Mestre Louro

 

           Tentei entrar em contato com o Sem Censura, da TVE, obrigatório programa conduzido pela excelente Leda Nagle, mas meu computador marca Boca-de-Tigre, pra variar, prejudicou meu toque. O recado era, e continua sendo, o seguinte: Mestre Louro, parabéns pelos 30 anos no comando da bateria, sempre nota 10, do Salgueiro. Quem bota defeito na bateria de Mestre Louro tem que ir ao otorrino pra desentupir o orelhão. No programa, Mestre Louro, que não é homem de nhenhenhém, botou o dedo na ferida: “Que história é essa de9,9?!” Isso aí. Os ingênuos que aprovaram a emoção das casas decimais nas notas não perceberam que os décimos viraram, na verdade, pontos.
           Mas vá lá. Examinemos os critérios, se é que existiram. O tal décimo representa tirar um ponto em cem. Qual terá sido o defeito da bateria do Salgueiro flagrado por esse jurado, digamos, excepcional (nada a ver com a Apae, hein?). Um único ritmista terá espirrado dentro do chique-balde? Num momento de distração, o aguerrido músico da caixa-de-guerra terá palitado os restos da suculenta rabada de véspera com a baqueta? O responsável pelo coração da escola, o surdo, terá tentado o suicídio, enforcando-se com o talabarte? Será que o arguto árbitro percebeu que a moça do chocalho sacudia-se, não por prazer de integrar a fabulosa bateria, mas por estar acometida pela dengue do Garotinho?
           É por essas e outras que o saudoso Mestre Marçal usava a expressão “mais um perdido na multidão”...
Mestre Louro, espero que você continue outros 30 anos à frente da bateria nota 1.000 do Salgueiro – nem melhor, nem pior, mas diferente no meu coração.
           Do carnavalesco Cesar Maia para a posteridade: “Seio turbinado me faz pensar em Osório Duque Estrada”. Cultura é isso. Eu, por exemplo, nem sabia que o velho era gay.

 
Aldir Blanc
O Dia - Quinta, 21 de fevereiro de 2002

 

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