Luiz Gonzaga - Lua Viajante
(Reedição do Samba da Escola em 1982)
Justificativa
Trata-se de uma reapresentação do enredo da Unidos de Lucas no Carnaval de 1982,
Luiz Gonzaga – Lua Viajante, de Autoria de Carlos D'Andrade, tendo como compositores do Samba enredo os consagrados Zeca Melodia, Dagoberto de Lucas e Dona Gertrudes, esta, uma das pioneiras como compositoras de Samba Enredo no Carnaval Carioca. O Samba Enredo de autoria desses renomados compositores foi condecorado como melhor Samba Enredo do grupo de acesso “A”, tendo sido premiado pela crítica. Com o
Prêmio Estandarte de Ouro. Devido ao grande sucesso que representou o Enredo
Luiz Gonzaga – Lua Viajante bem como o sucesso alcançado pelo Samba Enredo e pela forma como é sempre lembrado nos ensaios da Escola, e de outras agremiações, optou a Unidos de Lucas pela reapresentação. A decisão tomada pela diretoria da Escola foi referendada por todos os amigos, simpatizantes e componentes da agremiação e também pela crítica especializada. Ademais, trata-se de uma homenagem ao inesquecível Lua Viajante um Astro da Nossa Música Popular, que à época participou da gravação do Samba Enredo tocando o seu Fole Prateado e também cantando com Abílio Martins intérprete da Escola e renomado no mundo do samba. O nosso Lua, indo além, também honrou a Unidos de Lucas e brindou a Passarela do Samba com a sua participação no desfile. Muitíssimo honrada a Unidos de Lucas registra e carrega consigo esse fato inédito, essa “DÁDIVA DO CÉU” que sem dúvida, merece lugar de destaque nos anais do Carnaval e do Samba da Cidade do Rio de Janeiro. Tudo isso porque “Vale
um tesouro o que fez por merecer” como registra a letra do Samba Enredo, e não poderia ser diferente Lua, “Hoje
a vermelho e ouro” emocionada e honrada novamente “Vem
cantando pra você”.
Sinopse
Nas pesquisas realizadas pela Comissão de Carnaval da Unidos de Lucas encontramos:
Palavras dele o nosso homenageado Luiz Gonzaga – Lua Viajante.
“Gostaria que lembrasse muito de mim, que sou filho de Januário e de Santana,
que decantei os pássaros, os animais, os valentes, os covardes, os
pobres, os beatos e o Nordeste. Gostaria que lembrasse que esse
sanfoneiro amou muito seu povo e o seu Nordeste."
Histórico
e Justificativa do enredo:
Luiz Gonzaga – Lua Viajante
Sertão de Pernambuco, Cidade de
Exú, madrugada de 13 de dezembro de 1912. Diante da expectativa do nascimento de seu filho,
Januário, um humilde lavrador, mas também um sanfoneiro muito conhecido e respeitado na região, observa da varanda de sua casa, cruzar no azul violeta do céu de
Exú, uma zelação, estrela cadente que simboliza para o sertanejo proteção e boa sorte.
Para Januário era o prenúncio da brilhante carreira de um filho da terra que acabara de nascer e mais tarde, abençoado, viria a se tornar um dos maiores nomes da
Música Popular Brasileira, um ídolo e o principal
representante e defensor da música Nordestina no Brasil.
Luiz Gonzaga, instrumentista, cantor e compositor conseguiu com seu inegável talento estampado em cada uma das suas canções e através de sua vasta discografia retratar a vida, os costumes e o folclore do nordeste brasileiro.
