FICHA TÉCNICA 2003

 

Carnavalesco     Milton Cunha
Diretor de Carnaval     Luis Carlos Bruno
Diretor de Harmonia     Ricardo Fernandes
Diretor de Evolução     Ricardo Fernandes
Diretor de Bateria     Marcelo Campos Silveira (Mestre Celinho)
Puxador de Samba Enredo     Edson Marcondes (Nêgo)
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Rogerinho & Lucinha Nobre
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ...............................................................
Resp. Comissão de Frente     Nino Giovanetti
Resp. Ala das Baianas     Maria Cecília de Souza (Lia)
Resp. Ala das Crianças     Não possui

 

SINOPSE 2003

Agudás: os que levaram a África no coração e trouxeram para o coração da África, o Brasil!

           Ideiais de liberdade da negritude vitoriosa sacodem a Sapucaí: os tambores que batem no Brasil na bateria de Mestre Celinho, ecoam no coração da África, para lembrar a todos no carnaval, que o povo negro continua a escrever e festejar o seu destino; destino este misterioso e destemido, sempre buscando pelos sistemas de adivinhação da África (cordões, táboas, camis, caroços-odus). Orunmilá, o revelador / guardador e Ifá, o próprio Destino, se abraçam e debruçam-se sobre a Unidos da Tijuca para juntos apresentarem a epopéia Agudá, que em si guarda todas a faces da negritude: a dolorosa, a agressiva, a serena e a já citada vitoriosa.
           Rodam nossas baianas, sobe na noite o arrepio de toda a trajetória de luta dos escravizados, viajando sobre águas da rainha cujos filhos são peixes, onde ondas e vagas que trazem almas e sofrimentos de um continente para o outro. É a África que está vindo para o Brasil, trazendo lembranças culturais como bagagem: comidas, religiosidade e sabedoria em forma de negritude dolorosa.
           Dança o Borel, e gritos revoltados contra a escravidão são ouvidos: é a luta pela liberdade, em atitudes de negritude agressiva; que fará com que senhores brancos e antigos escravos voltem ao ponto de partida. É o Brasil que está voltando para a África, levando na bagagem lembranças culturais de uma vida "à brasileira": comidas, religiosidade, arquitetura e sabedoria ameríndia.
           Praias africanas que um dia os viram partir, agora presenciam o refluxo de espumas flutuantes, e ventos que reconduzem almas e experiências, para ver brilhar as luas selvagens sobre tambores ancestrais primitivos; eles dizem:
           Agudás...Agudás...Agudás...gente estrangeira, gente brasileira...irmãos que já estiveram e que já foram daqui.
           Agudás...Agudás...Agudás...gente meio preto meio branco, gente que mistura na alma o Benin e o Brasil. A África e a América.
           Agudás...Agudás...Agudás... os retornados! Retornados que levaram o acarajé e desenvolveram feijoada; que levaram abará e devolveram "cozidou"; que levaram vatapá e devolveram cocada baiana; que levaram Exu e nos relembraram Oxossi; que navegaram com Iemanjá e nos trouxeram o Senhor do Bonfim; que levaram o nosso sangue morando neles e trouxeram as contruções coloniais brasileiras; que levaram a África no coração e trouxeram para o coração da África, o Brasil!"
           Na Passarela do Samba, a força do encontro entre a serpente-dragão do anel de D. Francisco Félix de Souza, o Chachá I, cujo hálito é o poder do senhor branco negreiro; e o negro malê Inácio Paraíso, ambos construindo o cotidiano das realizações Agudás na África. O primeiro fundando a dinastia mestiça do Dagoun, e o segundo liderando os muçulmanos na construção da Grande Mesquita em estilo colonial brasileiro. Deste aperto de mão, o Brasil se consolida na África em negritude serena.
           Mais uma vez o "tambor" de nossa bateria: agora é a fanfarra da "Irmandade dos Descendentes de Brasileiros", desfilando garbosa pelas ruas de Porto Novo, Benin, fazendo o "desfile das bandeira no carnaval do Senhor do Bonfim". Lá vem as crianças dançando a burrinha e componentes segurando lanternas e bonecos. Em algum ponto remoto na lembrança destes Agudás, novamente o tambor ecoa:
           Agudás...Agudás...Agudás... aqueles que levaram o semba e trouxeram de volta o samba.            Agudás...Agudás...Agudás... "foi umbigada e voltou dançando o cordão de carnaval".
           Este enredo faz o Brasil retornar com a Unidos da Tijuca à Corte do Rei Abomé (ou Daomé). A grande festa aconteceu em 16 de fevereiro de 1996: o Chachá VIII, senhor de Uidah, com sua comitiva de quase 100 Agudás são outorgados com os atributos do poder da corte de Abomé, por sua majestade o rei Agoli-Agbo, do Daomé em cerimonia de negritude vitoriosa, pois é diálogo inter-étnico, destacando Agudás, Fons, Mina e Nagôs não por oposição, mas por contrastes.
           A corte dos Agudás, impecavelmente vestida à brasileira, dançando samba e cantando canções da burrinha, louvando Chachá em linguagem Fon. O rei de Abomé representando com sua corte o vigor da cultura Daomeana, louvando em linguagem Mina.
           Dançam África e Brasil no grande Xirê dos Orixás no coração do continente negro. Dançam a Tijuca e os Agudás com os ancestrais que tanto sofreram e que nesta festa encontram a redenção.
           O círculo se fecha; a roda do destino cupre sua derradeira volta: é Obatalá majestoso que abre seua braços gloriosos da fraternidade.

