Oscar Niemeyer,
o Arquiteto no Recanto da Princesa
Justificativa:
O
enredo versa sobre a vida e a obra do mais conceituado arquiteto brasileiro,
Oscar Niemeyer, com alusão à Princesa Isabel, a redentora, assim chamada
por ter assinado a lei áurea, abolindo a escravidão no Brasil.
Oscar
Niemeyer é carioca de Laranjeiras, estudou na Escola de Belas Artes
e foi diplomado em 1934.
Além
de Brasília tem obras nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São
Paulo e em vários países de outros continentes.
Foi
militante ativo do Partido Comunista Brasileiro do qual se desligou
junto com Luiz Carlos Prestes, mas permanece até hoje com os ideais.
É
autor de várias obras literárias e é considerado um pensador de opinião.
O
Recanto da Princesa ao qual se refere o enredo, obviamente é o bairro
de Vila Isabel, criado pelo Barão de Drumonnd, onde será construído
um centro cultural, projeto arquitetônico do nosso homenageado, e que
certamente será uma marca na cidade do Rio de Janeiro.
Para
a criação do samba enredo não há obrigatoriedade de citação de datas,
lugares, nem nomes de obras do autor. O importante é que seja uma exaltação
poética e emocionante como é o grande arquiteto homenageado.
Martinho da Vila
Rio de Janeiro, 27 de agosto de 2002
Sinopse
Em homenagem à princesa defensora da libertação dos escravos, no século
XIX, o Barão de Drumond, nomeou o novo bairro que surgia, e que havia
sido uma fazenda da família imperial, de Vila Isabel. Um bairro de elite,
mas com idéias sociais e de liberdade, com esses pensamentos propagandeados
e ecoando em cada esquina. A princesa Isabel, acabou assinando a Lei Áurea
em 1888 e a gente recém liberta, comemorou nas ruas, a princesa e a liberdade
que surgia.
“ato de assinatura da Lei Áurea, acabou se transformando em uma grande
manifestação de massa. A cerimônia foi marcada para o Palácio Imperial.
Na hora prevista, dezenas de milhares de pessoas concentraram-se no Largo
do Paço. (...) O ato propriamente dito, caracterizou-se por cenas pouco
protocolares. José do Patrocínio, líder abolicionista, atirou-se ao chão
para tentar beijar os pés da princesa. De toda a cidade chegavam flores,
que quase soterravam a apertada sala. Enquanto isso, sem que soubesse
como, toda a cidade se enfeitava, e multidões tomavam as ruas do Rio de
Janeiro. (...) Nada foi exatamente previsto. A princesa pensava apenas
em ir até a sacada do Palácio, a fim de saudar a multidão e logo, retornar
a Petrópolis. Porém no percurso entre o palácio e a estação de trem, a
rota da comitiva real acabou sendo alterada pelo entusiasmo popular e
transformou-se num desfile triunfal pela cidade. Na sacada, Isabel e a
corte luxuosa, em frente ao palácio, o povo e a esperança. A festa continuou
noite adentro. Ricos, desfilavam em carruagens, remediados zanzavam pelo
centro, negros batucavam nas praças. No outro dia, a festa continuou.
A irmandade do Rosário dos negros, providenciou uma missa no Campo de
Santana. Milhares de pessoas se acotovelavam na praça empunhando estandartes
coloridos. Convocada as pressas, a família real com pareceu para assistir
a cerimônia. No entanto, foi como vitória popular que a festa ficou na
memória.” (Viagem pela História do Brasil)
O tempo passou. Nas décadas seguintes, o “povo de Isabel” ocupou as ruas
da cidade do Rio de Janeiro, excluído pela república oligárquica. Nas
Laranjeiras, local preservado desta paisagem de pobreza, nascia nosso
homenageado, Oscar Niemeyer. Criado no próprio bairro, Niemeyer preferiu,
em sua juventude, mudar de ares. A Lapa, um símbolo do Rio, da Boemia
e do povo, era seu local preferido. Por lá, encantou-se com os improvisos
de uma gente que vivia, quando o óbvio seria apenas, sobreviver. Desde
aquela época, já demonstrava sua aversão pelo óbvio. A beleza estava no
inusitado das curvas da natureza, do linguajar malandro, das músicas e
das mulheres brasileiras.