Sua voz consagrada pelo seu povo como a “Voz do Sertão” superou preconceitos, rompeu todas as fronteiras revelando um repertório verdadeiramente simples e autêntico que até hoje conduz o nordestino as suas origens àquela terra de um
solo vermelho-alaranjado, rachado pelo sol escaldante a terra dos
cangaceiros, vaqueiros, terra das caatingas, mandacarus, carcarás e
gaviões, e da asa branca, a pomba cinzenta do sertão. Tudo isso contado e cantado com amor, orgulho e alegria, e com uma
identidade cultural com o sertanejo, com o lavrador, com o
vaqueiro do sertão, enfim, com o homem do campo em geral. Luiz
Gonzaga
foi esculpindo em notas musicais a cara e revelando a alma do povo
nordestino. Cantou as dores, as alegrias e os amores de um povo que ainda não tinha voz, escreveu
Luiz Gonzaga, com suas canções, a epopéia do nordeste de forma simples, colorida, bonita e grandiosa, mostrando assim, do seu jeito simples, natural e verdadeiro, a realidade daquela região. A identidade cultural do nordeste e de seu povo se entrelaça com a vida e a obra de
Luiz Gonzaga o menino filho de
Januário e de
Santana que desde cedo despertou a curiosidade pela
sanfona, instrumento típico daquela região que também era tocado pelo pai
Januário. Assim
Luiz Gonzaga passou a toca-la, abraçando-a com todo o amor e afeto.
Luiz Gonzaga aprendeu a tocar a
sanfona de oito baixos de seu pai
Januário
passando a acompanha-lo, cantando e tocando nas
feiras, festejos e forrós. Então esse sanfoneiro, ainda muito jovem, fugiu de casa, foi para o Crato, daí para Fortaleza onde matriculou-se na Escola do Pobre tendo, em seguida, ingressado nas fileiras do exército isso na década de 30. Por força da Revolução de 30 percorreu muitos lugares tendo chegado a Juiz de Fora (MG). Quando deixou o exército em 39, comprou sua
grande companheira, uma sanfona prateada (fole prateado) e assim, determinado, tocado pela
fé e esperança,
Luiz Gonzaga decidiu seguir para o
Rio de Janeiro, onde para sobreviver, passou a se apresentar nas
ruas, nos bares da zona de prostituição carioca, nos
cabarés da Lapa e nos inferninhos da Praça Onze, tocando boleros, valsas e tangos para os
marujos e prostitutas e também para os
irmãos nordestinos que nesses lugares se reuniam. Sentindo no olhar dos irmãos nordestinos, a carência que eles tinham de ouvir
coisas da terra, passou então a cantar, com grande sucesso,
xaxados, xotes, chamegos e cocos.
Com muita fé, garra, determinação e esperança,
Luiz Gonzaga foi levado a tentar uma vaga no
Programa de Calouros de Ary Barroso, na Rádio Nacional, principal emissora de rádio na década de 40.
E foi nas ondas da Nacional, no Rio de Janeiro, que
Luiz Gonzaga,
tocou pela primeira vez uma canção de sua autoria, “Vira
e Mexe” sendo ovacionado delirantemente pela platéia do programa, conquistando também a admiração e simpatia do rígido apresentador
Ary Barroso. E de tudo isso resultou um contrato assinado com a
Rádio Nacional
e a gravação de dois elepês de 78 rotações. Assim, em retribuição ao seu povo que por ele nunca fora renegado, procurando sempre ser um artista ligado as suas raízes, deixou de lado o terno e a gravata, traje usado pelos artistas da época, e foi buscar na figura de
Lampião uma forte marca nordestina, doravante passando a se apresentar com trajes típicos de
cangaceiros do Nordeste brasileiro.
Por seu inegável e reconhecido talento, foi galgando os degraus da fama, conquistando a simpatia de muitos e do ator Paulo Gracindo, carinhosamente, ganhou o apelido de
Lua em razão do seu rosto arredondado. O nosso Lua passou a percorrer o Brasil realizando diversos shows consolidando a sua carreira como instrumentista, cantor e compositor.
Luiz Gonzaga, dentre outros, foi parceiro de Humberto Teixeira, de Zé Dantas
sendo responsável pela criação de um ritmo, estilo e temática de
uma nova categoria musical, o Baião do qual o nosso
Luiz Gonzaga – Lua Viajante se tornou
o rei.
A parceria com Humberto Teixeira, rendeu à
Luiz Gonzaga, grandes sucessos como: “Meu
pé de serra”, “Baião”, "Assum Preto”, “Respeita
Januário”, e entre outras a consagrada composição “Asa
Branca” , considerado por muitos um hino que narra a
trajetória nacional do Nordestino e sua saga.
