|
Introdução:
Escolhemos
o carnaval como objeto de estudo da folkcomunicação. Ao estudarmos o carnaval
uma pergunta tornou-se para nós inevitável: qual o seu significado? O
porquê de esta festa ter um encanto tão especial a ponto de parar o País?
Como se diz popularmente, “o ano aqui no Brasil só começa realmente depois
do carnaval.” A análise acerca do significado do carnaval pode ter vários
ângulos, nós privilegiamos no presente trabalho a dimensão que diz respeito
a folkcomunicação e à identidade cultural. Acreditamos que esta análise
pode ser feita levando-se em consideração à própria história da folia,
que atinge a todos. Tivemos a oportunidade de observar o carnaval no Rio
de Janeiro, no ano de 2003, mais precisamente o carnaval na comunidade
do Morro da Mangueira em sua Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira.
Presenciamos as várias manifestações ali apresentadas, os preparativos
da comunidade e o comportamento dos foliões de todos os cantos da cidade,
que vinham brincar no local. Essa observação associada com a representação
da mídia nos permitiu analisar o evento sob a ótica da identidade cultural
e da folkcomunicação.
Não podemos negar
que o carnaval é realmente um período especial para nós brasileiros, por
isso somos considerados o “país do carnaval”, aqui já havendo uma construção
acerca da brasilidade, que tem na música "História do Brasil"
de Lamartine Babo de 1934 uma definição bem clássica do país e da festa
representada no seguinte trecho: “Quem foi que inventou o Brasil?/ Foi
o seu Cabral, foi o seu Cabral/ No dia 22 de abril/ dois meses depois
do Carnaval”. O referido ritual é assim colocado no cerne dos estudos
acerca da identidade cultural e da folkcomunicação.
O reinado do Momo
tem como característica a suspensão da lógica cotidiana em nome de uma
outra lógica e talvez aí esteja o encantamento que cause nas pessoas,
que se permitem viver fantasias não facilmente reveladas no dia-a-dia.Os
elementos integrantes da cultura popular que compõe o processo comunicacional
típico do carnaval se manifestam na crítica, sátira, caricatura, dança,
música, samba-enredo, tema, etc. Algumas palavras são marcantes no vocabulário
da comunidade, demonstrando assim a estreita relação com a folia, como
“alegria”, “divertimento”, “fuga” e até mesmo “efeito terapêutico”.
Sobre o carnaval
O carnaval é uma
festa popular realizada quarenta dias antes da páscoa. São três dias de
folia que acabam na quarta-feira de cinzas. As festas carnavalescas são
antigas na História do homem e vamos encontrá-las entre os festivais característicos
do final da idade média, como festa anual na semana anterior à Páscoa.
Vestidos com bizarros trajes de carnaval, os aldeães e habitantes das
cidades cantavam e dançavam nas ruas. Os portugueses vindos para o Brasil
trouxeram sua festa carnavalesca que era caracterizada por verdadeiras
batalhas com água, farinha, fuligem e goma. Era o Entrudo. Hoje essas
batalhas são feitas de confete e serpentinas. As cantigas e danças foram
se firmando e em cada região tomando suas peculiaridades, assim como agregando
elementos das diversas culturas que aqui se incorporaram. No Rio de Janeiro
é o carnaval dos grupos, ranchos e escolas de samba; no Recife é o carnaval
do frevo, com o povo dançando nas ruas; na Bahia os trios elétricos fazem
a alegria popular. Os principais ritmos que animam o carnaval brasileiro
são o samba, o frevo e as marchas. O carnaval brasileiro é conhecido internacionalmente
e é grande o número de turistas que vêm até o Brasil para conhecê-lo.
Estação
Primeira de Mangueira
A escola de samba
da Mangueira surgiu quando o menino Cartola foi morar no morro da Mangueira.
Sem saber, fez história. Seu pai passava por dificuldades financeiras
e já não podia pagar o aluguel da velha casa no bairro das Laranjeiras.A
mudança, na verdade, é parte de um dos mais fascinantes episódios da história
do samba carioca.
