Arquitetando folias
Justificativa
O
nosso enredo vai contar uma breve história da Arquitetura no Brasil,
enfocando os principais estilos característicos e predominantes em
cada época. Através das Alegorias, vamos mostrar a essência básica
de cada estilo.
As Alas vão ilustrar as folias, modas e costumes predominantes em
cada época, enfatizando festejos e manifestações do povo brasileiro,
formadores da cultura popular, cuja expressão máxima originou o Carnaval
Brasileiro, particularmente, o Carnaval Carioca.
Resumindo, vamos contar 2 histórias paralelas dentro do mesmo enredo;
a história da Arquitetura (Alegorias) e a estória das Folias (Fantasias).
Será interessante verificar que a Arquitetura sem pré esteve presente,
integrada e participativa, desde as primeiras manifestações do povo
brasileiro, com os índios, passando pelos gênios populares, como Aleijadinho,
até culminar com a construção do templo máximo de nosso show maior,
que é o Sambódromo, obra desse nosso notável Arquiteto, Oscar Niemeyer.
Um desfile que:
-
preste uma homenagem
à História de nossa Arquitetura, chamando a atenção para a relação
entre ela e a vida cultural (folias) brasileira;
-
preste uma homenagem
aos arquitetos brasileiros, aqui simbolizados por Oscar Niemeyer;
-
Seja politicamente
correto, falando dos "Arquitetos" populares, como o
caipira Jeca Tatu, na casa de sapê, o talentoso mestiço Aleijadinho,
os nordestinos que ergueram a moderna São Paulo, e os criativos
m oradores e construtores de nossas favelas;
-
que também seja
crítico e atual, cobrando responsabilidades de n ossos construtores,
das edificações perigosas que inclusive desabam, e da exploração
dos corretores imobiliários, vendendo uma sub-arquitetura, camuflada
por prospectos atraentes e propagandas enganosas, iludindo os
incautos que só caem na real quando recebem as chaves do "apertamento"
- espaço exíguo, sem luz e ventilação adequadas;
-
que eleja a Viradouro
(Niterói) como a melhor construção do carnaval no coração de nossos
torcedores e componentes desfilantes.
A sequência na
avenida
São quinhentos e cinco
anos de histórias estórias, divididos em 8 partes:
Parte 1: "Oca à vista"
O descobrimento (ano 1500)
Arquitetura Indígena
Folia correspondente: Festa portuguesa na taba indígena
Parte 2: "Assim na terra como no céu"
O Brasil Colônia (Ano 1500 a 1822)
O barroco brasileiro - Aleijadinho
Folia correspondente: Procissões religiosas
Parte 3: "Querendo ser a corte"
O Império (1822 a 1892)
O estilo neoclássico
Folia correspondente: Batuque na senzala
Parte 4: "Querendo ser Paris"
A República - 1º período (1892 a 1920)
O estilo art nouveau
E o estilo "ecletismo"
Folia correspondente: Entrudo, grandes sociedades, bailes, cordões de
carnaval
Parte 5: "Antropofagia marajoara, querendo ser Brasil"
A República - 2º período (1920 a 1945)
O estilo art deco
Folia correspondente: Batalha de confete e desfile de escola de samba
(pequena África da tia Ciata)
Parte 6: "Reconhecimento
internacional"
A República - 3º período (1945 até os dias atuais)
O modernismo: Oscar Niemeyer
Folia correspondente: Vida nas favelas
Parte 7: "Arquitetura irresponsável / desconstrução"
A República - 4º período (atual)
A memória destruída
Folia correspondente: Reféns presos em condomínios
Parte 8: "Pisando nos astros distraídos"
(Futuro) - A arquitetura espacial
Folia correspondente: A Viradouro é a minha casa
(Seja lá onde ela estiver construída, pois antes a Viradouro está
construída em meu coração)
Sinopse
1 - Nossas primeiras construções, Ocas indígenas, revelam um povo
solidário, partilhados, com várias famílias sob o mesmo teto;
2 - Depois, vem o Estilo "Jeca Tatu" do caipira brasileiro,
com casas de sapê, que traduzem a sabedoria de nosso homem simples;
3 - O Barroco promove o Sincretismo, com negros e índios erguendo
templos católicos brancos, cheios de simbologia de outras crenças
(como búzios e sacis-pererês);
4 - Da Vasa Grande e da Senzala surge o Brasil mulato, brasileirinho
da Silva;
5 - No Império imitávamos Portugal (NeoClássico) e um baile na Ilha
Fiscal fez ruir toda uma era;
6 - Na República queríamos ser Paris (Eclético e Art Nouveau) e o
Prefeito derrubou o centro do Rio para abrir a Avenida Central;
7 - O Decô Brasileiro é único no mundo pela estampa Marajoara;
8 - Nossa arquitetura Modernista é destaque Mundial, o gênio Oscar
Niemeyer desenha um novo Brasil em Brasília e lança Niterói ao Espaço
Sideral a bordão do Disco Voador do MAC (Museu de Arte Contemporânea);
9 - As favelas testemunham uma arquitetura da miséria econômica e
da riqueza cultural brasileira, pois a "pequena África de Tia
Ciata" viu nascer o Samba, até hoje cultuado nas escolas, ruelas
e descidas das comunidades;
10 - Pratica-se atualmente a arquitetura da irresponsabilidade, do
desrespeito à qualidade de vida, onde até prédio desaba;
11 - Mesmo flutuando no espaço, daqui a algum tempo, teremos a Cada
da Família Viradouro;
12 - As Folias (religiosas, culturais, pagãs) sempre circundaram as
construções brasileiras, sendo que vários de nossos conjuntos arquitetônicos
são reconhecidos internacionalmente e tombados pela Unesco como Patrimônio
Cultural da Humanidade;
13 - A Arquitetura Brasileira traduz as diferentes formas de nosso
sentimento de "brasilidade" e por isso cada período tem
sua arquitetura "falante";
14 - A Arquitetura reflete a vida;
15 - O Arquiteto é o poeta das formas.
