Será que a culpa é do CD???

 

Breves comentários sobre o CD de Sambas-Enredo

          Vem chegando mais um fim de ano e com ele já começa a procura pelos Cd's mais vendidos do país em fim de ano: Roberto Carlos e os Sambas Enredos para o próximo carnaval... Parece notícia antiga, não é? Dizem na mídia que ano a ano as vendas de Cd's de sambas-enredo vêm caindo substancialmente. Isso quer dizer que realmente o carnaval carioca está acabando?
          Calma, não é assim que se analisa um fato. Tomar a queda nas vendas de um produto como o fim dele é ter uma visão minimalista da realidade. É preciso saber quais circunstâncias levam a este fenômeno. Portanto, vamos a elas:

  • Perda de mídia: Há muito tempo as escolas de samba perdem espaço nacional para outros tipos de música no período pré-carnavalesco. Em alguns lugares até música eletrônica tem mais espaço. O que acontece é que a divulgação não atinge todas as cidades, se restringindo tão somente ao Rio de Janeiro.

  • A falência do modelo áudio CD: A queda de vendas não se trata de um fenômeno específico dos Cd's de Sambas-Enredo. Em outros tempos, um artista conseguia o tão sonhado Disco de Ouro quando alcançava a marca de 100 mil cópias vendidas. Hoje este número está reduzido para apenas a metade disso (50 mil). Isso se deve pela introdução do modelo Mp3, que admite uma maior capacidade de armazenamento de áudio. Se um Cd abriga 80 minutos de música, temos Mp3 capazes de armazenar 10 horas, portanto uma concorrência desleal.

  • Incorporação de estigmas: Vivem falando que o carnaval de escolas de samba está falido. E um monte de gente acredita. Está certo que ele não agrega tanta gente como nos anos 70 e 80, mas grande parte do Brasil considera o carnaval carioca como referência para os festejos de suas próprias cidades. Tantos municípios do Brasil hoje em dia mantêm desfiles inspirados no modelo carioca. Além do mais, qualquer lista dos Cd´s mais vendidos no período entre Dezembro e Fevereiro vai ter no top 10 o Cd oficial dos desfiles e escolas de samba. O mesmo acontece entre Abril e Junho, quando o DVD com os compactos dos desfiles. Se achar que é chute, consulte revistas que mantém essas listas e observe.

  • O Fenômeno da Internet: As grandes gravadoras vem tendo dores de cabeça para tentar formas de coibir a troca de informações ou musicas pela Internet. E é lógico que isso ia chegar ao carnaval. As gravações oficiais já estavam pipocando nos sites antes mesmo do lançamento oficial. E é evidente que isso contribui para a queda das vendas, uma vez que as pessoas têm acesso de graça a um conteúdo que legalmente vai lhes custar até R$35, 00, dependendo do lugar onde estiverem.

          Colocar a culpa na qualidade do CD, dizendo que falta mais bateria, ou que os sambas estão ruins também podem ser colocadas no rol de motivos, mas em escala menor. Quem gosta de carnaval, compra o disquinho independente disso. Compra para decorar a letra, para saber se sua escola do coração vem com um samba bom ou não. Já pensaram a quantidade de pessoas que só vem a saber o enredo de uma agremiação ao ouvir seu samba?
          É lógico que gostamos de uma bateria mais vibrante, como observamos no Acesso. É claro que gostamos de sambas mais elaborados, como víamos antigamente, mas citarei aqui uma passagem de André Diniz (não é o compositor da Vila), escrita em seu Almanaque do Samba:

“Como dizer que a Folia de Momo acabou se ela arrasta milhões de pessoas todo ano?”

          E são milhões mesmo. Se não podem estar nas quadras ou nos ensaios técnicos, estão dispostas a perder suas madrugadas em frente à telinha para assistir, comentar e falar mal das câmeras que não mostram aquele detalhe que queriam ver por mais tempo. Ou então tentam fazer de sua agremiação local uma escola de samba autêntica, criar uma tradição tal qual fizeram suas matriarcas cariocas.
          E convenhamos, não vai ser um mísero CD que vai apagar essa paixão.

Victor Raphael
(Publicado )

 

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