Incontáveis famílias,
centenas ou talvez milhares de pessoas, buscavam os morros em fins do
século passado, princípios deste, atrás de uma sobrevivência que a cidade
lhes negava. A Lei Áurea, promulgada em 1888, podia ter alforriado os
escravos, mas de forma alguma garantia, à maior parte deles, uma vida
digna lá fora. A penada de ouro da princesa Isabel dividira praticamente
em duas a comunidade negra do Rio: uma, a já absorvida pelo meio social,
de negros empregados ou semi-empregados; e a outra a marginalizada, de
homens e mulheres sem ofício, sem teto, sem esperança.
Na geografia social
do samba tal divisão é, além de fascinante, definidora. As primeiras comunidades
se instalaram em vários pontos centrais da capital, onde moravam as tias
baianas, doceiras, bordadeiras, festeiras, tão presentes nos relatos dos
historiadores do samba. Suas casas eram simples mas confortáveis, próprias,
freqüentadas por gente arrumada, engravatada, fossem os negros do lugar,
fossem os brancos que lá iam para encomendar doces ou bordados e acabavam
ficando para um choro ou um arrasta-pé animado. Dançava-se muito naquelas
casas. Em geral, maxixes e sambas amaciados, partidos e lundus, tudo na
saleta da frente, e um ritmado culto aos orixás no quintalzinho dos fundos.
Embora fosse uma época em que as religiões não católicas, sobretudo as
negras, não eram toleradas pelas autoridades, no caso das tias a polícia
fazia vista grossa, ao invés de religião, rotulava aquelas manifestações
de “cultura afro-brasileira” e ficava tudo por isso mesmo.
Já os negros marginalizados,
estes trataram de subir o morro. Onde mais poderiam ter casa de graça?
Naturalmente,
no Rio da virada do século, o metro quadrado em encostas como as da favela,
e é claro, a Mangueira, ainda não tinha a valorização que adquiriria mais
tarde. De qualquer maneira foi assim que os ex-escravos e menos favorecidos
se aproximaram do céu.
Pobres, tristes,
desesperançados, mas treinados na teimosia de sobreviver.
Também eles tinham
a sua música. Ou melhor, o seu samba. Quando Cartola mudou-se para Mangueira
– para depois fundar, ao lado de outros bambas, a gloriosa Estação Primeira
-, levou consigo uma opção estética bem definida: era o samba dos morros
a sua música. É de Cartola e outros gênios da Mangueira a autoria da parte
mais importante da obra que eles nos legaram: os sambas com que a Estação
Primeira vem desfilando desde seus primeiros carnavais.
Mangueira, a primeira
escola (1928) e a primeira estação, de fato, do trem ‘parador’ saído da
Central, escola pioneira a vencer os desfiles e a ter uma antecipação
de samba de enredo caracterizado como tal, ainda quando a escola se reunia
para sair entre cordas.
Naquele tempo
não havia samba de enredo, como hoje conhecemos. Durante o desfile, dois
ou três refrões eram cantados pela escola, enquanto os mestres de canto
(versadores) improvisavam os versos da segunda e terceira partes do trajeto.
As músicas das escolas de samba mudaram muito, atualmente os sambas dos
desfiles ano a ano contém informação, história, pesquisa e muita polêmica.
O desfile das
Escolas de Samba do Grupo Especial, inserido no contexto do Carnaval do
Rio de Janeiro, tornou-se um megaevento de repercussão mundial. Ano após
ano exerce fascínio por sua suntuosidade, beleza, criatividade e expressão
de constante vir a ser, percebida na passagem ondulatória de milhares
de componentes Identificadas como manifestações da cultura popular brasileira,
as escolas, no entanto, tem merecido atenção ao que se refere a representação
e identificação de cultura no desvelamento de seus processos.
