G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiro
Do fogo que ilumina a vida,
Salgueiro é chama que não se apaga

 

O samba-enredo:

Do fogo que ilumina a vida, Salgueiro é chama que não se apaga
          (Moisés Santiago, Waltinho Honorato, Fernando Magaça, Luiz Antonio, Quinho)

Salgueiro acende a paixão
É pura emoção... É fogo
Divina criação que a humanidade adorou
Chama viva que clareia... Clareia... Clareia
Deixa queimar... Que o sangue vai ferver na veia

Surgiram deuses, mitos do imaginário
Pra alma é purificação
Ferros, modelagens, têm lendas e dragões
Rituais de fé, religiões
Fez evoluir a era industrial
Tem fogo neste Carnaval

Bota lenha na fogueira... Ô Iaiá
O sabor do seu tempero... Vou provar
No calor do dia-a-dia... Tem que respeitar
Não brinca com fogo pra não se queimar

A chama que arde no peito
É luz que irradia... Amor
Quem dera que o homem apagasse
Da mente a maldade e a dor
Um brilho explode no ar
A festa vai começar
O sol traz esperança
Vitória e confiança
Do fogo que ilumina a vida
Vermelho incendeia a Avenida

Hoje o fogo da alegria
Se alastrou na Academia por inteiro
Vem no show da bateria
Esse fogo que arrepia... É Salgueiro

O Enredo no Samba: Estrutura discursiva

          A letra do samba contém alguns tópicos importantes da história do Fogo, pinçados da excelente explanação feita na sinopse, cujo assunto bem se vê que foi exaustivamente pesquisado.
          Embora não estejam de forma rigorosamente seqüencial, essas informações destacadas na composição do samba-enredo estão resumidas em palavras precisas e frases bem construídas que mostram a trajetória, as diversas utilizações e as crenças em torno do tema abordado.
          Devido ao excesso de informações que o enredo suscita, foi preciso muita habilidade dos compositores em alternar construções frasais populares com os significativos fatos e elementos referentes ao Fogo, os quais certamente serão apresentados no desfile. E eles conseguiram magistralmente compor um samba com letra bonita e bem construída, cuja cadência é a “cara” do Salgueiro. Um samba alegre, de fácil memorização que, sem dúvida, incendiará a Sapucaí.

O Samba no Enredo: Estrutura lingüística

          O samba foi construído por palavras que estão diretamente associadas ao tema Fogo. Os principais signos que evocam o enredo são: acende, chama, clareia, queimar, ferver, fogueira, calor, sol, irradia, apagasse, brilho, sol, ilumina, vermelho, incendeia, alastrou.
          Além da associação vocabular, há também associações conceituais, feitas com o significado global da palavra Fogo, isto é, o seu uso, as causas e conseqüências que pode causar, etc. Dentre essas associações, as mais evidentes são:

  • Fogo = vermelho = paixão, amor.

  • Fogo = utilização = clareia, ilumina, irradia, rituais, purificação, era industrial, sabor, explode no ar.

  • Fogo = destruição = queimar, alastrou, incendeia.

          As frases feitas e coloquialismos, quando presentes na canção, além de facilitarem o canto dão um tom de intimidade com o público. Estas frases foram transcritas da sinopse e contextualizadas no primeiro refrão:

  • “Bota lenha na fogueira”

  • “No calor do dia-a-dia”

  • “Não brinca com fogo pra não se queimar”

          Interessante notar o emprego da expressão “Iaiá”, usada no período da escravidão. Ao mesmo tempo em que faz referência a um fato histórico – as cozinheiras escravas – , faz indiretamente o resgate da temática negra no Carnaval, tema bastante recorrente, principalmente no Salgueiro.
          O tempo presente é o tempo mais recorrente neste samba, o que imprime uma certa atemporalidade e continuidade às ações, como se tais ações representassem a chama ardente permanente do Fogo na passagem da Escola pela Avenida.
          Por fim, o uso das reticências indicando uma pausa curta do canto e a mudança de tom da pronúncia do grupo de palavras seguinte, o qual aumenta e se estende. Muitos compositores as utilizam com essa função, para propiciar um prolongamento à melodia.

Bibliografia:

  1. “Enredos – Rio Carnaval 2004” , da LIESA.
  2. “Para Tudo Não Se Acabar Na Quarta-Feira – A Linguagem do Samba-Enredo” – Julio Cesar Faria.

Julio Cesar Farias
(Publicado em 18/11/2003)

 

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