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Não adianta, a Globo tenta, tenta, tenta mas, definitivamente, não sabe transmitir o desfile das escolas de samba do Rio. Quem ligou a TV na segunda-feira (27/2), noite que concentrava as melhores entre as grandes baterias do Grupo Especial (Mangueira, Mocidade e Unidos da Tijuca), comprovou: a emissora não sabe transmitir o desfile do Sambódromo.
A Globo amauryjunioriza o evento. Assim como Amaury Jr. mostra um monte de novos ricos estranhíssimos, a Globo só exibe uma gente inexpressiva, insossa, provavelmente atrizinhas e galãzinhos de suas mil novelas diárias – como se toda a audiência do carnaval acompanhasse esse lixo. Até Rodrigo Santoro, interessante ator de cinema e de vida pessoal discreta, apareceu para dizer que pela primeira vez tocaria repique na bateria de uma escola! Tal "notícia" só produz um pensamento: coitada da escola... Uma gente sem ligação alguma com o samba... o que faz no carnaval? "A impressão que fica é a de que a TV cobre o carnaval da TV", disse em 2004 neste OI o professor Ivo Lucchesi [ver remissão abaixo], comentando a chuva de "globais" na transmissão. "É um sistema de retroalimentação."
De luto
Enquanto isso, Jorge Goulart, cantor de grande sucesso na era de ouro do rádio, imperiano histórico, passa invisível diante da bolha climatizada da Globo, como lembra em carta ao OI ("Hora de acabar com o monopólio") o professor Paulo Bártholo. Até melhorou um pouco a sincronia entre imagens e comentários em relação a transmissões anteriores, mas não conte com nada mais informativo.
No Rio, momentos ímpares, como a passagem da bateria da Mocidade de Padre Miguel, foram jogados no lixo – o destaque era todo para uma certa Viviane Araújo, beldade de perninhas curtas, certamente outra "atriz e modelo" global. O comentarista mangueirense Ivo Meireles tentou explicar a batida de cada instrumento, informação cultural preciosa vinda de quem entende, mas o narrador Cléber Machado mal permitiu que falasse. O que esperar do até simpático locutor, que narra samba à la Galvão Bueno? A ignorância, aliada à subserviência a um roteiro idiota e idiotizante, corta a fala do especialista. O cidadão é tão bobinho que descreve com enlevo os... efeitos especiais que a emissora enfia da tela a todo momento! Maria Augusta, num show de comentários sobre a metalinguagem presente nas alegorias da Unidos da Tijuca, mal pôde completar o pensamento. Pérolas aos porcos.
Paulo Bártholo tem inteira razão quando pede o fim do monopólio de transmissão do carnaval pela Globo. É tecnicamente, culturalmente e moralmente injustificável que esses acadêmicos da incompetência reinem sozinhos na passarela. (Talvez a emissora pudesse ir treinando mais alguns anos nos desfiles de São Paulo. Quem sabe numa década os dois aprendem a sambar e a transmitir?) Os fãs da Globo, que adoram seus BBBs, atrizinhas e galãzinhos, hão de dizer: inveja! Não, amigos. É viuvez. Os eternos viúvos das transmissões da Manchete todo ano passam o carnaval de luto. |