Escolas de
Samba: origens e evolução
Nos seus primórdios,
as escolas de samba tinham um caráter extremamente temporário, reunindo-se
apenas nas proximidades do carnaval. Surgiram nos anos 20 e emergiram
dos blocos que desfilavam pelas ruas do Rio de Janeiro, agregando as camadas
pobres da população. A oficialização desta festa, em 1935, todavia, condicionou-as
a uma definição formal: uma entidade civil sem fins lucrativos.
A partir dos anos
60, com a valorização da cultura popular, as escolas de samba passaram
a atrair a atenção da sociedade brasileira, Nos dias de hoje, são empreendimentos
que funcionam durante todo o ano, agregando milhares de pessoas. A fundação
da Liga Independente das Escolas de Samba - LIESA, em 1984, sistematizou
a racionalização administrativa e financeira da organização do desfile,
cujo controle total lhe foi passado em 1995.
No carnaval de
1995 e no de 1996 as escolas demonstraram sua flexibilidade ao encontrarem
meios alternativos de financiamento, dado que a prisão dos “bicheiros”,
tradicionalmente os provedores dos recursos financeiros, ocorrida em 1993
por decisão judicial, reduziu drasticamente a quantidade de dinheiro alocada
na realização do evento.
Estrutura
da Escola de Samba
Uma escola de
samba está dividida em instâncias distintas: barracão, quadra, alas e
enredo, o que seria o tema. Ao carnavalesco de uma escola cabe a função
vital da criação do enredo e de seu desenvolvimento. Todavia este trabalho
vai muito além na realização das fantasias, na construção dos sonhos e
na sustentação do belo, manifestado e presente nos setores e produções
do carnaval apresentado pelas escolas na avenida.
O primeiro enredo
da Mangueira foi “Chega de Demanda” (Cartola), desde o título já se percebe
que se trata de um protesto, de um manifesto. De lá pra cá, nessas quase
sete décadas de desfiles, de samba enredo e de carnaval a Mangueira cresceu
e apareceu. Hoje, conhecida mundialmente; e conhecidos também seus sambas
ora de protesto, ora de homenagem, ora de auto-exaltação. Mas seguindo
a tradição de levar para a avenida sempre personagens que de alguma forma
polemizaram as estruturas nacionais, ou seja, apresentam a homenagem no
desfile do carnaval e aproveitam para encenar todo um drama que foi cuidadosamente
pesquisado e polemizado em forma de folia e alegria.
Diante das inúmeras
configurações assumidas pelo carnaval brasileiro dirigimos nosso estudo
ao carnaval da cidade do Rio de Janeiro, levados sobretudo pelo cenário
contemporâneo que o tem caracterizado como carnaval espetáculo. O reinado
de momo na cidade aparece nas notas dos jornais locais e em jornais de
circulação nacional como sendo o primeiro em animação no Brasil.
Podemos dizer
que muitas vezes os discursos que encontramos nas mensagens das diversas
linguagens do carnaval - as muitas fantasias, o uso do corpo, as alegorias,
o tema, a música, a crítica e os protestos como portadora da identidade
do carnaval atual, mas que nos últimos tempos têm ressurgido nas ruas
da cidade pequenos blocos e pequenas bandas formados e representados por
elementos da comunidade ou de bairros, onde de fato todos podem participar,
como reflexo do movimento de resgate da tradição do carnaval do povo.
Faremos então
uma pequena retrospectiva histórica através de suas músicas, marchinhas
e hoje os sambas-enredos de como o carnaval foi construído e reconstruído
ao longo dos anos, representado por suas músicas, até apresentar sua versão
atual nos sambas-enredos, e que apresenta posições discursivas diferentes,
devido à grande multiplicidade de seus grupos representativos. Só na cidade
do Rio de Janeiro existem vinte escolas de samba que compõe o Grupo Especial,
conhecido também como Grupo 1A, mas temos também os grupos representativos
dos blocos carnavalescos, dos grêmios recreativos e outros, que pertencem
a categorias consideradas inferiores e a classes de acesso.
