Metamorfoses: do reino natural à corte popular do carnaval - as transformações da vida
"Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
Lavoisier
Hoje a Vila é senhora do tempo.
No tempo que já passou ou do que está por vir; do sábio tempo que faz soprar o vento das transformações.
E inspirada nas constantes metamorfoses em que vivemos, faz da eterna busca pelo nunca visto e o desconhecido, o tema ideal para o seu carnaval.
Partindo das pesquisas de Darwin, naturalista inglês, que tanto fez para a origem e evolução das espécies decifrar, a Vila vem cantar e exaltar o novo, o diferente, a coragem do descontente, que sabe que a força da gente é ser divergente de quem somente quer se acomodar.
Livre e altaneira, qual borboleta faceira que do casulo se libertou, alcançará um panorâmico vôo através dos séculos, ora para trás e ora para adiante e através desse tema, num instante saberemos o que fomos, o que somos e até o que seremos.
Há muito tempo, lá na África distante, surgiram nossos primeiros ancestrais, mas nada de mais teria acontecido se não tivéssemos logo percebido o que nos tornava diferente dos outros animais. Então como um menino que descobre o poder do conhecimento, fizemos da razão o nosso destino e da vontade a nossa direção.
Aprendemos a caçar e
transformar peles em proteção contra o mau tempo. Lascamos e polimos a pedra, dominamos o metal e o fogo, domesticamos animais e plantas, criamos cidades e monumentos para auto-aclamação.
Nos tornamos senhores do nosso meio cavalgando a arrogância e tomados por cega ignorância, não percebemos os lamentos da natureza que nos abrigava e dava sustento.
Chegamos à Era Medieval dominados pela mediocridade e as doenças destruíam comunidades inteiras. Do alto de nosso trono caótico e decadente, éramos a própria imagem do "ser caído", de Adão descendente, marcado pelo pecado original". O Renascimento humano surgiu através das mãos de escritores, escultores e pintores que passaram a nos colocar como "centro da criação", e qual Fênix, renascidos das próprias cinzas, alcançamos a nossa redenção.
Lutamos, nos adaptamos e mais uma vez sobrevivemos.
Guiados por espírito heróico e guerreiro, derrotamos os monstros do "Mar Tenebroso" da nossa imaginação e seguindo nosso instinto desbravador e aventureiro nos lançamos ao mar em busca de outros mundos encontrar. E assim o "velho encontrou o novo" e "novo" transformou o "velho", modificando os fundamentos do conhecimento dominantes ate então. Lá na França Real, o "bom selvagem" conheceu a realeza, e por sua natureza inspirou a Revolução.
Mas nos temos pressa, muita pressa e embalados pelo frenético ritmo da evolução, fizemos um mundo, aparentemente, girar mais rápido. Dançávamos agora no compasso das grandes invenções: máquinas a vapor e elétricas, carros, trens, telefones, computadores e robôs fazem as pessoas e meio mudarem com impressionante rapidez e o homem por sua vez vai sendo, aos poucos, substituído pelas máquinas que fez.
Nesta eterna busca por absorver o mundo circundante, apenas ser visto como guerreiros e heróis já não era o bastante. Então, cortejando inconscientemente nosso maiores desejos e fantasias, a materializamos através da ficção, surpreendentes imagens da nossa imaginação e assim transpomos o nosso "Eu" curioso e faminto de mundos até às constelações mais remotas e aos segredos profundos da ciência e tecnologia. E neste imaginário reino de todas as possibilidades que nos tornamos senhores das estrelas e galáxias, conquistamos super-poderes e nos tornamos super-homens. E na verdade, toda a realidade nasce das mentes daqueles que conseguem sonhar, então é melhor de nada duvidar!
Com idéia fixa e decida, descontes com a própria imagem no espelho refletida, nos tornamos escravos da perfeição estética e procuramos interferir em nosso lado de fora: cirurgias plásticas, lipoaspiração, próteses de silicone, clareamento da pele ou bronzeamento artificial. Vale tudo transformar para o modelo ideal se tornar!
Não satisfeitos, buscamos também aperfeiçoar o nosso interior ou o lado de dentro: códigos genéticos, cadeia de D.N.A. clones e bebês de projeto. Pode até assustar mas é real, a criação de fato, se transformou em criador. Quem será capaz de nos falar onde isso vai parar?
Mas agora é hora de festa e magia. Vista a sua mais bela fantasia, traga no peito amor e alegria, porque neste momento, como por juramento, não existe nem dor nem lamento.
Então, "abra os braços amor" olha a Vila aí que hoje juntamente com a energia transformadora de seus componentes, promove a inversão do mundo e a eliminação de todas as diferenças entre sexos, crenças, etnias, idades e classes sociais. Através da força de seu canto convoca a todos, de todos os cantos, para participarem do grande baile da igualdade que já vai começar: o sapo vai virar príncipe, a menina simples humilde se transformará em Cinderela, o rico será plebeu, enquanto o pobre se transfigurará em rei e rainha.
Neste mundo atual, especialmente no nosso Brasil, onde as grandes transformações sociais se fazem necessárias e urgentes, louvamos aqui o carnaval, pois na mágica metamorfose refletidas em nossa maior festa, não existem diferenças, todos somos iguais!
Ao apresentar neste carnaval as grandes metamorfoses da vida, gostaria de ressaltar aqui a força da nossa agremiação, que, forte e unida, jamais se deu por vencida e soube transformar por, amargura e decepção em alegria e emoção, para colocar no peito, com legítimo direito, a faixa de campeã.
"Arriba Vila"... Viva ... Eterna Vila!!!
"Que toquem bem alto os tambores, repeniques e agogôs... Imponente vai desfilar a tradicional escola do Bairro de Noel, pois Sambar na avenida de azul e branco é o nosso papel, mostrando pro povo que o berço do samba é em Vila Isabel ".
Cid Carvalho |