Quem são os sambeiros japoneses?

 

           Os sambistas japoneses, acima de tudo, adoram o Brasil. São colecionadores de tudo que lembre o carnaval. Conhecem muito bem a MPB. No Japão, existem livros publicados sobre o assunto. Economizam o ano inteiro para poderem ir ao Rio no carnaval. Alguns vão para São Paulo, outros para Manaus.
           Sempre lotam os shows de músicos brasileiros em Tokyo, Osaka, etc. Do mundo do samba já estiveram no Japão Paulinho da Viola, Nelson Sargento, Monarco, Selminha Sorriso, Xangô da Mangueira, etc.
Como são os desfiles no Japão?
           Os desfilem acontecem em diversas cidades. O principal é o Asakusa Samba Carnival, no centro de Tokyo e existe desde 1980. O verão no Japão é em agosto. Por isso, o desfile acontece no último sábado desse mês. Cade escola tem cerca de 150 a 250 componentes e sobrevive com o que arrecadam em shows nos bairros, em casas noturnas e com o o dinheiro dos membros.

Como são os desfiles no Japão?

1) Enredo

           Os enredos tem propostas diversas, inclusive temas do folclore brasileiro. Nesse caso, o publico fica sem entender o que o boto cor-de-rosa tem haver com a mocinha grávida. As escolas não tem o costume de mostrar temas japoneses.

2) Carnavalesco

           Administra o funcionamento da escola naquele ano. O que a escola vai mostrar e como vai mostrar é decidido por um grupo.

3) Samba-enredo

           A maioria dos compositores confundem os estilos samba e samba-enredo. Por isso, os samba-enredo acabam lançando mão de melodias melancólicas com um andamento atual. O samba-enredo parece uma balada, uma bossa nova, com a bateria tocada em cima. Eles dizem que e assim que gostam. Outros sambas são feitos por brasileiros residentes no país e tem características de samba-marcha. O andamento é mais lento que o dos atuais sambas-enredo. São poucas as escolas que fazem o samba-enredo baseado na sinopse. Alguns puxadores cantam em português, mas não entendem claramente o significado do que estão cantando. A pronúncia do português é muito difícil para eles.

4) Fantasia

           Cada ala pensa sua fantasia segundo o Enredo. Cada escola não chega a ter mais de 8 alas. Mas há baianas, crianças, bateria, passista e comissão de frente. Atualmente, alguma escolas vem fazendo com as comissões pensem o carnaval todo. Os adereços são raros.

5) Alegorias

           São duas. Um pequeno abre-alas e um maior. Parecem os carros alegóricos dos carnavais cariocas dos anos 60.

6) Harmonia

           Quem consegue decorar o samba-enredo canta. Quem não consegue, pronuncia a letra da forma que sabe. Mas o público, que é de japoneses, não entende.

7) Evolução

           Os buracos entre as alas são constantes, mas ninguém liga. Mesmo assim, o desfile é bem animado. Algumas alas recuam e se misturam nas outras.

8) Bateria

           São cerca de 60 peças alinhadas como parada militar. Esse alinhamento agrada os jurados. O som e bastante agudo devido o uso de náilon nos surdos. Quase não existem Terceiras. A marcação se limita a Primeiras e Segundas. As caixas batem de forma diferente dentro de um mesmo naipe. É difícil distinguir a característica de cada uma a não ser a G.R.E.S. Saúde, que toca parecido com a G.R.E.S. E.P. de Mangueira. A distribuição do número de instrumentos é bastante desequilibrada. Há sempre excesso ou falta. Fazem paradinhas.

9) Passistas

           As passistas usam esplendor, o que dificulta a evolução. A maioria não samba, mas faz passos que lembram o samba e meneios. O samba-no-pé segue a linha das passistas de shows. Algumas sambam somente quando estão paradas, as vezes só para trás, dificultando a evolução da escola. As japonesas confundem destaque de chão com passista. Evoluem como destaque e não como passistas.

10) Mestre-sala e porta-bandeira

           Os casais tem aulas com profissionais brasileiros e tentam imitar os passos profissionais. A exceção fica para o casal da G.R.E.S. Bárbaros, que desfile em escolas cariocas.

11) Cronometragem

           Existe. Mas as escolas desfilam praticamente uma atrás da outra. As vezes o carro de som de uma escola atrapalha o som outra.

12) A Pista de Desfile

           Fica em Asakusa, um bairro turístico. Faz uma curva em L para a direita, onde está a comissão julgadora. Não há necessidade de recuo de bateria. Na avenida fica localizado a entrada de um dos templos budistas mais importantes do país, o Sensoji.

13) Quesitos

           São cinco. Cada um vale 20 pontos.
           Enredo - Samba Enredo e Bateria - Harmonia (que é Conjunto) - Evolução (que e o samba no pé) - Fantasia - Alegoria.

14) Premiação

           A campeã leva 20 mil dólares. A vice-campeã, 500 dólares. Existem outros prêmios como passagens, viagens, etc. A patrocinadora do evento é a Cervejaria Asahi, a líder do mercado de cerveja (tem o gosto da Antártica).

15) Comissão julgadora

           A Associação Comercial convida o consulado brasileiro, empresas aéreas e empresas patrocinadoras que indicam os jurados, nem sempre preparados para julgar um desfile de escola de samba. Grande parte da comissão julgadora não entende o português. Os jurados lêem o significado do samba-enredo em japonês, mas não sabem se a letra tem haver com o enredo. Também não conhecem os instrumentos, nem a diferença de um samba-enredo para um samba canção. Quando o Enredo fala do folclore brasileiro, o julgamento torna-se mais complicado papa eles.
           O desfile dos blocos e das escolas de samba vem precedidos de bandas escolares, grupos de motociclistas e de outros ritmos musicais. Apesar de se chamar Samba Carnival, o desfile apresenta de tudo.

Marcello Sudoh
(Publicado na lista Planeta Samba em 2004)

 

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