"EU
SOU ÍNDIO E TAMBÉM SOU IMORTAL"
É ... nós vamos fazer 500 anos. Quanta coisa
aconteceu. Crescemos, acertamos, erramos, vivemos. Atualmente temos
fama de muito versáteis, criativos e principalmente um povo muito
alegre. Lançamos até moda no jeito de viver: " O Jeitinho Brasileiro."
Formamos um triângulo de raças, índio, branco e negro, muito facilitado
pelo comportamento lusitano " Ao chegar, o Português provava
todas as frutas e fecundava todas as mulheres."
Não
há dúvidas de que somos impregnados de heranças em nossos DNAs dessas
três raças da humanidade. Abordando como tema os 500 anos as escolas
de samba do grupo especial contarão a nossa história desde o começo
até os dia de hoje. A cada agremiação coube uma parte e é com muito
orgulho e honra que à nós Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos
de Vila Isabel, coube a história de nosso talvez irmão mais velho.
A Vila vai falar sobre os primeiros habitantes da terra, vai mergulhar
na vida, costumes, comportamento e personalidade de nosso índio. Julgamos
ser indiscutivelmente oportuno fazermos uma reavaliação sobre o nosso
comportamento em relação a esse filho primogênito da " MÃE NATUREZA"
O
Caminho parece fácil porém, é certo que devemos aprender amá-lo e
respeitá-lo precisando para isso aprender a entendê-lo. Se bem observarmos
veremos que talvez mais que uma reunião de costumes ou hábitos "esquisitos",
como a maioria tem defendido sua filosofia de vida, há uma comunhão
absolutamente perfeita entre o índio e a natureza que, nesses tempos
de preocupação com a saúde da Terra, esse nosso irmão é no mínimo
ecológicamente correto. Tal qual a natureza, sua vida é uma poesia
cujo tema principal é a própria natureza, o seu paraíso.
Suas
vidas são repletas de contos, mitos, prosas e muita poética. Sua história
foi conservada a sua maneira quase que como colunas e vigas formando
o grande templo de sua literatura particular. Talvez não haja agremiação
mais adequada para decantar essa literatura que a Unidos de Vila Isabel.
Tendo sido durante muito tempo endereço de tribos indígenas veio a
se tornar no início do século XX grande reduto de fabulosos poetas
que se imortalizaram com suas obras, muitas delas gravadas em suas
famosas calçadas musicais.
Hoje
a Vila vem mostrar o que é ser índio e que ele também é imortal.
"Ser índio é viver diferente, enfeitado, andando
pelado, cantando, vivendo na floresta comendo comidas naturais. Ser
índio é saber caçar de flecha e de borduna.
Ser índio é viver na aldeia.
Ser índio é ser lutador.
Ser índio é saber cantar, cabelo comprido ou curto, saber pescar de
canoa, respeitar o espírito do pajé e as histórias que os mais velhos
contam.
Ser índio é ter sua semente pra plantar
Ser índio é saber que é dono de sua própria terra.
Ser índio é namorar muito pra crescer mais porque somos poucos."
A
floresta ao mesmo tempo é fonte e camuflagem escondendo uma literatura
particular onde o principal argumento é a comunhão entre o homem e
a natureza. Não é difícil percebermos que na sua inocência sábia afloram-se
dons que passam por várias categorias da arte até atingir ápice com
os emocionantes rituais e cerimônias com traços meticulosos de cenários,
figurinos, roteiros, coreografias e orquestração de primeira qualidade.
É sobre essa via literária escrita em sua linguagem própria que vamos
falar. Passearemos nesses sonhos de norte a sul, de leste ao oeste
fechando um círculo que será a busca de nossa própria identidade.
Vamos atracar nesse Porto Seguro e com nosso índio penetrar e sermos
levados pelos sonhos que pra nós talvez seja a mais pura poesia. No
começo de tudo vamos morar no céu, ser caiapó e com eles descobrir
a terra. Ir buscar o fogo e ter coragem de vencer dificuldades. Ver
tudo se transformar, ver homem virar bicho, e bicho virar homem. Do
Urubu Rei vamos tomar a luz do sol e a magia do luar e sob a luz da
lua vamos nos apaixonar pelas Iaras dos igarapés, provar ser Guerreiros
e Deusas conquistar. Escreveremos essa história com urucum e jenipapo,
cantando e dançando, fazendo cerâmica da terra e tudo mais que ela
possa nos dar. Vamos aprender a ser feliz, a comemorar a vida, cantar
e dançar para o amor, para os animais, para os rios e para a natureza.
De norte à sul de leste à oeste, de kuarup aos bois bumbás, com curupiras,
boiúnas e baíras. Nosso índio tem muito que nos ensinar.
Poesia
e natureza. Uma filha da outra. Existem independente de nossos desejos.
Mas porque não desejar? Porque não louvar a criação ovacionando esse
espetáculo com nossos aplausos. Vamos fazer então a comunhão de nossas
mentes com que realmente é sagrado. Vamos falar de peito aberto SUPYSÁUA.(
é uma expressão em nheêngatu que significa" a verdade somente
a verdade"). Nessa grande cerimônia de louvor a criação, guiados
pelos nossos corações, comandados pela inocência do índio que puro
de espírito, com certeza por vontade maior, ocupa o cargo de embaixador
deste paraíso chamado Brasil.
É
hora de ouvir. Nós temos um irmão especial, ele é índio e também é
imortal.
Oswaldo Jardim
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