O Rei
e os três espantos de Debret
O
Rei é D. João VI. Em 1808, toda a Corte Portuguesa ameaçada por Napoleão,
foi transferida para o Rio de Janeiro. Funda-se o novo Reino de Portugal,
Algarve e Brasil. Em 1816, o Rei providenciou a formação de um grupo
de artistas franceses para implantar artes eruditas nas terras brasileiras.
É organizada, então, a famosa “Missão Francesa”. Entre outras personalidades,
destaca-se a figura de DEBRET, professor de Pintura Histórica. Veio
com a finalidade de ensinar sua arte e também fundar a Escola de Belas
Artes. Aqui chegando, DEBRET documentou, principalmente em aquarelas,
tudo o que viu no Rio e nos outros Estados. Começou pintando a natureza,
flores, frutos e, sobretudo, os costumes dos índios, negros e brancos.
Este trabalho toma-se mais importante pela sua pesquisa. É uma documentação
valiosa sobre a História do Brasil-Império.
Depois de um longo tempo de trabalho, DEBRET volta à França e em Paris
publica os três volumes de sua obra “A Viagem Pitoresca e Histórica
do Brasil”. DEBRET era um pintor completamente envolvido com o Romantismo
Francês. Sua visão sobre o Brasil não poderia deixar de ser romântica.
Esta situação de misturar sentimentos com realidade permitiu, ao carnavalesco,
urna ampla liberdade de criar o enredo ‘O REI E OS TRÊS ESPANTOS DE
DEBRET”.
Que enredo é este? O Rei, já sabemos quem é. DEBRET conhecemos sua
vida e suas obras. E os três espantos?
Vamos por ordem.
Conforme DEBRET mesmo confessa em suas anotações, ao aqui chegar,
vindo de uma Europa civilizada, ele levou um grande espanto. Jamais
tinha visto florestas virgens, nem terras com tanta riqueza mineral,
vegetal e animal. Nem o radioso Sol tropical.
Admirou-se, sobretudo, vendo o índio, o negro e o branco na mistura
de raças. Esse primeiro espanto é história com “h” e está baseado
na obra de DEBRET. É a primeira parte do enredo. O Pitoresco e o Histórico.
E o segundo espanto’? Bem, este já é estória com “e”.
Invenção e criatividade carnavalesca que o Carnaval é para isto mesmo.
Então, vejamos: O tempo passou depois que DEBRET saiu do Brasil no
século XIX. Foi descansar no Céu, ele merecia. Em nossa época a alma
de DEBRET voltar a reencarnar na sua querida França. E, na bela e
imponente Paris dos dias atuais, acontece o segundo grande espanto
deste Homem que renasceu com o espírito de DEBRET.
Ao ler os jornais, revistas e ver a televisão este Homem fica chocado,
ao saber das notícias do Brasil que só falam de matanças de índios,
crianças, devastações de florestas e outras calamidades. Somente isto.
Nada de bom e noticiado. Como um simples cidadão, mas, tendo na alma
as lembranças de sua vida anterior, passada no Brasil, este Homem
resolve vir ao nosso país. Quer saber a verdade pessoalmente. Chegando
ao Rio de Janeiro, vê que muitas coisas mudaram. Algumas das notícias
que lia nos jornais e via nas Tv’s, eram verdades. Mas o Brasil é
muito mais que apenas calamidades. O Brasil é uma grande potência
com desigualdades na sua evolução. DEBRET respira aliviado. Fica um
pouco atordoado ao ver nas ruas do Rio aqueles mesmos vendedores que
existiram no século XIX. Com mudanças incríveis. No lugar do vendedor
de peru, cerâmica ou flores naturais, agora, os vendedores chamados
de camelôs vendem eletrodomésticos, radinhos de pilha, relógios, flores
de plásticos etc. Sua cabeça fica mais aturdida quando vê a nova moeda
o Real.
Lembra-se do Brasil-Império. Vê camelôs com roupagem de nobreza. Muitos
são diplomados em Direito, Medicina, etc. Encontra o povo reagindo
com as mazelas do país. Sente grandes mudanças, e é envolvido por
uma estonteante euforia. O povo vibra com as nossas vitórias em muitos
esportes internacionais. É a garra de uma juventude que transformará
esta nação. Prenúncio de uma nova civilização no alvorecer do terceiro
milênio. Ainda ouve-se, no ar, a voz de 160 milhões de brasileiros
gritando: BRASIL, BRASIL, BRASIL. É CAMPEÃO, CAMPEÃO! É de arrepiar.
DEBRET fica emocionado. A imagem do Brasil está resgatada.
E o terceiro espanto? Aconteceu no carnaval. Este turista francês
com a alma de DEBRET, não poderia perder o maior espetáculo da Terra.
Foi para a arquibancada da Marquês de Sapucaí assistir ao desfile
das Escolas de Samba. Maravilhou-se com todas. Mas faltava a última,
como chave de ouro desta grandiosa festa. O coração daquele turista
francês, palpitou mais forte quando percebeu pelas alegorias, figurinos
e samba que esta vibrante e bela Escola falava dele. Falava de DEBRET
e sua extraordinária presença no Brasil no século XIX. Aquele simples
Homem comoveu-se até as lágrimas quando lhe traduziram a letra do
samba que dizia:
“Vai raiar o dia
o meu terceiro espanto aconteceu
eu sou DEBRET... A minha arte é fantasia
Explode VIRADOURO... O CARNAVAL SOU EU.”
Joãosinho Trinta
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