Mestre Marçal: o filho e o pai

 

          Por muitos anos ele foi o percussionista (cuíca, tamborim, surdo, tarol, pandeiros e outros instrumentos) preferido de Chico Buarque, o músico mais prestigiado de sua banda, posto hoje ocupado garbosamente pelo veterano craque Wilson das Neves. Como Wilson, o Mestre Marçal também compunha e cantava, apesar de não ter sido parceiro de Chico. Uma pena.
          O carioca da gema Nilton Delfino Marçal, que nos deixou num abril que nem este (dia 9), em 1994, aos 64 anos de idade - 22 desses vividos como diretor de bateria da Portela -era um bamba por descendência e ascendência: filho do também percussionista e compositor Armando Vieira Marçal (da famosíssima dupla Bide e Marçal e fundador da escola de samba Estácio de Sá) e pai do também percussionista cantor e compositor Marçalzinho, que faz um belo trabalho na MPB e está com dois discos novos na praça, um deles em parceria com Moacyr Luz.
          Mestre Marçal começou a gloriosa carreira de percussionista tocando tamborim na escola Recreio de Ramos. Também foi presença constante em estúdios de gravação, onde deu coordenadas e alegrou o tamborim em discos do Chico, de Alcione, de Zeca Pagodinho, de Beth Carvalho e de muitos outros. Também gravou oito discos individuais, tocando e cantando (sobretudo canções da parceria Bide e Marçal, como a antológica Não diga a ela a minha residência), mostrando sua voz encorpada e muito sonora, como no samba Pela sombra, de Nelson Sargento e Nei Lopes: "Siga em frente sem retorno e sem parada / Lembre que a água passada não move a pá do moinho, não/ Vá com Deus/ E siga pelo acostamento/ Que é pro arrependimento/ Não te achar na contramão".
          Nilton Delfino Marçal nasceu em Ramos, onde viveu até os 11 anos. Também morou em São Cristovão, Olaria, Estácio, Inhaúma e Pilares, além de ter batido pernas por todo o Rio de Janeiro, sobretudo pelos bairros boêmios que ele tanto amou. ()

Luís Pimentel
(Publicado originalmente na Revista Música Brasileira em 23 de março de 2007)

 

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