A Fundação

 

          Segundo depoimento de Antônio Caetano para as pesquisadoras Lígia Santos e Marília T. Barboza, o primeiro bloco de Oswaldo Cruz foi fundado por Paulo da Portela e se chamava "ouro sobre azul". Não era um bloco de samba, e sim de marcha-rancho. O samba só chegaria a Oswaldo Cruz através do intercâmbio com famosos sambistas do Estácio, como Baiaco, Ismael Silva e outros, que eram trazidos por dona Benedita para as festas religiosas realizadas na casa de "seu" Napoleão, pai do lendário Natal.
          A "roça", como Oswaldo Cruz era chamada na segunda década do século XX, não demoraria para consolidar-se como um dos principais núcleos do novo ritmo carioca que surgia. Com a chegada de dona Esther Rodrigues e seu marido, casal festeiro já acostumado a brincar o carnaval, o bairro ganharia uma espécie de "centro social" da comunidade. Por sua casa, na rua Adelaide Badajoz, passaram nomes importantes da nossa música como Zé da Zilda, Pixinguinhas e outros. Gente como Candeia e Jair do Cavaquinho tiveram no quintal de dona Esther o primeiro contato com o ritmo e com a batucada que os tornariam famosos.
          As festas da região de Madureira e adjacências tinha uma peculiaridade: Era comum a presença do jongo e do Caxambu, uma vez que grande parte de seus moradores vieram de fazendas do interior do estado do Rio, São Paulo e Minas Gerais. Assim, grande parte dos primeiros sambistas da Portela tiveram no jongo uma importante fonte de inspiração, fato que não pode ser ignorado.
          Foi dona Esther quem por volta de 1922 fundou o bloco Quem fala de nós come mosca, embrião primeiro do que viria a ser no futuro a Portela. Bastante organizada e respeitada, dona Esther fez questão de legalizar o bloco e conseguir junto ao órgão responsável a licença necessária para o bloco poder se apresentar. Liderados por Galdino, um grupo de jovens fundou na mesma época o Baianinhas de Oswaldo Cruz, com o intuito de rivalizar com a turma de dona Esther. Tanto o Quem fala de nós come mosca, quanto o Baianinhas de Oswaldo Cruz, são considerados precursores diretos do G.R.E.S. Portela. De seus quadros saíram nossos primeiros sambistas e artistas.  
          Por discordarem do comportamento de Galdino a frente do Baianinhas de Oswaldo Cruz, Paulo Benjamim de Oliveira ( Paulo da Portela), Antônio Caetano e Antônio Rufino resolveram fundar outro bloco na região: O Conjunto de Oswaldo Cruz, primeiro dos vários nomes que nossa escola teria em sua trajetória.
          O entrosamento perfeito e a amizade de nossos três principais fundadores foi fundamental para o sucesso do novo bloco que surgia. Se Paulo, o primeiro presidente, sabia a importância de promover, divulgar e difundir a futura escola, Antônio Caetano, o secretário, era desenhista da imprensa naval, ou seja, era o artista que o grupo precisava. Antônio Rufino, por sua vez, era um imigrante mineiro em que todos confiavam, o tesoureiro ideal para administrar a caixinha criada para sustentar economicamente o grupo. Nos primeiros anos, os portelenses venderam doces, cigarros e emprestavam dinheiro a juros baixos para poderem desfilar.
          Coube a D. Martinha, negra africana radicada no Brasil, a graça de batizar o conjunto atendendo a um convite de Paulo (A Portela tem Nossa Senhora da Conceição como madrinha e São Sebastião como padrinho). A primeira sede foi improvisada na casa de Paulo, em um local da estrada do Portela conhecida como Barra preta. Nossos primeiros sambas surgiram sob uma famosa mangueira, eternizada anos mais tarde em uma pintura do fundador e artista Antônio Caetano.
          Em 1926, os componentes do Lá se vai nossa embaixada, bloco de uma rua próxima a estrada do Portela, se unem ao Conjunto de Oswaldo Cruz, fato que reforçou e deu ao grupo as primeiras características de escola de samba. Paulo e seus amigos chegaram a usar a licença do Quem fala de nós come mosca para se apresentar no centro da cidade.
          Nesses primeiros anos da Portela, o nome de Sérgio Hermógenes Alves, próspero comerciante Português muito conhecido na região, merece destaque pelo apoio, inclusive financeiro, que este deu ao grupo, chegando a ser diretor da escola em seus primeiros anos e constar como um de seus fundadores.

Fábio Pavão
(Publicado originalmente no site não oficial da Portela [www.gresportela.com])

 

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