Terra dos Papagaios: Navegar foi preciso!!!
Prefácio
Há 500 anos atrás, num continente perdido,
atracou uma esquadra vinda do velho mundo e lá encontraram seres ornados
de penas multicores, corpos pintados, portando arcos e flechas, e
felizes.
Parecia ser uma nação na qual todos desfrutavam de uma enorme terra
onde tudo que se plantava, colhia-se; seres exuberantes voavam colorindo
os céus e uma densa e verdejante floresta acolhia a nação afetuoso
que, por muitos séculos, viveram esperançosos, matreiros e cheios
de alegria.
Este
enredo, dedico aos índios do Brasil.
Capítulo I - O Mar Tenebroso
Conta a lenda que, no século IX, uma ilha misteriosa
povoava a imaginação e a cartografia da Idade Média. Essa ilha mitológica
"ressonante de sinos sobre o velho mar" se afastava no horizonte
sempre que um marujo dela tentava se aproximar.
Conhecida
como "Ilha Brasil de São Brandão", foi também chamada de
"Hy Brasil", a ilha localizada no oceano do medo, dos aventureiros
e das conquistas, cuja fama era "Mar Tenebroso". Suas águas
desconhecidas acreditavam que eram habitadas por criaturas monstruosas;
terríveis tempestades eram acompanhadas de raios fulgurantes que iluminavam
suas traiçoeiras águas escuras e calmarias eram o prelúdio da morte
a quem neste se aventurava.
Capítulo II - O Venturoso
Anos mais tarde, 1500, do Porto de Restelo,
em Portugal, uma frota imponente formada por 10 naus e 3 caravelas
zarpou de Lisboa, deixando para trás o oceano de prantos e bençãos.
As
velas foram içadas ao ritmo dos apitos, sacralizada pelas imensas
cruzes vermelhas da Ordem de Cristo desfraldadas nos céus do Velho
Mundo naquele início de Primavera.
A
missão era instalar uma feitoria na índia mas, antes de partir, Pedro
Álvares Cabral - que comandava a expedição - encontrou-se com Vasco
da Gama, o descobridor das Índias, que redigiu instruções náuticas
para o futuro descobridor do Brasil.
Cabral
partiu com os manuscritos que Vasco da Gama lhe confiara e a imagem
de Nossa Senhora da Boa Esperança.
Lançada
nos braços do tenebroso, a expedição perde a rota e sua tripulação
é convidada a viver uma grande aventura.
Após
quarenta dia perdidos, uma vela furada levou um marujo a subir ao
cesto da gávea e deparar com o cume de um monte e um grito de "Terra
a Vista" ecoou pelo Atlântico.
A
frota avançou ao longo da costa, contemplando grandes barreiras vermelhas,
outras brancas... eram as fabulosas falésias em tons róseos que compunham
os costões e as praias inaugurais da terra que os portugueses acabavam
de achar.
Assim,
uma nova terra Cabral descobria: Vera Cruz, a terra da verdadeira
cruz.
Capítulo III - Terra Papagallis
"Eram criaturas que pareciam macacos porque
andavam muito eretos e apontavam para nós".
Este
foi o primeiro impacto dos portugueses diante dos nativos da nova
terra e esses, por sua vez, acreditavam que eram os deuses como monstros
flutuantes, e olhavam perplexos da praia, armados de arcos e setas.
O primeiro contato estabelecido entre brancos e índios se deu quando
dois marujos mandados em missão á paria jogaram na água um gorro vermelho
típico dos lusitanos; os nativos retribuíram com um "cocar de
penas vermelhas e pardas como as de papagaios".
A
convite do comandante Cabral dois guerreiros foram recebidos na caravela
com grande pompa, como se fossem emissários de uma poderosa nação.
No encontro, tudo foi mostrado e provado e tudo repugnaram e demonstraram
entusiasmo maior, uma alegria infantil, diante de um simples rosário
de contas brancas. De certa forma
iniciava-se ali uma aliança que escreveria a história da terra que
mais tarde se chamaria BRASIL.
A
troca de presentes ainda se estendeu... Trocavam gorros vermelhos
e outros aparatos portugueses por araras e papagaios, até então inéditos
aos lusos. A impressão que tais aves causaram entre os marinheiros
e a corte foi tal que, em dois "Mapa-Mundi" encontra-se
o litoral da nova terra bordado por um friso de araras e papagaios
e, antes de seu nome ser "Terra do Brasil" foi, por três
anos, a "Terra dos Papagaios".
