Carnaval de rua

 

          Durante anos, o carnaval do Rio de Janeiro ficou restrito às Escolas de Samba, é claro, e aos bailes de clubes. A opção para quem curte a festa de Momo na boa se resumia às Escolas. Os milhões que não desfilavam ficavam em casa e os que podiam já tinham ido para outros lugares. Por sensacionalismo, os grandes bailes se perderam entre a violência e cenas de nu, com profissionais contratadas para se despir em frente às máquinas fotográficas e canais de televisão. O rebuliço do depois era total. Fotos de diversos ângulos, a maior parte de mau gosto, inundavam os jornaleiros. Os comentários se dirigiam para este aspecto pouco gratificante para quem gostaria de ter passado com a família, por exemplo, os quatro dias na folia.
          Este "carnaval" se esgotou e foi completamente superado por uma força viva que surgia depois décadas em silêncio.
          Os Blocos de Rua começaram a reviravolta deste lúgubre cenário trazendo com eles a irreverência, a brincadeira e criatividade a todo vapor. O carioca voltou a ser carioca nos dias de folia e, como deveria ser, os namoros de carnaval aconteciam naturalmente.
          Na Rio Branco, acompanhando os já tradicionais Cacique de Ramos, Bafo da Onça e outros, surgia o Bloco do Clube do Samba, em que a irreverência era a tônica maior.
          O Clube do Samba  inspirou o Bloco do Barbas e o Simpatia É Quase Amor, este com a inspiração também da Banda de Ipanema, que saíram há vinte e dois anos no domingo de Carnaval, em Botafogo e Ipanema, dando a largada, na zona sul, para a gigantesca virada do Carnaval do Rio.
          Hoje, de novo, o Carnaval de Rua do Rio é o melhor do Brasil. Que nos desculpem os baianos que alardeiam para os quatro cantos seu trios elétricos que ficam restrito a uma pequena parte da cidade. Na realidade, a dobradinha Recife/Olinda com maravilhosos frevos é um caso à parte e em termos de Nordeste, a bola é deles, pernambucanos.
          De volta ao nosso querido sudeste, Momo aqui vive não é de graça. Ama o rei as delícias do nosso espontâneo Carnaval de Rua. Aqui os blocos proliferam ocupando ruas e avenidas em toda a cidade. E não temos aqueles preços exorbitantes dos abadás da vida. Quando muito a compra da camiseta já é uma boa ajuda do folião ao bloco. Na zona sul, o Bafafá, um dos mais novos, e nem por isso menos importante ou alegre, é expressão vibrante da renovação.
          Mas, ao contrário da Bahia onde as autoridades estaduais e municipais divulgam e ajudam de todas as formas, inclusive financeira, nossas autoridades ainda não perceberam que o carnaval barato, espontâneo, em que famílias podem curtir e os namoros ocorrerem é em dos maiores cartões de visita desta maravilhosa cidade. Esquecem que um carnaval barato, até porque as diretorias dos blocos não visam lucro, é ótimo trunfo para o turismo interno e externo. Carnaval de Rua é o Rio com toda sua intensidade.

Nelson Rodrigues Filho
(Publicado originalmente no site Bafafá online em fevereiro de 2006)

 

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