Todos estes grupos
representantes de carnaval apresentam seus próprios temas, produzem a
sua própria música referente ao carnaval daquele ano e nos apresentam
assim a sua marca nos certificando de que cada opinião ecoa, mas não unicamente
na música, como também nos conjuntos momescos e também nas fantasias,
nos cartazes, nos estandartes, nas escolas de samba e outros. Estes grupos
de pessoas são representantes da Comunidade.
E quando as letras
das músicas de carnaval caem na boca do povo são cantadas por multidões
e seu som e sua mensagem é ecoada e refletida por aquela geração produzindo
marcas na sua própria história. Uma das marchinhas de carnaval que se
tornou bem popular foi a “Daqui não saio” (Paquito - Romeu Gentil, 1950),
uma verdadeira crítica aos processos de despejo e às explorações abusivas
dos aluguéis antes de ser decretada a “Lei do Inquilinato”.
Daqui
não saio
Daqui
ninguém me tira
Outra marchinha
que dominou o país, inspirada pela falta de dinheiro provocada pelas medidas
desmedidas do governo foi “Me Dá um Dinheiro Aí”(Homero - Ivan - Glauco
Ferreira, 1960):
Ei
você aí
Me
dá um dinheiro aí
O carnaval carioca
com o passar do tempo passou a ser apresentado como um grandioso espetáculo
e na maioria das vezes seus compositores de samba enredo inspiram suas
composições em protestos.O “Tem bumbum de fora pra chuchu qualquer
dia é todo mundo nu” (“E Por Falar em Saudade”, samba-enredo de Almir
de Araújo, Balinha, Marquinho Lessa, Hércules Corrêa e Carlinhos de Pliares
para a Caprichosos de Pilares, 1985)(...) é um protesto à proibição de
nu nos desfiles, e foi uma polêmica quanto à genitália desnuda e o tapa-sexo
usado com uma alça muito fina apelidada de fio dental. Os compositores
brasileiros como que colhem no ar aqueles temas e sentimentos da massa
e encaixam com precisão e oportunidade nas canções da época. O tema é
a forma mais peculiar de um grupo se expressar, há muito alvoroço e movimento
na escolha do tema durante os meses que antecedem o carnaval. Pesquisas
são feitas, realizam verdadeiras disputas ideológicas da forma mais festeira
que existe, até ficar definido qual é o tema, a competição na escolha
do tema é determinada com a aprovação de toda aquela comunidade e através
deste tema escolhido a massa carnavalesca vai usar meios convencionais
ou não de comunicação para propagar aquela opinião, demonstrada em suas
manifestações coletivas não só na música, mas na crítica, na sátira, na
caricatura e principalmente nos protestos retratando assim seu pensamento,
seus desejos e suas aspirações.
A popularidade
e o sucesso são alcançados quando se sabe captar lirismo, amargura e malícia
ao mesmo tempo. Como disse Noel Rosa, o grande poeta do samba, cuja obra
continua cada vez mais amada e compreendida, “Captar todo o lirismo das
causas simples, toda a malícia daquela gente e também toda a amargura
que a vida distribui sem olhar a quem”.
Há alguns anos
uma escola de samba, a Viradouro se destacou, e muito, por inovar seu
som misturou o samba do carnaval de toque ritmado da percussão da bateria
com o metalizado technofunk da favela. Foi um verdadeiro acontecimento
folkcomunicacional, onde a alegria imperou representada pelos dois maiores
ícones da marginalidade social carioca: o samba e o funk.
A cultura
brasileira revelada no barracão
Sem a imposição
rígida de objetivos a serem alcançados, a escola de samba inventa-se e
reinventa-se constantemente, mantendo-se, desta forma, consonante com
seu ambiente, sinalizando sua capacidade de auto organização. É nesse
contexto que se revela a cultura brasileira e a identificação desse povo
com o famoso sistema do jeitinho, do “péra aí que dá pra ser”, do “vamos
nessa” e do “faz uma forcinha que sai”, o brasileiro é antes de tudo o
ser mais criativo que existe. Existe momento histórico mais expressivo
do que o carnaval para o brasileiro demonstrar sua criatividade e sua
capacidade de identificação e adequação ao meio?