Um poema de Mário Monteiro para "Arquitetando folias"
A Viradouro arquitetando na folia
Hoje veste a fantasia
Do Arquiteto brasileiro
Construtor de poesias.
Como uma planta que brota no chão
O Arquiteto levanta
Do solo
A construção
Forma, função, conteúdo
Casas, edifícios
Modulados
Tem de tudo;
Habitação popular
Pré construídos
Desabados
Demolidos
Sem terras,
Sem tetos (o morro é a sua nação)
Construindo o impossível,
Salpicando de estrelas nosso chão.
E o Pedro Pedreiro?
Este humilde brasileiro,
Já falava o poetinha:
"erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além, uma igreja, á frente
Um quartel e uma prisão.
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção".
Darcy Ribeiro: Arquitetura é luz para a dignação de um povo
"Oscar Niemeyer é o fato cultural mais importante que sucedeu
ao Brasil. Que seria de nosso passado sem o Aleijadinho? Estaríamos
deserdados, empobrecidos, na mesma proporção em que de, tendo existido,
dignificou o nosso povo. Demonstrou como é quanto, nossa gente mestiça
é dotada da mais alta criatividade artística e cultural. Oscar é a
mesma coisa, hoje. Um longo hoje, feito das décadas que ele vem iluminando
com o seu talento, através de obras de esplêndida beleza, distribuídas
mundo afora"
Ferreira Gullar: Poema lição de arquitetura (1976)
Arquitetura é revelar o açúcar da pedra
"ele não faz de pedra
nossas casas:
faz de asa...
... faz aterrizar uma tarde
uma nave estelar
e linda
como ainda há de ser a vida
(com seu traço futuro
Oscar nos ensina
Que o sonho é popular)...
Nos ensina a amar
Mesmo se lidamos
Com a matéria dura
O ferro o cimento a fome
Da humana Arquitetura
Nos ensina a viver
No que ele transfigura
No açúcar da pedra
No sono do ovo
Na argila da aurora
Na alvura do novo
Na pluma da neve
Oscar nos ensina
Que a beleza é leve".
Revista Arquitetura e Construção:
Arquitetura como espírito, Imaginação e Poesia
"As Ocas são inteligentes... O índio mantém as tradições de seu
estilo de morar. Curvas imponentes sustentam suas ocas, construídas
da mesma forma há mais de 600 anos... Num exemplo de harmonia, ali
convivem até setenta pessoas de uma mesma família..."
"Brasília é o exercício da Arquitetura como manifestação do espírito,
da imaginação e da poesia... O primeiro passo foi marcar o terreno
com uma cruz, como sinal de conquista bem n o centro geográfico do
país. A leveza de seu estilo pousou no cerrado vazio como uma grande
ave de com creto e vidro, instalando ali uma paisagem futurista".
Roberto Segre: Arquitetura como cultura, ideologia e estética
"A Arquitetura, no Brasil e no Mundo, foi sempre condicionada
pelas contradições dos processos sócio econômicos"
"Todas as leituras críticas da arquitetura brasileira coincidem
em valorizar a criatividade e originalidade..."
"As múltiplas categorias da arquitetura contemporânea, leveza,
transparência, distorção, complexidade, ambigüidade, hibridação, dispesão,
desmaterialização, contextualismo, podem se desenvolver com linguagem
diversificadas e representações formais que terão validade universal"
"Não é casual a intensa releitura das obras dos "fundadores",
não é para procurar receitas ou esquemas formais, mas para resgatar
os conteúdos culturais, ideológicos e estéticos que a partir de um
momento histórico, mostraram ao mundo a criatividade deste país. Sobre
este embasamento dialético uma identidade mutante surgirá sempre no
devir arquitetônico"
Milton Cunha, Mário Monteiro e Cacá Monteiro
Dedicado ao sonho Alvo-Rubro de Monassa |