Quem são os sambeiros japoneses? |
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Os sambistas japoneses, acima de tudo, adoram o Brasil. São colecionadores
de tudo que lembre o carnaval. Conhecem muito bem a MPB. No Japão,
existem livros publicados sobre o assunto. Economizam o ano inteiro para
poderem ir ao Rio no carnaval. Alguns vão para São Paulo,
outros para Manaus. Como são os desfiles no Japão? 1) Enredo Os enredos tem propostas diversas, inclusive temas do folclore brasileiro. Nesse caso, o publico fica sem entender o que o boto cor-de-rosa tem haver com a mocinha grávida. As escolas não tem o costume de mostrar temas japoneses. 2) Carnavalesco Administra o funcionamento da escola naquele ano. O que a escola vai mostrar e como vai mostrar é decidido por um grupo. 3) Samba-enredo A maioria dos compositores confundem os estilos samba e samba-enredo. Por isso, os samba-enredo acabam lançando mão de melodias melancólicas com um andamento atual. O samba-enredo parece uma balada, uma bossa nova, com a bateria tocada em cima. Eles dizem que e assim que gostam. Outros sambas são feitos por brasileiros residentes no país e tem características de samba-marcha. O andamento é mais lento que o dos atuais sambas-enredo. São poucas as escolas que fazem o samba-enredo baseado na sinopse. Alguns puxadores cantam em português, mas não entendem claramente o significado do que estão cantando. A pronúncia do português é muito difícil para eles. 4) Fantasia Cada ala pensa sua fantasia segundo o Enredo. Cada escola não chega a ter mais de 8 alas. Mas há baianas, crianças, bateria, passista e comissão de frente. Atualmente, alguma escolas vem fazendo com as comissões pensem o carnaval todo. Os adereços são raros. 5) Alegorias São duas. Um pequeno abre-alas e um maior. Parecem os carros alegóricos dos carnavais cariocas dos anos 60. 6) Harmonia Quem consegue decorar o samba-enredo canta. Quem não consegue, pronuncia a letra da forma que sabe. Mas o público, que é de japoneses, não entende. 7) Evolução Os buracos entre as alas são constantes, mas ninguém liga. Mesmo assim, o desfile é bem animado. Algumas alas recuam e se misturam nas outras. 8) Bateria São cerca de 60 peças alinhadas como parada militar. Esse alinhamento agrada os jurados. O som e bastante agudo devido o uso de náilon nos surdos. Quase não existem Terceiras. A marcação se limita a Primeiras e Segundas. As caixas batem de forma diferente dentro de um mesmo naipe. É difícil distinguir a característica de cada uma a não ser a G.R.E.S. Saúde, que toca parecido com a G.R.E.S. E.P. de Mangueira. A distribuição do número de instrumentos é bastante desequilibrada. Há sempre excesso ou falta. Fazem paradinhas. 9) Passistas As passistas usam esplendor, o que dificulta a evolução. A maioria não samba, mas faz passos que lembram o samba e meneios. O samba-no-pé segue a linha das passistas de shows. Algumas sambam somente quando estão paradas, as vezes só para trás, dificultando a evolução da escola. As japonesas confundem destaque de chão com passista. Evoluem como destaque e não como passistas. 10) Mestre-sala e porta-bandeira Os casais tem aulas com profissionais brasileiros e tentam imitar os passos profissionais. A exceção fica para o casal da G.R.E.S. Bárbaros, que desfile em escolas cariocas. 11) Cronometragem Existe. Mas as escolas desfilam praticamente uma atrás da outra. As vezes o carro de som de uma escola atrapalha o som outra. 12) A Pista de Desfile Fica em Asakusa, um bairro turístico. Faz uma curva em L para a direita, onde está a comissão julgadora. Não há necessidade de recuo de bateria. Na avenida fica localizado a entrada de um dos templos budistas mais importantes do país, o Sensoji. 13) Quesitos
São cinco. Cada um vale 20 pontos. 14) Premiação A campeã leva 20 mil dólares. A vice-campeã, 500 dólares. Existem outros prêmios como passagens, viagens, etc. A patrocinadora do evento é a Cervejaria Asahi, a líder do mercado de cerveja (tem o gosto da Antártica). 15) Comissão julgadora
A Associação Comercial convida o consulado brasileiro, empresas
aéreas e empresas patrocinadoras que indicam os jurados, nem sempre
preparados para julgar um desfile de escola de samba. Grande parte da
comissão julgadora não entende o português. Os jurados
lêem o significado do samba-enredo em japonês, mas não
sabem se a letra tem haver com o enredo. Também não conhecem
os instrumentos, nem a diferença de um samba-enredo para um samba
canção. Quando o Enredo fala do folclore brasileiro, o julgamento
torna-se mais complicado papa eles. |
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Marcello Sudoh |
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