G.R.E.S Unidos do Porto da Pedra
Carnaval - Festa Profana

 

O samba-enredo:

Festa Profana
          (J. Brito e Bujão)

O rei mandou cair dentro da folia
Eh! Lá vou eu
O sol que brilha nessa noite vem da Ilha
Lindo sonho que é só meu

Vem, vem amor
Na poesia vem rimar sem dor
Na fantasia vem colorir que a vida
Tem mais cor
Vem na magia
Me beija nesse mar de amor
Vem, me abraça mais
Que eu quero é mais
O teu coração

Eu vou tomar um porre
De felicidade
Vou sacudir, eu vou zoar
Toda cidade

Eh! Boi Ápis
Lá no Egito, festa de Ísis
Eh! Deus Baco, bebe sem mágoa
Você pensa que esse vinho é água
É primavera na lei de Roma
A alegria é que impera
Oh! Que beleza
Máscara negra lá no baile de Veneza

Oi joga água que é de cheiro
Confete e serpentina
Lança-perfume no cangote da menina

O Enredo no Samba: Estrutura discursiva

          A Porto da Pedra, em 2005, reedita o enredo e o samba da União da Ilha do Governador, de 1989, para homenagear sua Escola madrinha.
          O samba-enredo, de cunho metalingüístico, apresenta uma síntese da história do próprio carnaval, detendo-se principalmente nos primórdios do festejo. O carnavalesco, além de seguir o caminho traçado no samba, atualizou a narrativa da sinopse até a apresentação das Escolas de Samba no Sambódromo, com um toque intimista.
          O samba é estruturado em duas partes. Na primeira parte, temos a proposição peculiar da narrativa épica: o anúncio do tema-enredo e da agremiação para o público:

“O rei mandou cair dentro da folia
Eh! Lá  vou eu
O sol que brilha nessa noite vem da Ilha
Lindo sonho que é só meu”

          No desfile atual o símbolo da agremiação, o tigre, representará o rei da alegria, citado no samba.
          Os versos seguintes mostram a ilusão do carnaval, em que o folião esquece seus problemas cotidianos para brincar e namorar. O primeiro refrão associa a festa momesca à bebida e à alegria do folião. O uso da bebida no carnaval, enquanto festa de liberação de desejos e alegrias contidos, é logo explicado na segunda parte do samba com o culto a Baco, deus do vinho.
          Na segunda parte, além da invocação épica (“E! Boi Ápis” e “E! Deus Baco”), temos um resumo preciso dos períodos marcantes da evolução do carnaval, das festas ritualísticas do Boi Ápis e da deusa Ísis, no Egito, ao Entrudo português.
          Com efeito, as palavras empregadas no refrão final sugerem não só a lambança dos foliões ao brincarem o entrudo (“Oi, joga água que é de cheiro”) mas fazem alusão aos bailes de salão e ao carnaval de rua, como as Grandes Sociedades e o Corso (“Confete e serpentina / Lança-perfume no cangote da menina”).

O Samba no Enredo: Estrutura lingüística

          O samba-enredo, da década de 80, apresenta uma linha melódica diferente das atuais composições. Há pausas bem marcadas de emissão dos versos, o que lhe confere uma cadência bem típica e que facilita o canto:

“O rei mandou / cair dentro da folia
Eh! / Lá vou eu
O sol que brilha / nessa noite vem da Ilha
Lindo sonho que é só meu”

          O samba começa em 1a. pessoa do singular para mostrar o clima de festa que toma conta do folião nesta época do ano e depois passa a ser didático, apresentando flashes da história do carnaval
          A beleza deste samba está na simplicidade de seus alegres versos e no vocabulário pouco rebuscado que retrata os elementos essenciais do tema Carnaval, como a alegria, a felicidade, o sonho, a fantasia, a magia, a brincadeira e a bebida. Signos que ficam em nossa memória afetiva quando se fala em Carnaval.
          Os coloquialismos aproximam o Carnaval ao folião, numa permanente identificação, indicando ser uma festa feita pelo povo e para o povo:

  • “Eu vou tomar um porre

  • “eu vou zoar

          Os verbos empregados no samba estão no presente, para inserir quem canta o samba no desfile e para atualizar a própria festa carnavalesca, quando se contar a história do Carnaval no momento da apresentação da agremiação e, no imperativo, para pedir a participação de todos no festejo.
          As locuções verbais além de se aproximarem da linguagem coloquial, mais próxima dos foliões, não quebram a construção melódica do samba e facilitam a pronúncia do verso, o que não aconteceria caso fosse utilizada a forma verbal equivalente:

  • “vou tomar” = tomarei

  • “vou sacudir” = sacudirei

  • “vou zoar” = zoarei

          Uma das características do samba-enredo empregada pelos compositores com muita propriedade foram as construções hiperbólicas, em que o exagero é item comum não só no desfile, mas também em sua linguagem:

  • “Me beija nesse mar de amor

  • “Eu vou tomar um porre / De felicidade

          Enfim, um samba-enredo bastante bonito, que consegue reproduzir efetivamente o clima dos festejos do Carnaval ao longo do tempo, com construções e soluções criativas, tendo em vista a quantidade de informações contidas na sinopse do enredo.

Bibliografia:

  1. “Enredos – Rio Carnaval 2004” , da LIESA.
  2. “Para Tudo Não Se Acabar Na Quarta-Feira – A Linguagem do Samba-Enredo” – Julio Cesar Farias.

Julio Cesar Farias
(Publicado em 21/11/2004)

 

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