Da vereda
dos trilhos a um sonho de fé... A Ilha traz a Conquista do Pináculo,
Corcovado Tentação
Ao
entrar nas águas da Guanabara, Américo Vespúcio alçou sua luneta
e viu um monte inigualável e exuberante, batizou-o de Pináculo da
Tentação; na sua ilusão imaginou que o diabo se inspirara no paraíso
ali presente para compor as ofertas tentadoras do episódio bíblico.
A
União da Ilha, fantasiada de tentações, contará como o Corcovado
foi conquistado e porque é um dos mais importantes pontos turísticos
do mundo.
Enveredamos
pelas trilhas, numa história de tentações com aquele que nos elevou
à nação independente.
-
Vou ao alto daquele montei Afirmou Pedro I. Capturado pelos prazeres
da região, desbravou subida íngreme alternando trechos ora a cavalo
ora a pé, atingindo o cume após horas. Anos mais tarde organizou uma
expedição oficial que percorreu um caminho melhor preparado, levando
consigo Debret, artista francês que confirmou a concepção do
antigo navegador, e através de desenhos e textos, esboçou a exuberância
das matas, a singeleza das flores, a riqueza de pássaros
e borboletas, o frescor dos regatos, enfim, a visão tentadora
que transpirava a perfeição do Criador.
As
águas que vertiam do maciço foram fundamentais para hoje termos uma
cidade; por meio delas, em especial as do Rio Carioca (na língua indígena
- "viveiro de acaris") que batizou nossa naturalidade, pôde-se
estruturar unia rede de abastecimento com aquedutos e reservatórios,
permitindo urbanização mais confortável.
O
Rio Carioca nascia aos pés do Corcovado, na Fonte do Beijo, precipitando
daí até o mar; as águas desse e outros pontos alimentaram fontes e chafarizes
no Rio Antigo, popularmente conhecidas como Águas Férreas. Foi
o Carioca um importante eixo de ocupação dessa terra, pois pelo seu
volume, limpidez e potabilidade das águas e quantidade de pescados (acaris),
congregou propriedades às suas margem nobres plantações, e na busca
de redutos de paz, os homens foram tentados por águas que o monte chorou
e estruturaram bairros tais como o Cosme Velho, que conquistaram as
bases e ate hoje abraçam o Corcovado.
O
Rio de Janeiro crescia, o Corcovado despontava como ponto turístico,
atraindo a muitos, sendo lugar freqüentado pela Corte para passeios
e piqueniques dominicais.
Com
o passar do tempo uma trama de trilhas já existia quando a modernidade
foi arrebatada pelas tentações. Visando facilitar a subida ao monte,
quando já governante, Pedro II assinou um decreto autorizando Francisco
Pereira Passos e João Teixeira Soares, experientes engenheiros do Império,
a coordenarem a construção de uma Estrada de Ferro que galgasse
o Corcovado.
Tentados
e aguçados a vencer os aclives, elaboraram um traçado perfeito que deu
vida à 1ª Estrada de Ferro Turística do Brasil, com requintes
de estar perfeitamente integrada à natureza. Mergulhada nas tentações,
a engenharia leva o homem à conquista de cotas e vãos numa vereda de
trilhos que enraízam soa história nas rochas por mata adentro, serpenteando
a montanha para alcançar o topo e desfrutar de um das mais belas visões
do Brasil.
Se
Pedro I, Debret, Pereira Passos e tantos outros foram tentados, não
diferente foi com o Padre Lazarista Pedro Maria Bos, visionário e idealista como que em poética coincidência, imaginava
o Corcovado como pedestal natural erigido por Deus para receber
a imagem do Redentor, perpetuando nesse grande sonho iluminado uma associação
religiosa, ou quem sabe predestinação?! Que sagrou o monte desde o vislumbre
de Vespúcio.
A
idéia amadureceu durante anos, a semente que o Padre Bos plantou não
germinou cru tempo, dele em vida, poder vê-la florescer. O certo é que,
pela inteligência humana expressão plena do Criador, através da conjugação
da Engenharia, Arquitetura e
Escultura, venceu-se dificuldades e sob corações múltiplos que responderam
ás campanhas de donativos na Semana do Monumento, e pelas diversas mãos envolvidas diretamente
na execução do projeto plasmou-se no concreto o maior monumento religioso
do mundo, erigindo um verdadeiro e longo sonho de fé.
A
saber, a execução da obra de tamanho vulto, só foi possível graças aos
trenzinhos que conduziram todo o material e pessoal envolvido na edificação
do Redentor, que faceado pela doçura, tem engastada na rocha soa presença
como teoria de proteção, benção e altivez, compondo quadro multicor,
maior cartão postal do Brasil. Na atualidade o Corcovado
também é espaço para manifestações, pedidos de paz, etc.
Hoje,
nos 120 anos da Estrada de Ferro do Corcovado, a União da Ilha
é que pega o trem, e de braços abertos numa prova de amor
ao Brasil, incorpora férreas tentações, e movida pelo seu sonho de
fé galga o monte, clama por
paz e convida a todos ao desfrute das delícias ali presentes. Percorrendo
os trilhos de histórias de conquistas, apresentando um paraíso natural
que envolve cultura, modernidade e fé, a Ilha reflete todo encanto e
magia presentes no Corcovado, aguçando sentidos e fazendo palpitar
corações no desvelar de nobre recanto que é fonte de riqueza, beleza
que nos faz sonhar.
Rendemos
graças ao “Pináculo da Tentação”, que rebatizado de Corcovado, recebeu
com carinho esse nome... quase apelido, corporificando nos seus contemos
rochosos a personalidade irreverente, solta, alegre e criativa que marca
o caráter do povo carioca e a simpatia da União da Ilha.
Monte
altaneiro, que inspira nos homens a presença do Divino, no seu silêncio
se orgulha do vai e vem dos trenzinhos que, deslizando sobre suas curvas,
conduzem os atraídos e tentados para o altar próximo ao céu e permite
a bela visão afirmamos: aqui é o nosso chão, nossa raiz.
Lá
em cima, e somente lã, num privilegiado momento de êxtase, nos sentimos
atores da história desse gigante, tal como tantos que o conquistaram.
Presenciando um verdadeiro congraçamento de nacionalidades no cume do
pináculo, situação que se repete na passarela do samba. Assim compreendemos
a perfeição do Criador, logo ali próximo... no céu, no mar, na finara,
na flora, na energia das rochas,..., enfim, nas bênçãos que pairam nas
nuvens que permeiam nossas almas.
Rogamos
ao Arquiteto Universal, representado ali em imagem e semelhança como
Redentor, muita paz, justiça e igualdade, com anjos
conduzindo votos do povo carioca ma esperança de dias melhores para
esta terra, que com certeza, foi escolhida por Ele como pátria.
Que Deus abençoe nossos trilhos na Avenida.
Roberto Antônio e Alaôr Junior |