Depois de formado na Escola Nacional de Belas Artes, Niemeyer
freqüentou o escritório de Lúcio Costa. Participou da Comissão de Planejamento da
construção do Ministério de Educação e Saúde, no Rio, com a supervisão
de Corbusier. Na construção do complexo arquitetônico da Pampulha, MG,
mostrou seu estilo. Revolucionando, consagrou-se, fazendo da curva, a
melhor distância entre dois pontos. A mais bonita, a criativa, a que surpreende.
“Também não me atrai a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem.
O que me atrai, é a curva livre e sensual. Curva do encontro nas montanhas
do meu país, no curso sinuoso de seus rios, nas ondas do mar, no corpo
da mulher perfeita.” (site deOscar Niemeyer)
Entre os frutos e o reconhecimento deste primeiro grande trabalho, uma
missão maior, a nova capital. O sonho de Juscelino, teria projeto urbanístico
de Lúcio Costa, e em Niemeyer, o artista principal . O Palácio da Alvorada,
a Catedral de Brasília, o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto, o
Ministério da Justiça e o Palácio dos Arcos, levaram sua assinatura. Sendo
difícil precisar qual seria o mais bonito, arrojado e sinuoso.
Entretanto, o povo brasileiro, que um dia fora liberto por Isabel, continuava
excluído, e isso incomodava. Entre suas lutas, o fim desta desigualdade,
o nascimento de uma sociedade brasileira igualitária e justa, que seria
concretizada através de uma inusitada curva à esquerda. A convicção e
paixão por esta ideológica curva, levaram Oscar ao exílio nas décadas
de 60 e 70. No exterior, a princípio um castigo imposto por quem governava
o país, obteve mais prestígio internacional, ganhando prêmios e executando
obras de importância mundial. Mesmo que já tivesse participado junto com
Corbusier do projeto da sede da ONU em 1947, foi no período citado que
ocorreu sua consagração, sendo responsável pelos traços de mais de 180
construções na América, Europa e norte da África. Perpetuando seu nome
e o do Brasil, em mais de 20 países diferentes.
De volta ao Brasil, suas obras eram mais que arte. Passaram a ter temas
e funções sociais, levando seu trabalho ao povo, e para o bem dele. Escolas
redentoras idealizadas por Darcy Ribeiro; O Sambódromo; O Palácio da Liberdade
e da Democracia Tancredo Neves; O Memorial da América Latina, num resgate
e preservação das culturas desses povos; o Museu de Arte Contemporânea
em Niterói.
Isabel, a princesa da liberdade, ficou na história e no nome de um bairro.
O povo liberto por Isabel, infelizmente, não encontrou a igualdade. Entretanto,
em nome do povo de Isabel, a comunidade de Vila Isabel, vai à avenida
projetada pelo mestre, Louvar, agradecer e coroar o Gênio, o mito mundial,
a lenda, o lutador, o homem Niemeyer, por ter cumprido a sua parte. O
canto da poesia ( A vila de tantos poetas), num canto, à poesia de seus
passos e de seus traços. O canto de gratidão, feito por essa gente do
recanto da princesa.
Nossa sede era nossa sede, mas foi saciada nessa fonte inesgotável de
sabedoria e criatividade, chamada Oscar Niemeyer, que acaba de traçar
mais uma curva social e cultural, mudando os rumos de nossa comunidade,
hoje, o povo de Isabel...
Viva Niemeyer, Viva a princesa, Viva o povo, Viva a Vila
Jorge Freitas
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