Vendaval da
liberdade
Sinopse:
Neste ano de 1988, comemora-se o Centenário da Abolição da Escravatura no Brasil.
Representa o coroamento de uma luta heróica na qual participaram negros e brancos irmanados com o mesmo espírito de justiça, buscando o fim do cativeiro.
Era uma luta como um verdadeiro furacão irresistível, um Vendaval da Liberdade, como descreveu com tanta felicidade o notável jornalista Edmar Moral, de cuja obra adaptamos o presente enredo e ao qual prestamos nossa modesta homenagem.
O primeiro navio negreiro trouxe com os escravos acorrentados a semente da revolta e o início da luta pela liberdade, ideal que jamais se apaga na alma do homem, seja preto, seja branco ou de qualquer outra raça.
Tímida a princípio, como não podia deixar de ser entre os negros perplexos diante da nova terra desconhecida, a revolta corroia suas almas sofridas.
Separados de seus familiares, dos seus costumes e tradições, enfraquecidos e ceifados por doenças e maus tratos, durante muitos anos, limitavam-se a fugir mata adentro rumo ao desconhecido para serem quase sempre recapturados e então sofrerem as torturas de espancamentos nos pelourinhos das fazendas.
Mas já no século XVI, melhor organizados e decididos, os escravos começam a revoltar-se até mesmo nas cidades, como Salvador e Recife.
É o caso da revolta dos Malês na Bahia, e até mesmo a famosa Conjuração Baiana, onde predominam escravos e ex-escravos.
É porém no Quilombo dos Palmares, em Alagoas, que se escrevem as páginas heróicas da resistência sob a liderança inicial do Ganga Zumba, e posteriormente do seu sobrinho o Zumbi dos Palmares, durante mais de 50 anos de luta.
Era o Quilombo dos Palmares uma verdadeira república negra encravada nas montanhas e florestas para onde fugiam centenas e mesmo milhares de escravos em busca da liberdade.
Nas noites enluaradas, junto às fogueiras, os mais velhos relembravam as lendas e tradições da África – saudosa e ao raiar do dia, com o nascer do sol, os cantos e danças alegres festejavam sua liberdade embora fugaz.
A luta continuou, mesmo depois d destruição do Quilombo dos Palmares. Em outros lugares, especialmente em Minas, em Mato Grosso e Maranhão, formavam-se novos quilombos, e alguns deles jamais foram conquistados.
Já no início do século XIX, inúmeros brancos juntaram-se na luta pela abolição da escravatura, como o poeta Castro Alves, o político Joaquim Nabuco, os jornalistas negros José do Patrocínio e Luiz Gama, agora unindo suas forças, seus entusiasmos aos negros.
É, porém, no Ceará, em 1884, que se inicia realmente a arrancada final e irresistível. “Um Vendaval da Liberdade”.
No porto de Fortaleza, os jangadeiros, liderados pelo valoroso Francisco José do Nascimento, o “Dragão do Mar”, recusaram-se a embarcar os escravos vendidos para as fazendas do Sul. E nenhum escravo saiu do Ceará, apesar da violência dos escravagistas que recorreram às ameaças, aos espancamentos, às prisões. Tudo em vão. Finalmente, no dia 25 de março de 1884, o Governador da Província declarou em praça pública: - “Já não há mais escravos no Ceará”. Pois naquela data, por decreto provincial, foram libertados realmente os últimos escravos.
A luta prossegue cada vez mais forte e o exemplo do Ceará foi imitado pelo Amazonas, pelo Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, para culminar com apoteose do 13 de maio de 1888, quando a Princesa Regente Dona Isabel assinou a “Lei Áurea”, abolindo definitivamente a mancha da escravidão no Brasil!
Quase cem anos se passaram, mas a luta continua ainda. Não basta tornar livre o escravo sem que ele possa alcançar pelo trabalho, pela educação, pela saúde, sua verdadeira igualdade na sociedade brasileira.
Hoje, muitos e muitos negros, nas ciências, nas artes, nos esportes, na vida política estão chegando próximos ao ideal da Ganga Zumba e do Zumbi dos Palmares, transformando em verdade o Vendaval da Liberdade iniciado pelo Dragão do Mar.
Sérgio Kautzmann e Armando Martins
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