Para Stuart Hall
(2001), “Neste final de século fala-se muito em identidade do sujeito.
O homem da sociedade moderna tinha uma identidade bem definida e localizada
no mundo social e cultural. Mas uma mudança estrutural está fragmentando
e deslocando as identidades culturais de classe, sexualidade, etnia, raça
e nacionalidade. Se antes estas identidades eram sólidas localizações,
nas quais os indivíduos se encaixavam socialmente, hoje elas se encontram
com fronteiras menos definidas” (Hall, 2001, p.9)
Recheado de controvérsias,
o conceito de cultura tem inúmeras abordagens. Aqui se assume a cultura
como algo essencialmente interpretativo (Geertz, 1978). Se assim é, “a
análise cultural requer uma sensibilidade que busque discernir padrões
de significado e discriminar nuanças de sentido em um contexto socialmente
estruturado, inserido em um momento histórico específico” (Thompson, 1994,
p. 53)
Casa-Grande
e Senzala
Em 1978, uma cena
curiosa invadiu os lares brasileiros. O Príncipe Charles, herdeiro do
trono inglês em visita oficial ao Brasil, arriscou-se a sambar ao lado
de uma princesa negra, careca e quase desnuda de nome Pinah. Os trejeitos
mecânicos do príncipe, ao lado dessa figura exótica que movimentava inventiva
e harmoniosamente seu corpo, provocaram uma cena insólita e, aparentemente,
sem significado. Entretanto, tratava-se do encontro de dois mundos que,
ao longo da história, sempre se encontraram sob a égide de dominação unilateral.
Nada poderia, então, causar tanto espanto como a reverência da realeza
inglesa a uma mulher representante da raça negra, que traz dentro de suas
entranhas as lembranças de uma época de submissão escrava. Esse encontro,
talvez possível só no Brasil, onde, segundo Freyre (1987), a casa-grande
e a senzala possuíam zonas sociais de interseção, produz também uma caricatura
do encontro do mundo racional e previsível, com a intuição e imprevisibilidade,
representadas pelo bailado de Pinah.
Folkcomunicação
e o samba
As comunicações
do folclore e conseqüentemente a folkcomunicação vêm sendo estudadas já
há alguns anos, este termo folkcomunicação foi usado pela primeira vez
pelo pesquisador e professor Dr. Luiz Beltrão em sua tese de doutoramento,
e este termo vem se propagando em linhas de pesquisas de Folkmídia que
integram a área de concentração de Processos Comunicacionais. Folkcomunicação
é uma teoria formulada por Luiz Beltrão como: “a comunicação dos marginalizados”,
para ele “é o processo de intercâmbio de informações e de manifestação
de opiniões, idéias e atitudes de massa, mediante agentes e meios ligados
direta ou indiretamente ao folclore”. (Benjamim, 1970, p. 21)
A folkcomunicação,
na verdade, lida com os aspectos comunicacionais das manifestações da
cultura popular, seria a ciência da comunicação através dos sistemas do
folclore. Os estudos da folkcomunicação, segundo Luytem (1988), partem
de uma constatação muito simples: a de que o povo se comunica através
de suas manifestações, dentro do processo básico apresentado pela conhecida
fórmula “quem diz, o quê, por quê, a quem, com que efeito?” Primeiro não
se pode esquecer os fatores individuais, sociais e culturais contidos
no processo de comunicação, e segundo a comunicação se dá num fluxo de
dois tempos, chegando a mensagem antes a certos destinatários, os líderes
de opinião, que a socializam em contatos pessoais em pequenos grupos mais
ou menos fechados, como por exemplo o grupo que compete com determinado
tema em uma comunidade de escola de samba, se vencer a competição esse
tema escolhido será desenvolvido em diversos aspectos para explorar bem
a mensagem daquela opinião.
