aplaudiu).
          Contudo utilizaram-se também o gerúndio (buscando, dizimando) e o infinitivo (encontrar, conhecer, ver, conquistar, colonizar, parar, quer, gritar, curar, tirar) para imprimir certa duração às referidas ações. Tal expediente aproxima do tempo presente as ações totalmente concluídas, quando a Escola estiver em desfile apresentando os fatos do enredo. Por isso a apresentação de verbos no chamado presente histórico (“A luta... desse povo continua...” e “E a nossa capital é internacional”), ou seja, mostrando a ação concluída em curso no momento do canto.
          Embora se empregue a primeira pessoa do discurso (eu/nós) para inserir quem canta o samba no desfile, usou-se também o pronome possessivo de 2a. pessoa do singular (teu) no refrão para mostrar a linguagem gramatical habitual do amazonense: o emprego correto do pronome tu.
          Importante ressaltar a objetividade do texto, já que os compositores evitaram atribuir juízo de valor exagerado aos fatos com a não utilização de metáforas. O texto mostra tão somente os fatos mais marcantes da excelente explanação feita pelo carnavalesco na sinopse.
          Seguindo as temáticas de enredos politicamente corretos, a Grande Rio, ao contar a história do estado do Amazonas, profere o clamor contra a devastação e o pilhamento das riquezas naturais amazônicas (“Deixem o meu Eldorado em paz!!!”).
          A expressão coloquial “com todo gás”, empregada para enfatizar tal clamor, indica também o freqüente estado de ânimo dos componentes da Escola, que defendem com garra a agremiação na Avenida. Entretanto, numa leitura mais profunda, pode se referir também, numa espécie de homenagem, à principal atividade econômica da cidade a que a agremiação representa: a presença da mais completa refinaria da Petrobrás em Caxias, a REDUC, e também à instalação do Pólo de Gás Químico na região.
          Enfim, um samba cadenciado, de fácil memorização e com rimas simples que auxiliam o canto,  bastante apropriado para desfile.

Julio Cesar Farias
Julio é professor, escritor, pesquisador da linguagem na cultura popular, colaborador do Centro de Memórias do Carnaval da LIESA e membro do conselho Consultivo do Instituto do Carnaval da Universidade Estácio de Sá.

 

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