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Graças a Deus ainda não acabou (tem o sábado das Campeãs, lembra?) onde veremos Luiz Gonzaga e sua sanfona rasgando o céu da Unidos da Tijuca, campeã do carnaval 2012. Mas, para explicar seu sucesso temos que considerar o nível excelente das concorrentes do Grupo Especial este ano.
Por onde começar? Falar de sambas de uma safra excepcional que fizeram a Sapucaí delirar? Rolaram. Portela, Vila Isabel, Salgueiro e Mangueira eletrizaram o público! Vamos pela ordem lembrando que só falo do que vi ou ouvi e, como não sou onipresente, coisas importantes não passaram pelos meus olhos fotográficos ou chegaram aos meus ouvidos, cheios de rimas e versos.
Romero Brito que me perdoe, mas ainda falta muito para que sua obra tenha consistência para ser um enredo de escola do grupo especial mesmo estreante como a Renascer, principalmente quando Portinari está na pista. A pirâmide simbolizando sua exposição no Louvre ficou pequena perto da grandiosidade de Guerra e Paz!
A Portela veio como há muito tempo não chegava com um samba arrebatador e a bateria de Nilo Sérgio apresentando uma linha de atabaques. Vanessa Da Matta de Clara Nunes na comissão de frente abria os caminhos da Bahia. A porta bandeira Lucinha Lins e o mestre sala Rogerinho antecipavam o arrepio: no abre alas, Marisa Monte e Paulinho da Viola. Resistiu até agora? Desista ao ouvir o pio da águia dourada Portelense! E caia no samba, como fez toda a avenida.
Na Imperatriz Leopoldinense que cantava Jorge Amado, nem homens voando livres, leves e soltos numa comissão de frente de chapéu mexicano impediram que a escola tivesse sérios problemas. Num dos carros o telhado ruiu, típico das intempéries cariocas...
Da literatura, voltamos para as artes com a Mocidade de Padre Miguel retratando as obras de Portinari. O abre alas, plasticamente muito bonito, teve problemas que prejudicaram a evolução. Nada tão constrangedor quanto o desfile da Porto da Pedra tecendo loas ao iogurte e trazendo os bichinhos da Danone e a alegoria de uma estante de supermercado! Pior mesmo só a essência enjoativa que perfumou pista noite a dentro.
A Beija-Flor veio para o bi falando do Maranhão e apresentada por Laíla que se ajoelhava a cada módulo de jurados. O ultimo carro foi a reprodução da apoteose de Ratos e Urubus, com direito aos mendigos e a imagem de seu criador, o genial Joãozinho Trinta.
Quando a noite se juntava ao dia, a Vila Isabel coloriu a Sapucaí com exóticas e leves estamparias africanas e, ao melhor estilo de Kizomba, misturou semba com samba, no embalo do kuduro. Martinho da Vila fechava o desfile e o povo cantava com ele.
A São Clemente abriu a segunda feira com adereços infláveis e um enredo divertido identificado imediatamente com o público que se deliciaria, logo depois, com a comissão de frente da União da Ilha. O gari Renato Sorriso passeava de carruagem com a rainha carnavalesca Maria Augusta, um ícone no mundo do samba. Londres era bem aqui, desfilando na Sapucaí.
A chapa esquentou com o cordel do Salgueiro, animadíssimo na recriação do universo de Lampião e Maria Bonita, para disputar o título. Destaque para a bela Viviane Araújo, rainha da bateria Furiosa.
Quem estava na Sapucaí testemunhou um feito histórico: a mega parada da Surdo Um, a bateria da Mangueira, durava uma rodada inteira do samba sustentado no canto dos componentes e das arquibancadas. Caciqueando por ali, Raphael Rodrigues, o mestre sala, “provocava” a onça Marcela Alves, a porta bandeira.
Que a Unidos da Tijuca vem como uma comissão de frente de tirar o fôlego e com alguns Michael Jacksons espalhados por qualquer enredo, todo mundo espera. O diferencial foi o personagem recriado pela escola do Borel, o sanfoneiro Luiz Gonzaga conquistou os jurados.
A Grande Rio fechou a noite sem seguir na prática, o pregava: a superação. Um dos componentes passou mal. Entre ele e o carro que chegava, para não atrasar, a ordem foi seguir em frente. Adivinhem que se desdobrou para retirá-lo da pista? Eles mesmos, os insuperáveis bombeiros cariocas... |