FICHA TÉCNICA 2000

 

Carnavalesco     Mário Borrielo
Diretor de Carnaval     Luiz Amorim Cravo
Diretor de Harmonia     Ari da Silva Filho (Arizinho) e Celestino Takeo-San Pimentel (Zico)
Diretor de Evolução     Ari da Silva Filho (Arizinho) e Celestino Takeo-San Pimentel (Zico)
Diretor de Bateria     Ubirajara Marins dos Santos (Mestre Bira)
Puxador de Samba Enredo     Serginho do Porto
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Ana Paula dos Santos e Robson dos Santos
Segundo Casal de M.S. e P. B.     José Augusto Braga (Guga) e Irinéia Ferreira dos Santos
Resp. Comissão de Frente     Suzana Braga & Rosana Fachada
Resp. Ala das Baianas     Noêmia & Benedita
Resp. Ala das Crianças     Marcia Janete

 

SINOPSE 2000

"Pra não dizer que não falei de Flores"

          Esse é o titulo do nosso enredo, extraído da canção "Caminhando", que Geraldo Vandré apresentou no 3° festival Internacional de Canção, realizado em 1968 no Maracanãzinho.
          "Caminhando" tem a sua força o teor revolucionário da letra, trazendo uma posição audaciosa de desafio à ditadura. O sucesso fulminante da canção de Vandré, foi logo interrompido pela censura, enquanto o autor foi obrigado exilar no Chile.
Nossa principal intenção é destacar o impulso criativo sugerido nas artes, em função da ditadura militar imposta no período de 1964 a 1984.
          A dureza deste regime fez surgir no campo das artes a necessidade de defender nossas características culturais, e retomar o poder das mãos dos militares. Surgiu então, uma produção artística ( música, literatura, artes plásticas, cinema,teatro ) que combinava ousadia e determinação, evidenciando a postura de esquerda dos artistas.
          A resposta dos militares foi imediata:
          Livros foram queimados, teatros invadidos, atores agredidos, letras de músicas, jornais e filmes proibidos!
          A Censura era implacável, chegando a atingir até obras clássicas.
          Em meio a tanta severidade, as forças armadas continuavam a espancar os estudantes no meio da rua, cujo entusiasmo político, e espírito de luta traziam novas idéias e novos comportamentos.
          Muitas prisões aconteceram, seguidas de torturas e humilhações. Muitos desapareceram após serem presos e barbaramente torturados.
          Ninguém estava a salvo desta caçada - desde as personalidades mais respeitáveis, até o mais humilde cidadão.
          Os artistas continuaram através de suas obras a reagir contra a ditadura. Um grupo de artistas optou pelo deboche e pela ironia para enfatizar uma alienação dirigida ( Movimento Tropicalista ), outros, de forma mais contundente, denunciaram as ilegalidades.
          O Cinema teve importância relevante, usando as telas como bandeiras que clamavam liberdade ou denunciavam as diferenças sociais.
          Por exemplo:
          1964 : "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha.
          Deus, simbolizava um Beato, e o Diabo era um cangaceiro.
          Um cego-cantador, que narra a história do começo ao fim, no final do filme canta: ... que assim mal dividido esse mundo anda errado/que a terra é do homem, não é de Deus nem do Diabo."

          1966 : " A Hora e a Vez de Augusto MATRAGA" de Roberto Santos.
          1967 : " Terra em Transe" de Glauber Rocha.
          1968: "MACUNAÍMA" , de Joaquim Pedro de Almeida
          1982: " Pra Frente Brasil", de Roberto Farias
          1984: " Memórias do Cárcere", de Nelson Pereira dos Santos.

