FICHA TÉCNICA 1998

 

Carnavalesco     Milton Cunha
Diretor de Carnaval     Euclides M. Ferreira Lopes
Diretor de Harmonia     Ari da Silva Filho (Arizinho)
Diretor de Evolução     Ari da Silva Filho (Arizinho)
Diretor de Bateria     Paulo Cesar Teixeira (Mestre Paulão)
Puxador de Samba Enredo     Maurício Sem
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Jerônimo da Silva Patrocínio (Jerônimo) e Andrea dos Santos Machado (Andrea)
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Miquimba e Tatiane Machado
Resp. Comissão de Frente     Carlinhos Muvuca
Resp. Ala das Baianas     Noêmia Laura Basto (Tia Noêmia)
Resp. Ala das Crianças     Angela Ribeiro

 

SINOPSE 1998

Fatumbi, a Ilha de Todos os Santos

Apresentação:

“Justa homenagem que a União da Ilha presta ao baiano-africano-francês Pierre Fatumbi Verger Oju Obá".

Caribé
Dorival Caymmi
Estela de Oxossi
Ilêdo do Axé Opô Afonjá
Balbino do Ilê Agaujú
Bahia, Abril de 97

Texto de Zélia

            Quem primeiro me alertou sobre a força e os poderes de Pierre Verger foi Mãe Senhora, a prateada yialorixá que reinou no terreiro do Axé-Opô-Afonjá. Eu lhe contara da decepção que tivera ao verificar que as fotos de Verger, tiradas a traição, haviam estragado. Ele me proibira de tirá-las: “Não estou hoje para fotografias, vou sair mal... com cara de passarinho.” Eu não liguei e o resultado foi aquele: do filme com fotos normais, apenas as fotos de Verger saíram veladas, não se salvou uma sequer. Rindo, advertia, Mãe Senhora me disse: “Não se meta com Verger, minha filha. Você não sabe que Verger é feiticeiro? Com Verger tu não tira farinha, ele é forte.”
            Contei esse episódio com Mãe Senhora a Verger, babalorixá de seu terreiro. “É isso mesmo - disse-me rindo - sou feiticeiro e muito mais”.
            No correr dos anos, tentei ainda algumas vezes teimar com ele e me dei mal. Hoje, mais do que nunca, estou convencida de sua força e do seu poder.
            Pierre Fatumbi Verger, morreu nos deixou. Morreu, mas sua presença continua viva na Bahia. Somente na Bahia? Por exemplo ele desfilará no próximo carnaval, no Rio de Janeiro. Homenagens lhe serão prestadas, seu nome será exaltado pela UNIÃO DA ILHA. Carinho e homenagens dos quais é merecedor.

Zélia Gattai

Texto de Jorge Amado

            Pierre Verger conheceu e amou a Bahia como poucos. Ele a viveu intensamente. Para ele a Bahia era a casa, a moradia, lugar do sonho e do repouso. Verger e a Bahia se misturam e se confundem. Nós encontramos o rastro do francês nos becos e nas ladeiras, na colorida estrutura da cidade.

Jorge Amado

Introdução da Sinfonia

            Quando nossa Escola entra na Avenida, um Orixá se manifesta em nós.
            Por isso nos fantasiamos “Para aguardar o transe de possessão na forma ritual.
            Esse orixá gosta de exibir sua alegria. Gosta de cantar e dançar ao som dos tambores da bateria. Mais que tudo - É Carnaval! Tem candomblé!
            Por isso chegou o momento de devolver em forma de enredo - homenagem - exaltação. Tudo o que de bom os orixás nos dão em termos de intuição de vida e capacidade artística.
            Os navios negreiros que singram nossas almas livres nos impulsionam para a grande rota da vitória: Fatumbi, Ilha de Todos os Santos.
            Tem Candomblé na Ilha, a Ilha é de todos os Santos. O tantã chora, o tantã ri, xirê prá Fatumbi na Sapucaí.
            Artista e místico, sabia tudo sobre a África e o Brasil. Baiano exemplar, francês de nascimento e africano de coração, nos engrandeceu e iluminou.
            Pela vida fotografou e aprendeu não apenas a rota dos navios negreiros, mas a trajetória do mistério. Fez-se feiticeiro, babalaô, de nome Fatumbi, filho de Ifá. No terreiro foi proclamado os olhos de Xangô, Oju Obá.
            Pulsa seu sangue escravo. Brilham em sua alma as luas selvagens do mato. Revivendo a Diáspora Iorubá e o poder dos Orixás, o tantã chora, o tantã ri, batendo pela Epopéia - Fatumbi.