Milton Cunha

Cronograma do Desfile

O Setor um vem mostrando o Destino, as consultas aos oráculos, os ideais de liberdade e de negritude.
Abertura: Xirê dos Orixás e Ala das baianas
Alegoria um (o Pavão e os milagres de fé da negritude vitoriosa)
O Setor dois traz a viagem sofrida e as lembranças do continente deixado
Ala africanos, Ala baianinhas e Ala Brasileiros
Alegoria dois (Ligação África / Brasil: águas da Rainha cujos filhos são peixes)
O Setor três retrata o início da Dinastia Dagoun (e seu anel) e o período da escravidão na Bahia
Ala Navios Negreiros, Ala dos Chachás, Ala a serpente na mitologia africana e ala Dinastia Dagoun: a serpente/dragão
Alegoria três (Chachá, o traficante de escravos e a Dinastia Dagoun)
O Setor quatro demonstra o sincretismo cultural e o inícia do refluxo
Ala noite árabe, Ala muçulmanos na África, Ala revolta malê e deportação e ala paraíso e a grande mesquita
Alegoria quatro (Baianos maleses liderados por Ignácio Paraíso e a grande mesquita)
O Setor cinco apresenta a cultura brasileira, especificamente o Carnaval do Senhor do Bonfim e a burrinha
Ala das burrinhas, Ala da bandeiras, Ala de passistas, Bateria: a Fanfarra, Ala das lanternas e Ala dos bonecos
Alegoria cinco (Carnaval brasileiro no Benim)
O Setor seis expressa as influências recíprocas na culinária e a arquitetura
Ala veio acarajé e voltou feijoada, Ala veio abará e voltou cozidou, Ala veio vatapá e voltou cocada baiana, Ala colonial brasileira e Ala leão na arquitetura
Alegoria seis (O Brasil na África)
O Setor Sete encerra o desfile com a festa onde o Chachá VIII foi recebido na corte do rio de Abomé (ou Daomé)
Ala dos antílopes na Bengala, Ala enfante na Bengala, Ala damas agudas vestidas "à brasileira", Ala das damas da corte de Abomé e Ala dos grandes pára-sol de Abomé
Alegoria sete (A festa dos orixás - búfalos e cavalos mordendo os freios)
Ala velha guarda / Ala da delegação da Unesco.

Milton Cunha

SAMBA ENREDO                                                2003
Enredo     Agudás: os que Levaram a África no Coração e Trouxeram para o Coração da África, o Brasil!
Compositores     Rono Maia, Jorge Melodia e Alexandre Alegria
Obatalá
Mandou chamar seus filhos
A luz de Orunmilá
Conduz o Ifá, destino
Sou negro e venci tantas correntes
A gloria de quebrar todos grilhões
Na volta das espumas flutuantes
Mãe África receba seus leões

No rufar do tambor ôô
Atravessando o mar de Yemanjá
No sangue trago essa chama verdadeira
Raiz afro-brasileira, sou Agudá

Quem chega a porto novo
E raça, é povo e se mistura
De semba se fez samba
Um carnaval pelas culturas
Na fé, de meus orixás
Axé meu delogun
Temor e proteção ao anel do dragão de Dagoun
A união é bonita
E a gente acredita na força do irmão
No continente africano a ecoar
A epopéia Agudá vitoriosa face da razão

Tem cheiro de benjoim no xirê, alabê
Prepare o acarajé no dendê
Salve o chachá, salve toda negritude
A Tijuca vem contar uma história de atitude