Já com Zé Dantas, ficaram mais identificados os costumes e a cultura nordestina, como o “Xote
das Meninas”, “ABC do Sertão” , "Cintura
Fina”, “Vozes da Seca” entre tantas outras.
Mas seria com o parceiro Hervê Clodovil que ele comporia a canção que se tornaria o
retrato de sua própria vida, “A Vida do Viajante”.
Luiz Gonzaga, o Lua
Viajante, serviu ainda de intérprete para outros compositores cantando diversas canções que falavam de amor e saudade do sertão,
emprestando seu estilo próprio a diversas cantigas compostas para os
festejos juninos que fortemente marcam o folclore
nordestino.
Luiz Gonzaga, o “Gonzagão” como mais tarde também veio a ser chamado em razão do surgimento do sucesso musical do seu filho
Gonzaga Júnior, o “Gonzaguinha”, com suas canções levou para as apresentações e registrou em discos ritmos e batidas sensacionais com destaque para o
Baião, aperfeiçoando a linha melódica desse maravilhoso e
eternizado estilo musical, e por isso, foi considerado o Rei
do Baião, criador desse gênero musical que até hoje faz parte do repertório de diversos cantores de sucesso e que simboliza o que se tem de melhor da musicalidade regional nordestina. Ele foi e sempre será a
representação máxima da alma do povo nordestino, página eterna na
história de sua gente, orgulho de todo povo brasileiro. Foi ele que apaixonadamente abraçado ao seu
fole prateado, ostentando seu tradicional chapéu de couro, quem abriu a porta para tantos outros artistas nordestinos hoje consagrados, como nosso
Lua, no Brasil e no Exterior. Em 1989, quando do seu falecimento,
Gonzagão marcava a música, a cultura e o folclore brasileiro de forma
incontestável e brilhante, com uma carreira consolidada e reconhecida também no exterior. Sua obra como compositor é tão vasta que nem ele próprio conseguiu o seu exato controle. Por isso, como de forma simples e autêntica revela o Samba Enredo da
Unidos de Lucas: “Vale
um tesouro o que fez por merecer”, ele, o
Luiz Gonzagade sempre e de
todos nós, nos legou um vasto acervo musical em
verde, amarelo, azul e branco que realmente vale um imenso tesouro.
O nosso “Lua Viajante” é até hoje o maior expoente da
música que representa a cultura nordestina, sendo a referência e
identificação do povo do sertão que marca presença por esse nosso Rincão Brasileiro em diversos movimentos musicais. E o nordestino tem na obra de
Luiz Gonzaga o retrato da própria vida, por isso, segue levando-a em frente e sem medo de vive-la intensamente, visto que, por obra do
Divino, vez por outra, cruza o céu da cidade grande e do
agreste uma zelação como sustentáculo de fé
e esperança.
Inegável a identidade do Rio de Janeiro e do povo
carioca com o Nordestino que tem seu marco inicial no bairro de São Cristóvão onde chegavam os “paus
de arara” que transportavam para a cidade grande a esperança
dos retirantes do sertão. Pelos nordestinos que ali se reuniam foi criada a Feira de São Cristóvão a
capital do Nordeste na nossa Cidade Maravilhosa. Hoje passados 60 anos, todo esse elo e acervo cultural, foi consolidado, abrigado em monumento, magnificamente batizado de
Centro de Tradições Nordestinas
Luiz Gonzaga que se tornou mais um ponto turístico da Cidade do Rio de Janeiro.
E assim, a Unidos de Lucas, no seu desfile contará pequena parte da imensa história do imortal
Luiz Gonzaga – Lua
Viajante.
Realmente "Somente as dádivas do céu poderiam ofertar tanta
grandeza", como muitíssimo inspirados disseram, para
sempre os compositores do samba enredo da Unidos de Lucas, os saudosos
Zeca Melodia, Dagoberto de Lucas e Dona Gertrudes.
Ricardo Machado e Jairo de Souza