FICHA TÉCNICA 1988

 

Carnavalesco     José Eugênio
Diretor de Carnaval     ...............................................................
Diretor de Harmonia     ...............................................................
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     ................................................................
Puxador de Samba Enredo     João do Vale
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Resp. Comissão de Frente     ................................................................
Resp. Ala das Baianas     ................................................................
Resp. Ala das Crianças     ................................................................
Resp. Galeria de Velha Guarda     ................................................................

 

SINOPSE 1988

Um século e daí - à sombra da ilusão de uma raça

Introdução:

          Numa Sociedade competitiva, a coisa muda de forma: A partir do momento em que o NEGRO, o ex-escravo, passa a competir diretamente no mercado, e o preconceito já existe, alguém tem que sobrar. E este alguém é o negro; alguém que já entrou num processo de marginalização anteriormente.
          Quando veio a Lei Áurea, no Ceará não tinha feito a Abolição antes a Lei Áurea, hoje o negro continua marginalizado apesar de todas as leis em seu favor. A Lei Afonso Arinos, por exemplo, é uma Áurea: Foi feita para o Negro que já é rico. O Negro que frequenta Boates e Hotel de Luxo, então atinge apenas uma minoria insignificante, é uma lei que pune o preconceito apenas na camada superior.
          Mas ninguém vê o que acontece aos Negros das favelas, que massivamente são barrados na Sociedade atual, principalmente resistências após a Escravidão. O Negro consegue nestes lugares se conservar intacto, apesar de sempre estar situado na faixa da miséria.
          Apresenta-se o G.R.E.S. União de Rocha Miranda atrás da corda, topando a chuva que vier e nem sentindo cansaço, o crioulo arreganha a bocarra sem dentes e começa a ouvir o próprio coração e a batucada da Azul e Branco de Rocha Miranda. Canto maior da Escola que, mais uma vez, aproveita a brincadeira para contar uma História do povo e dar testemunho de quanto o Brasil deve à Cultura Negra – e não vai pagar nunca.
          Contando a infame e rica crônica à sombra da ilusão de uma raça, não cobrando nada da História nem de ninguém. Ao contrário, agradecendo muito a todos os que ajudaram e mais agradecendo os aplausos e ainda e sempre agradecendo aquele coro alegre, quente e comovido do povão contido nas cordas e do pessoal simpático das arquibancadas e das mesas.
          Todo mundo cantando conosco o nosso samba.

Sinopse:

A porta da cultura negra no Brasil

          ... E como uma bocarra no amanhã, uma porta gigantesca abriu-se para mim, para o meu povo.
            Uma porta se abriu para o novo mundo, e novas esperanças surgiram.
          Só para me ver chorar de novo, só para tornar me ver arrumar coisas minhas, só para mangar de minhas desconfianças e pouca fé.
          Obatalá meu, Zambi, Olorum?  Xangô meu pai, que me deste uma terra igualzinha à minha, perdão.
          Perdão Senhor meu, por não acreditar nas coisas traçadas por ti, e aqui me vejo hoje, meus filhos, filhos dos meus filhos sem grilhões, sem quizilas nem banzo, em terra que é minha, a ti devo as forças que tive para tirar o pó do passado, colocar bálsamo nos males de minha alma e fincar pé nas estradas da vida.
          E quando o turvo de minha vista passou foi que pude ver que nos seus insondáveis desígnios a trilogia novamente se fez, e me fizeram nação. Nação que canta, que dança, que ri, que muda seus destinos, que encaminha seus filhos aos rumos do futuro, sem que ninguém lhes peça que esqueça as tradições passadas, um passado de glória, bravos e deuses, raízes profundas das fincadas em mim que participa de um novo mundo, que será o amanhã do universo.
          Uma nova raça no espaço, o paraíso criado – Brasil.

O teatro negro

          Era tranquila suave e constante a paz nas aldeias africanas; seus habitantes de pele negra reverenciavam a natureza, seus Deuses, seus Reis. O mar, caminho por onde adviriam o suplício, o infortúnio, a fome, o sofrimento atroz na figura sinistra que se desenha no horizonte...
          “O Navio Negreiro”. Acabou-se a paz, vida tranquila. Seguiam acorrentados como se fossem animais, deixando para trás saudades dos tempos de amor, as caçadas pelos campos, das festas, da dança.
          Na penúria dos porões fétidos e asfixiantes, muitos morriam, outros adoeciam e sofriam a viagem da dor. Eis que chegaram à terra que os destinos lhes guiaram. Homens brancos se dispunham a comprá-los para execução de penosas tarefas, seguindo-se de maus tratos nunca imaginados.
          Anos se passaram e os maus tratos aumentaram, à ponto de muitos escravos fugirem, embreando-se nas matas, convergindo ao recanto que por seu exuberante cenário, constituído de inúmeras palmeiras, foi chamado de  “PALMARES”.
          Gangazumba era um forte guerreiro que chefiava os negros na Serra dos Macacos.
          Gozava da confiança de toda a gente de Palmares, visando com sabedoria congregar para aquelas regiões os negros evadidos das fazendas dos senhores. Era respeitado o grande Gangazumba (palavra que pode ser traduzido como “senhor grande”).
          Era ele o primeiro grande dirigente dos negros no Quilombo dos Palmares.
          Formaram-se violentas e constantes fugas fazendo com que fossem tomadas providências enérgicas por parte do Governador, no intuito de arrasar o reduto dos negros. Homens fortemente armados se dispuseram a destruir a resistência negra, desconhecendo o poder da força que lhes estava reservada, poucos voltaram do terrível massacre.
          A trégua foi proposta à Gangazumba e prontamente aceita. Porém alguém não aceitaria. Chamava-se ZUMBI, que não admitia uma traição dos brancos e não permitia o suplício dos seus irmãos negros. Pare ele somente haveria a paz  com liberdade da sua...

José Eugênio

 

SAMBA ENREDO                                                1989
Enredo     Um século e daí - à sombra da ilusão de uma raça
Compositores     Zezinho do vale, Bitan e Telles

Oh, meu povo
Chega de preconceito e demagogia
Me dá, Me dá, que até hoje não peguei
A minha carta de alforria
Veja que cem anos se passaram
E acompanhe a missigenação
Quero ver o negro, o branco, índio e o mulato
Serem tratados como irmão (isso é bom)
Unindo as forças por um elo só
Na intenção de construir
Um Brasil melhor

Jogue fora o má  imagem, oi
Que este povo fez da tua gente
Hoje quero ver negro formado
Bacharel super dotado
Candidato a presidente

Lá vem o negro com seu sorriso feliz
No embalo da união
Vem mostrar sua raiz
Sua cultura e sua raça muito bela
Deixando de ser escravo
P'ra ser rei na passarela

(Oh! Meu povo)