Ele
já é um homem próximo dos 80 anos. Ainda alegre. ainda sambista, mas afastado
da boêmia, um passado muito distante. Mas Zé Keti sabe que deu seu recado.
Eventualmente, ainda compõe um ou dois versos. De vez em quando. recebe
uma homenagem, faz alguma apresentação especial, reconhecimento pela importância
de sua obra. “Fiz tudo o que queria. Sou um homem realizado”, afirma.
José
Flores de Jesus, o Zé Keti, tem a música no sangue. Nascido em 6 de outubro
de 1921, no Rio de Janeiro, e neto do flautista e pianista João Dionísio
Santana, companheiro de noitadas dos compositores Cândido das Neves, o
Índio, e Pixinguinha, e filho de um marinheiro tocador de cavaquinho.
Aos
13 anos, Zé Keti assistiu aos ensaios da Estação Primeira de Mangueira
e, pela primeira vez, entrou em contato com o samba feito nas escolas.
Mais tarde, mudou-se para o subúrbio de Bento Ribeiro e foi levado para
a Portela pelo compositor, depois presidente da escola, Armando Santos.
Nessa
época, já compunha, mas não tinha coragem de mostrar suas músicas ao público.
Mesmo assim, desfilava na ala dos compositores da Portela. Após alguns
anos, quando passou a freqüentar as rodas da boêmia do Café Nice, começou
a apresentar seus sambas. A primeira composição gravada foi Tio
Sam No Samba, pelos Vocalistas Tropicais, em 1946. No mesmo ano, Cyro
Monteiro interpretou Vivo Bem.
Mesmo
com carreira promissora e alguns sucessos lançados na quadra da escola,
no início da década de 50, Zé Keti afastou-se da Portela, por
problemas de autoria de algumas músicas. Transferiu-se para a União do
Vaz Lobo, para a qual compôs A Voz
do Morro, gravada em 1955 por Jorge Goulart, com grande êxito, e que
integrou a trilha musical do filme Rio,
40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos. Depois disso, Zé Keti faria,
ainda, outras incursões no cinema.
Retornou
à Portela alguns anos mais tarde e, no inicio da década de 60, passou
a participar de atividades musicais no restaurante Zicartola, apresentando
os shows dos velhos compositores, ainda desconhecidos do público, como
Cartola e Nelson Cavaquinho, e dos novos músicos, como Paulinho da Viola
e Elton Medeiros.
Ainda
nessa época, organizou o conjunto A Voz do Morro, aproveitando a fama
do samba homônimo. Em 1964, na Musidisc, gravou alguns de seus sambas
numa fita que seria entregue aos cantores da gravadora, para seleção de
repertório. Na ocasião, Zé Keti levou Paulinho da Viola, Nescarzinho do
Salgueiro, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Oscar Bigode e Zé Cruz,
que fizeram o acompanhamento e apresentaram outras composições. O resultado
foi o lançamento do disco Roda de
Samba. Esse mesmo conjunto, mais Nelson Sargento, gravariam ainda
dois LPs.
Também
em 1964, Zé Keti participou do espetáculo Opinião,
ao lado de Nara Leão e João do Vale. Nesse show, lançou mais dois
grandes êxitos: Diz Que Fui Por Aí e Opinião. Dois anos mais tarde, Paulinho
da Viola gravou os sambas Mascarada
e Samba Original, ambos
de Zé Keti em parceria com Elton Medeiros. Para o Carnaval de 1967, fez,
em co-autoria com Hildebrando Pereira Matos, a marcha-rancho Máscara
Negra, que se tornou um dos maiores êxitos de sua carreira.
A
partir dos anos 70, apresentou-se em diversos shows, tanto em casas de
espetáculo quanto em emissoras de televisão. Aposentado, viveu no Rio
de Janeiro até falecer em 14 de novembro de 1999.
(Fonte
História do Samba - Volume 22 - Editora Globo - 1998)
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