Mais tarde, por essas trocas, disseram os portugueses: "Na Terra
dos Papagaios é preciso saber dar presentes com
generosidade e sem parcimônia porque os gentios que lá vivem encantam-se
com qualquer coisa, trocando sua amizade por uns guisos, e sua alma
por umas contas".
Capítulo IV - Carta ao Rei
Dias mais tarde, Pero de Vaz de Caminha escreve
ao Rei contando do achamento da nova terra.
Dos homens, dizia:
"A
feição deles é de serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos
e bons narizes bem feitos; andam nús, sem nenhuma cobertura, nem estimam
nenhuma coisa cobrir, nem mostrar suas vergonhas, e estão acerca disso
com tanta inocência como têm em mostrar o rosto".
...Davam-nos
aqueles arcos e setas por sombreiros e carapuças de linho, e por qualquer
coisa que os homens queiram dar".
"Ali
andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças, bem moças e bem
gentis, com cabelo mui pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas
tão saradinha e tão limpas metade da sua própria de cabeleiras, que
de a nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha".
Da Flora:
"Enquanto
andavam nesta mata, a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios
por essas árvores, deles verdes e outros pardos grandes e pequenos,
de maneira que me parece haverá nesta terra muitos";
..."Entre
esse arvoredo, que tanto e tamanha e tão basto e de tantas plumagens,
que lhe pode homem dar conta".
Da Terra:
"Eles
não lavram, nem criam, nem há por aqui boi, nem vaca, nem vaca, nem
ovelha, nem galinha, nem outra alimária que acostumada seja ao viver
dos homens, nem comem senão desse inhame que aqui há muito, e dessa
semente de frutos, que a terra e as árvores de si lançam".
..."Senhor,
que a inocência desta gente é tal, que a de Adão não seria mais quanto
em vergonha".
Esta
carta tornou-se a certidão de posse oficial da Terra do Brasil.
Capítulo V - Em nome de
Cristo
Estando a esquadra de Cabral em missão para
a Igreja e o Rei, antes de partir toda a tripulação foi autorizada
a deixar as naus e "cantando em maneira de procissão", com
os estandartes da Ordem de Cristo erguidos à sua frente, os marujos
seguiram em direção ao local onde uma cruz seria fincada para que
ficasse um símbolo da devoção daqueles navegantes á fé cristã. Os
nativos acompanharam e se juntaram à romaria; quando os portugueses
se ajoelharam, os índios que ali estavam fizeram o mesmo.
Apenas
com a presença do santo madeiro, transfigurou-se a mata numa bela
catedral natural com belos troncos de árvores, flores exuberantes
e graciosas, papagaios multicores que observavam curiosamente.
Em
nome de Cristo, estava crismada a Nova Terra.
Epílogo
Quinhentos anos após o achamento do Brasil,
os herdeiros desses descobridores, hoje nossos irmãos, mostram sua
atuante presença e comemoram na maior festa popular da Terra de Santa
Cruz os cinco séculos da Terra dos Papagaios.
FELIZ ANIVERSÁRIO
BRASIL!
Sinopse dos
Compositores
UNIDOS DA TIJUCA 2000
Apresenta TERRA DOS PAPAGAIOS... Navegar Foi Preciso !!!
Há quinhentos anos atrás alguns jovens portugueses
se aventuravam pelo mar tenebroso, navegando pelo oceano do medo,
das conquistas e de monstruosas criaturas.
Pedro
Álvares Cabral perdido na rota que Vasco da Gama lhe confiara, vindo
do velho mundo, achou um Continente onde habitavam homens ornados
de penas multicoloridas e tinham os corpos nus pintados, eram muito
felizes e por hábito comiam os seus inimigos, num paraíso de flora
e fauna exuberante se fascinaram por seres que voavam, colorindo o
céu daquela nação que mais tarde até se chamou "Terra dos Papagaios".
Na
verdade, eles acabavam de achar o Brasil. Portugueses e nativos estabeleceram
contatos amigáveis, pois os índios eram generosos e encantavam-se
com tudo, trocavam guizos por amigos e almas por contas. A terra foi
batizada em nome de Cristo numa bela missa na mata que mais parecia
numa monumental catedral da natureza.
Quinhentos
anos após o achamento da Brasil, os herdeiros desses descobridores
e dos nativos que aqui viviam, comemoram juntos os cinco séculos da
Terra dos Papagaios.
Senhores Compositores.
Esse enredo sobre o descobrimento do Brasil
para o carnaval de comemoração dos 500 anos, tem como finalidade mostrar
essa alma mateira e mestiça que deu origem ao brasileiro.
Chico Spinosa
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