FICHA TÉCNICA 2005

 

Carnavalesco     Waldecyr Rosas, Leonardo Batista, Junior Schall, Tio Mulato, Reinaldo Bandeira e Luiz Carlos
Diretor de Carnaval     Luiz Carlos
Diretor de Harmonia     Itamar de Oliveira
Diretor de Evolução     Itamar de Oliveira
Diretor de Bateria ]     Ivo Francis (Mestre Ivo) e Hugo César (Mestre Hugo)
Puxador de Samba Enredo     Richah (Rixxa)
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Antônio Carlos Lima Nunes (Peixinho) e Eliana Fidelis Adão (Naninha Fidellys)
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Márcio e Máxi
Resp. Comissão de Frente     Márcio Vieira e Sueli Guerra
Resp. Ala das Baianas     Dona Denair
Resp. Ala das Crianças     Elaine, Valdeia, Moreno e Cleusa

 

SINOPSE 2005

Iriruama araraoama, por todo eternidade

          De um tempo ancestral que o próprio tempo não esquece, é evocado um mágico ritual no qual surge no céu, uma língua de fogo que aparece e roucos são os trovões que a tudo estremecem, eu, uma velha índia, a mais sábia dizem; então, a eleita para guardar e contar, revivo agora a lenda de um amor que o próprio tempo faz que não conhece.
          Eu podia ver, no espelho do luar, eles, os exploradores, mas ainda não haviam aportado; sabia dos temores por que tinham que passar, das tormentas à enfrentar, dos seres marinhos a mirar no oceano de sombras que cruzaram, até a aurora de um mundo novo poder contemplar. Olhos atentos, porém arrebatados por paisagens em que nem sequer podiam sonhar. Se lançam então na Mataruna, a mata escura, cercados por pares de outros olhos, estes, tão profundos que se os fitassem poderiam sentir a alma desse paraíso.
          O sal, vital, que da terra há muito já colhíamos e também, diversas outras riquezas, não somente eles como outros vieram cobiçar. Trouxeram a dor e a morte, nos caçaram e expulsaram, fizeram a natureza chorar, nos serviram um deserto de sonhos. Só que maior que o explorador é o amor, da índia Arara, a mais bela, aquela que a natureza não se cansa de saudar. Sentimento este capaz de por magia resgatar parte de nossas vidas, nos fazer uma vez mais respirar e redimir o Universo Tupinambá.
          De sol, a iluminada, enche o coração do mais valente guerreiro, que a observara o milagre operar; seria então perfeita esta união, se o destino não tramasse para ambos a maior provação.
          A noite embala a índia a beira da grande lagoa, onde as conchas, infinitas, costuram uma trama de contas de estrelas prateadas, de brilho sereno. Arara concede daí ao nobre guerreiro que a mira por inteiro, um mergulho em seu olhar que parece uma eternidade perdurar e que nenhuma palavra conseguiria explicar.
          Mas o que era certo então se desfaz por meio dos senhores, aqueles exploradores, que agora trazem sua cultura de forma arrebatadora. Constroem em nossa terra sua morada, vestem em nossa gente sua fé, separam um amor que nem a pior das pragas poderia encerrar. E, a lenda seria mentirosa, se eu não contasse que sem temer perigo qualquer, que pudesse encontrar, o bravo guerreiro buscou pelo véu do tempo a pérola índia, aquela que seria sua mulher.
          O fogo das tochas o conduz mais uma vez à lagoa, onde a cortina de fumaça que transpassa lhe mostra uma legião de outros guerreiros, os pescadores, que jogando suas redes indicam-lhe o caminho de seu aliado nesta cruzada, o peixe voador, prateado por culpa do brilho do luar, ele o levará no galope ligeiro para o tempo rasgar.
          Na cobertura azul do céu vê o sal, antes colhido, sendo agora fabricado. Enxerga no solo fértil, que é cultivado, o crescimento de alimentos, mas também de sofrimentos. Um povo que como o nosso foi aprisionado e explorado, ele vê ser libertado.
          Agora, os senhores, colonizadores, pintam de novas cores a terra de nossos antepassados; observa então atento governos que caem, homens que são para a região benfeitores e trazem novas formas que pulsam cada vez mais. É, sem dúvida, o que impulsiona a “máquina” de metal que a fumaça cospe, que faz o mundo mudar a cada instante, além muito além do que podia imaginar. Apesar de encantado e assombrado, o guerreiro sente que a busca pela índia amada em breve findará.
          Ainda que molestada e castigada, a natureza, mãe de todas as coisas nunca deixou de lhe acompanhar e faz então com que veja acima da beleza das lagoas, de tudo que há ao seu redor.
          Iluminado por tal visão, sente a energia que só a dona de seu coração poderia gerar. De um espaço onde antes nossa nação podia chamar de lar, brotam suas raízes, sua crença, sua arte, sua vida.
          O que descende daquele que ergueu, agora sabe que deve preservar; escava, revive, reconstrói, ensina. Assim, à todos os que vêm e aos que virão um pouco da história deste lugar.
          Toda essa energia junta, que emana, ilumina de maneira sem par o grande altar, evocando por fim a bela índia Arara, para seu apaixonado viajante reencontrar e ainda que fosse possível não poderia explicar ao destino a união do amor que nem a linha do tempo foi capaz de separar.
          Para sua amada, ele narra sua jornada, descreve cada sabor e cada cor, descreve que mesmo depois de tantas luas ver chegar a certeza de que a beleza desse lugar vive no que a natureza de todas as formas decidiu lhe contar, Arara o ama... Araruama, por toda a eternidade.
          O ritual se aproxima do final, embora eu ainda os veja, sempre os verei, mas agora o espelho é deles e através dele, eles estão salvando o conhecimento, preservando a natureza e a alma de um povo revelando.

Comissão de Carnaval

 

SAMBA ENREDO                                                2005
Enredo     Iriruama araraoama, por todo eternidade
Compositores     Luisinho, Henrique Guerra, Élio Sabino, Serginho Mato Alto e Ulisses

Língua de fogo, trovões, mistérios, magia
Bate coração, o ritual nativo inicia
Cheia de sabedoria, ao portal do tempo, a velha índia nos traz
Pra reviver a lenda de um grande amor
Paixão ardente que o ancestral tupinambá presenciou
Desbravando o mar nas caravelas, aventureiros sonhadores
Enfrentam a tempestade, a calmaria

No afã de contemplar a aurora de um novo dia
Eis que o aroma da mata envolve o ar
Quem chega aqui sente a alma desse lugar
Tanta beleza seduziu os navegantes Mataruna, mundo fascinante

Fonte de riquezas naturais, o cultivo, a luta pelo chão
O índio escravizado, piratas, quanta ambição
Pilharam a cultura e a paz e dizimaram os tupinambás,
Mas o amor é forte,
Arara faz a vida renascer
Encantado, o guerreiro assiste o milagre acontecer
Iriruama, espelho adornado da paixão
Exploradores portugueses te invadem catequizando,
Ignorando a tradição,
Então falou o pescador: voe nesta carapeba para encontrar
Arara-o-ama, não deixe o fogo do amor se apagar
O tempo passou, o progresso chegou, trouxe a realeza
O negro sorriu se livrou das correntes, liberdade
Nova cultura, religião, arquitetura, miscigenação.
Máquinas, ferrovias, arqueologia, acervos culturais,
Ciência, tecnologia, o amor à memória dos tupinambás
No grande altar iluminado, o encontro apaixonado.

Resgatar a cultura é semear a educação
Criança é esperança, o futuro da nação
Eterna chama que jamais se apagará
Araruama na passarela é Jacarepaguá