          No Campo da música igualmente as reações foram imediatas, demonstrando também a consciência política dos compositores.
          "Carcará", a mais conhecida composição de João do Vale, retratando um tipo de gavião, que sabe superar os problemas de sobrevivência. Valente e decidido, simboliza o ideal literário da canção.
          Poderíamos também destacar, " Viola Enluarada", de Marcos Vale e Paulo Sergio Vale, que além de seu inegável conteúdo de protesto, possui belos versos que anseiam por liberdade e uma excelente melodia.
          O Festival Internacional da canção foi um importante veículo para o surgimento de versos ideológicos: " Arrastão", " A Banda", "Disparada" e muitas outras foram destaques desse festival.
          Em 1979, a promessa de abertura democrática é focalizada na música " O Bêbado e a Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc. Esta Canção representa a ansiedade de um projeto de êxito imprevisível.
          Entre carretéis, linha e agulhas, surgiu a figura de uma moderna heroína: Zuzu Angel.
          Estilista de fama internacional, viu suas rendas e estampas serem manchadas pelo sangue de seu filho Stuart Edgarg, barbaramente assassinado, na Base Aérea do Galeão, em 15 de maio de 1971.
          Os anjos que caracterizavam seus modelos, transformaram-se em soldados e iniciou então uma batalha contra o regime, definindo-se como especialista em contar em tecidos e cores, um triste período de nossa história.
          As ameaças se tornaram constantes.
          Em 14 de abril de 1976, quando voltava para a casa, o seu carro bateu e caiu de uma altura de 5 metros . Zuzu teve morte instantânea.
          Ela não teria parado sua luta nunca, pois lutava contra o medo daquela situação política da época. Ela queria o corpo do filho que até então não havia aparecido.
          Queria que o governo parasse de matar!
          Sua Campanha tinha um objetivo maior, evitar que no futuro outras mães viessem a sentir a dor que a levou a enfrentar tantos perigos.
          No teatro, a estréia do musical "Opinião",em dezembro de 1964, de autoria de Paulo Pontes, Ferreira Goullart, Armando Costa e Oduvaldo Viana Filho, e dirigida por Augusto Boal, valoriza o povo como autêntica fonte de cultura. este espetáculo, sem dúvida, foi uma resposta ao Golpe Militar, uma exortação à resistência, sugerida na música "Marcha da Quarta-Feira de Cinzas":
          "Acabou nosso carnaval/e agora o que a gente vê/ é uma gente que em se vê / (...) saudades e cinzas foi o que restou / (...) e, no entanto, é preciso cantar / mais que nunca é preciso cantar..."
          A experiência vivida pelos atores da peça "Roda Viva", de autoria de Chico Buarque foi extremamente traumatizante:
20 homens invadiram o Teatro Ruth Escobar no final do espetáculo, armados de cassetete e jogando bombas de gás lacrimogêneo, espancara-os duramente.
          O teatro teve um papel muito importante no sentido de trazer ao público a consciência dos fatos. Como principais espetáculos deste período destacamos:

          1964 : " Opinião", simbolizando o nacionalismo do espetáculo, bem como a valorização do povo como autêntica fonte de cultura.
          1965 : " Arena conta Zumbi" fr Gianfrancesco Guarniere e Augusto Boal, com música de Edu Lobo, Ruy Gerra e Vinícius de Moraes. Dramatizando o episódio histórico do Quilombo dos Palmares, que sobreviveu no longo período de 1630 a 1694, mas em realidade criticando o regime imposto no país.
          1967 : " Arena conta Tiradentes", a História da Inconfidência Mineira, fazendo um paralelo com a situação do Brasil naquele momento.
          1967 : " O Rei da Vela", texto de Oswaldo de Andrade. O texto é uma sátira do Sistema Capitalista.
          1968 : " 1° festival Paulista de Opinião", um conjunto de peças de 6 autores.
" Roda Viva" - 1° peça de Chico Buarque, até então conhecido como compositor de música popular. a censura federal proibiu " Roda Viva", por motivo de segurança Nacional. O espetáculo provocava tumulto!
          1973 : " Calabar", de Chico Buarque e Ruy Guerra.
          1975: " Gota d'água" de Chico Buarque e Paulo Pontes.

          Em 1979, sobe a cena " Rasga Coração", obra de Vianinha, censurada desde 1974. O autor não pôde assistir a estréia de sua obra, pois já havia falecido, vitima de câncer.

          Na estréia no Teatro Guaíra, quando a cortina lentamente se fechou para a apoteose, o público se recusou a deixar o teatro, e continuava a aplaudir.
          Hoje temos a certeza que não aplaudiam somente a grandeza da obra, mas a mágica visão de uma grande Nau trazendo nossos Heróis do Exílio!.
          Após 20 anos de Tempestade, cai a ditadura, com a vitória de Tancredo Neves, candidato a oposição.
          Neste Desfile que será apresentado dentro das Comemorações dos 500 anos do Brasil, sem mágoas, apesar das feridas não totalmente cicatrizadas, seremos soldados, armados ou não.!

Mário Borrielo

 

SAMBA ENREDO                                                2000
Enredo     Pra não dizer que não falei das Flores
Compositores     Marquinhos do Banjo, Niva e Franco

Vou, eu vou que vou
Vou cantando em verso e prosa
Vou abrir meu coração
Vou me libertar no perfume desse mar, num mar de rosas
Vou das cinzas pra folia
Minha arma é uma flor
E vestido de alegria vou florir esta avenida pra falar de amor

Vem vamos embora
Quem faz a hora bota o "bicho" para correr
Vem que tá na hora
A Ilha canta, não espera acontecer

Eu vou botar a boca no mundo
Pode até me censurar, mas a terra é do homem
Carcará é um pega, mata e come
Quem tem fé, na paz de Deus e na mão que faz a guerra
Não vi, não sei! Se ouvi, neguei! Calei, mas resisti
Num anjo, mãe de um querubim, nas guerrilhas do Pasquim
Caminhando e cantando, seguindo a canção
Voltei nas águas do refrão

Marcha soldado! Bate tambor! ôôôô
Que o "barco da volta" chegou pra ficar! ai, iaiá!
Rasga no peito esse meu coração! Meu amor!
Mais do que nunca é preciso cantar! ai, ioiô!