Divina Criação

 

          Antes era o nada.
          Cartola vivia solitário ao lado de uma cabrocha chamada Eva.
O lugar, apesar de vazio, era um belo um paraíso de Mangueiras verdes e flores rosas.
          Foi quando uma serpente matreira ofereceu uma manga a Cartola.

          Ao Morderem a doce fruta, Cartola e Eva abdicaram da inocência e cometeram o pecado original do samba. Puseram, por imposição da Deusa Liesa, uma folha de parreira como fantasia e caíram na folia.
          Cartola, com o dom da arte, logo compôs suas primeiras obras primas. Como testemunhas, apenas Eva, conhecendo seu dom de passista, e as rosas, ouvintes que apesar da insistência do mestre teimavam em não falar.
          Então, extasiado com as belas poesias do mestre e da bela dança da moça, os Deuses Africanos do samba, ouvindo as queixas do mestre, enviaram Saturnino Gonçalves para exercer a liderança no mundo que surgia.
          Como num passe de mágica, a mágica do samba e do carnaval, maçu surgia do barro para conduzir um pavilhão que representaria a comunidade.
          Zé Espinguela trouxe o espírito da competição para o grupo. Carlos Cachaça, outro enviado especial, veio fazer companhia a mestre Cartola na missão de compor suas belas poesias.
          Da semente plantada por Eva e Cartola germinaram artistas ao longo de mais de sete décadas. floresceram vitórias e conquistas que vão muito além de um simples desfile. Cresceste junto com o samba, cresceste junto com a cultura popular, cresceste como suas crianças continuam crescendo em seu eterno paraíso de barracões de Zinco.
          E todos, sem exceção, continuam sonhando os sonhos do velho mestre.
          Assim foi a divina criação da Mangueira.

 

Fábio Pavão
(Fábio Pavão é pesquisador de Carnaval e um dos Webmasters da Home Page da G.R.E.S. Portela)

 

Artigos