A Viradouro é
só sorriso!
No
principio era só sorriso. Um sopro de bom humor recaiu sobre a autoridade
divina que, inspirado, criou tudo o que há de belo no universo. Mas
ainda tomado por um estado de graça e maravilhado com a própria criação,
deu vida a um projeto ainda mais ambicioso: criar um ser a sua imagem
e semelhança, dotando-lhe de inteligência, sensibilidade e do privilégio
de manifestar uma sensação de prazer e bem-estar através de um gesto
facial iria diferenciá-lo dos outros animais: a capacidade de sorrir.
Mas o
homem estava só e não tinha com quem compartilhar tal habilidade concedida
por Deus, que logo resolveu o problema criandoi a mulher. Ao ficar
frente a frente com a figura feminina, o homem jogou seu melhor sorriso
e um olhar irresistível em direção á futura mãe da humanidade. Com
a ajuda da serpente, que lançou um sorriso matreiro, conquistando
a confiança do casal, deram início ao plano crescer e multiplicar
sorrisos pelo mundo afora.
E depois
de se entregar à galhofa, o homem viu que se levar a sério não tinha
muita graça. No sorriso sem juízo da Antiguidade, os povos viram na
gaiatice uma válvula de escarpe, rompendo o curso natural das coisas
do cotidiano. A imaginação dos gregos tratou de criar figuras como
sátiros, misto de homem e bode, que espalhavam por aquelas terras
a farra de Dionísio, a quem celebravam, sorridentes, com vários excessos
e transgressões.
Em Roma,
o imperador arrumou um jeito de distrair o povo. Pão e circo, uma
dobradinha infalível pra amenizar as tensões sociais. Alimento barato
para o corpo e diversão garantida para os sentidos. O riso a serviço
da afirmação do poder. Ver gladiadores e feras se engalfinhando no
circo máximo romano transformou-se em programa cativo para os habitantes
do grande império do Ocidente. E ria-se o homem diante do sangramento
espetáculo das arenas.
Havia,
porém, quem não achasse nenhuma graça no sorriso, a ponto de considerá-lo
um insulto a criação divina. Qualquer simples demonstração de alegria
ganhava contornos dramáticos na Idade Média. Entramos nos domínios
das trevas do riso confinado num vale de lágrimas. Nas ruas, porém,
o povo caçoava das instituições, via-se num espelho distorcente, ria
de si mesmo e da própria negação do sorriso. E das ruas para os castelos,
os bobos divertiam toda a corte de nobres enfadados com a própria
sisudez. Mas o riso contido de tédio revelado por uma moral inconsistente
renasceria no sorriso enigmático de Mona Lisa e nas comédias de costume
de Moliére.
O sorriso
volta à moda, estampado na face do homem iluminado pela arte de rir
e de fazer rir. Respeitável público, ergam-se as lonas que o palhaço
vem aí, trazendo consigo uma legião de mestres do riso. Desfila pela
nossa imaginação uma grande trupe de operários da alegria, os que
fazem sorrir os homens de boa vontade. Chega também quem acreditou
no amor, no sorriso e na flor e encantou na música uma nova bossa
sincopada. E de canção em canção, o que vale é a arte de sorrir, cada
vez que a vida lhe diz não.
E nessa
arte plena de idéias, a de trocar o dia-a-dia com a graça e simpatia,
o brasileiro arranjou um jeitinho de rir da própria realidade. Sorria,
você está sendo filmado. E o que nos revela a fotograma? Seríamos
Macunaímas dessa tela tupiniquim? Ou artistas que reinventaram a própria
vida no sorriso nosso de cada dia? Abrimos sempre aquele sorriso e
encaramos o cotidiano com o maior bom humor, fazendo das agruras nacionais
uma grande e divertida caricatura.
E do compasso
do traço, vamos ao sorriso sem graça: a dos brasileiros desdentados,
cuja falta de assistência extraiu do povo o direito de sorrir. Entra
em cena, porém, o esquadrão pró-sorriso virando esse jogo com um arsenal
de instrumentos e aparelhos para prevenir e tratar de um dos nossos
maiores males. Olho por olho, dente por dente. Armas em punho, os
soldados da frente de batalha bradam em coro: "Desdentados nunca
mais!" Só assim o nosso país vai poder rir de orelha a orelha.
O sorriso
do folião pintado, bordado e, por que não dizer, estampado com as
tintas da alegria, traduz a felicidade que paira sobre os domínios
de Momo. O riso e o carnaval são companheiros inseparáveis, nascidos
da grande vocação humana para o alto astral. Quanto isso, oh, quanta
alegria! Arlequins, pierrôs e colombinas ganham as ruas, seduzem pelo
sorriso do Rei Momo.
Bandeira
branca, amor! A Viradouro, escola da cidade-sorriso Niterói, pede
paz e sonha que o futuro sorria para a humanidade. Que o mundo se
curve ao poder do puro sorriso das crianças. E que a vida renasça
na paz dos sorrisos serenos dos que lutam por um mundo mais feliz.
No
final dessa história, ri por último, que ri melhor.
Então
sorria! A Viradouro chegou!
Mauro Quintaes
Sugestão do enredo:
Dra. Marisa Maline
Pesquisa: Miguel de Santa Brígeda
Texto: Gustavo Melo

Setores do enredo
com subdivisões:
- Setor 1: E Deus
criou o sorriso
- O Riso no Paraíso
- Deus, ao ver sua criação, sorriu.
- O homem é o único animal que ri.
- Setor 2: Sorrisos
sem juízo na antiguidade
- Antiguidade - Gregos
(sátiros) e romanos (Pão e circo)
- Setor 3: Do sorriso
confinado ao renascer do sorriso
- O Sorriso do Diabo
- As trevas do sorrir.
- O Riso das Ruas na Idade Média
- Mona Lisa - O sorriso enigmático.
- O Sorriso volta aos palcos por Moliére
- Setor 4: A arte
de sorrir
- O Circo - O sorriso
do palhaço
- Grandes Comediantes (Teatro, cinema, TV - O Gordo e o Magro, Oscarito
e Grande Otelo).
- O amor, o sorriso e a flor - Sorriso Bossa Nova
- Setor 5: O riso
em verde e amarelo
- Macunaíma - o anti-herói
da sátira nacional
- Cartunistas - a sátira da política na ponta do papel
- A brasileiríssima simpatia
- Setor 6: O riso
no dia-a-dia
- O sorriso que não tem
graça - os desdentados brasileiros
- A serviço do sorriso - Higiene Bucal
- Esquadrão pró-sorriso - Dentistas
- Setor 7: A festa
do sorriso - O Carnaval
- Rei Momo
- Simpatia é quase amor
- Quanto riso, oh, quanta alegria / Mais de mil palhaços no salão
- Arlequins, pierrôs e colombinas
- Setor 8: Na paz
do seu sorriso
- O sorriso pela paz
- Bandeira branca, meu amor
- Niterói - a cidade sorriso
- O sorriso sereno dos pacificadores ( Gandhi - O sorriso de Madre
Teresa de Calcutá - Martin Luther King)
- Deus sorri aos homens de boa vontade - pela manutenção do paraíso
na Terra. |