As condições necessárias
para que uma mensagem provoque os efeitos desejados e, com isso, que um
ato comunicativo seja realmente “entendido e cumprido” são segundo Luytem:
chamar a atenção do destinatário; empregar signos fáceis de serem percebidos;
despertar o interesse do receptor; ter a ver com o grupo em que este se
encontra (1988, p. 6).
Cabe ao líder
de opinião a importante função de dar prestígio e credibilidade a um assunto
nesse processo comunicacional da folkcomunicação; Alguém que, graças ao
conhecimento de determinados temas e à percepção de seus reflexos na vida
do povo, baseados em crenças e costumes da comunidade a que pertence,
é capaz de encontrar palavras e argumentos para sensibilizar as formas
que caracterizam o pensamento e ditam a conduta de seu grupo, trata-se
do folkcomunicador.
Para
concluir
No carnaval pode
ser observada a característica brasileira de conjugação de elementos contraditórios
onde as comunidades das encostas de morros, as favelas, descem para desfilar
no asfalto da passarela do samba, o Sambódromo, os seus protestos, sonhos,
aspirações e esperanças, na folia, na alegria e no luxo de suas fantasias.
As escolas de
samba oscilam entre o mundo público das leis universais e o privado da
comunidade, da família, dos amigos, da casa. Todavia, é possível dizer
que a casa é que seu ideal, levando-se em conta a importância que as relações
pessoais assumem nos seus processos de organização de trabalho.
O barracão vive
em constante estado de vir a ser moderno sem, contudo, deixar para trás
suas amarras tradicionais. Assim, os modos e discursos pertinentes ao
clássico e ao inovador, ao planejado e à criatividade, à racionalização
e ao desperdício, à especialização e à versatilidade, à seriedade e à
alegria, ao previsível e ao imponderável, ao sonho e à realização, interagem.
O tempo é o da realização do sonho, concretamente percebível no desfile.
A síntese. Foi a observação e a análise dos aspectos representativos e
significativos dos meios usados para as encenações dos desfiles do carnaval,
no barracão da Escola de Samba da Estação Primeira de Mangueira, que permitiram
neles descobrir esses aspectos da cultura brasileira, da identidade cultural
e da folkcomunicação que lhes constrói um sentido. Carnaval é isso: é
identidade cultural, pois o nosso carnaval é único e em qualquer lugar
do planeta esse nome e essa folia, essa alegria vai sempre identificar
e representar o nosso povo carioca e brasileiro; é folkcomunicação e sem
dúvida essa é uma bela forma de comunicar o nosso folclore, desfilado
em forma de fantasia e sonho na passarela do samba, integrado pela comunidade,
e por turistas nacionais e estrangeiros.
É relevante a
descoberta porque, à medida que a administração tenta integrar pessoas
em um empreendimento comum, não pode prescindir de identificar as teias
de significado que seus integrantes tecem. Afinal, elas estão incorporadas
nas ações, nas falas, nos processos e nos produtos. Que o diga o carnaval
da Escola de Samba da Estação Primeira da Mangueira.
Bibliografia:
-
BAUMAN Z. Globalização,
as conseqüências humanas (tradução: Marcus Penchel), Rio de Janeiro,
Jorge Zahar Editor, 1999.
-
BELTRÃO, Luiz.
Folkcomunicação: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação
de fatos e expressão de idéias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
-
FREYRE, G. Casa-grande
e Senzala. 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987.
-
GEERTZ, C. A
interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1987.
-
HALL, Stuart.
A identidade cultural na pós-modernidade (tradução: Tomaz Tadeu
da Silva e Guacira Lopes Louro), 5ª edição. D.P.& A. Editora, Rio
de Janeiro, 2001.
-
KUNCHS, W. Uma
contribuição para os estudos da folkcomunicação. IN: Comunicação
&Sociedade, Metodista, São Paulo. Ano 22, nº 34, segundo semestre
de 2000.
|