Justificativa da Sinfonia

            Esta é a sinfonia afro-brasileira para Pierre Fatumbi Verger Oju Obá: Os olhos de Xangô no Babalaô do Brasil.

            Dividida em:
            6 partes (Que serão as alegorias) e
            35 movimentos (Que serão as alas ou grupos)

            A obra de Fatumbi é um elogio à Negritude. Ele registrou com sua máquina fotográfica e seus textos “O negro orgulhoso do sangue negro que corre em suas veias”. Captou a nova geração negra exprimindo sua personalidade sem vergonha nem medo. Ouvia que “O atabaque chora, o atabaque ri”. Via que os negros eram bonitos; e feios também. Para o amanhã Fatumbi construiu sólida obra-exaltação ao negro, soube edificá-la no topo da montanha livre, dentro dele mesmo.
            Todos os tambores do mato batiam no sangue de Fatumbi. Todas as luas selvagens e ferventes do mato brilharam em sua alma.
            Pelas páginas dos livros de Fatumbi, o negro não foge do combate cotidiano do nosso povo e grita o tempo todo: “Eu também sou o Brasil!”.
            Com suas fotos e textos, Fatumbi comentou e mostrou certos aspectos do culto aos Orixás, Deuses dos Iorubás, em seus lugares de origem, na África (Nigéria e República do Benin). e no Novo Mundo (especialmente no Brasil). para onde foram levados, em séculos passados pelos escravos. As pesquisas de Fatumbi orientaram-se mais para o culto dos Nagôs-Iorubás, já que este culto muito bem se conservou na Bahia, onde ele residiu no Brasil.
            Ligando os primeiros escravos aos seus descendentes do Século XX, Fatumbi disseca o relacionamento entre a África e o Brasil, desde que tudo começou: o comportamento dinâmico da Diáspora Iorubá, que singrou o oceano em navios negreiros , mas que até hoje ainda atravessa o mar nos dois sentidos.
            Esta é a base da obra fotográfica e ensaísta de Fatumbi, a mais importante já publicada no Brasil sobre a cultura negra, onde ele estuda os fundamentos históricos e mitológicos, a descrição dos rituais, os laços de profunda afinidade cultural entre o Golfo de Benin na África e o Recôncavo Baiano no Brasil: Esta é a PONTE FATUMBI sobre o Atlântico.

A Sinfonia em 6 partes (que correspondem ás 6 alegorias)

Parte Um- Os Navios Negreiros iniciam a Diáspora Iorubá

Resumo:

            O tráfico dos escravos liga para sempre a África ao Brasil. Arrancando-lhes do Golfo do Benin e assentando-lhes à força no Recôncavo Baiano, esta travessia do Atlântico marca a base principal das pesquisas de Fatumbi, que detecta a primeira prova da incompreensão dos brancos em relação aos negros: os traficantes apresentavam como oposto ao Deus Branco a figura de um diabinho preto.

Aprofundamento:

            Fatumbi afirma que os navios negreiros iniciam o que ele e outros estudiosos denominavam “A DIÁSPORA YORUBÁ”: o estabelecimento forçado de negros africanos fora de sua pátria, à qual se achavam vinculados por fortes traços culturais, históricos e religiosos. Os navios negreiros trazem os Orixás para o Novo Mundo, pois a presença de religiões africanas no Novo Mundo é uma conseqüência imprevista do tráfico de escravos.
            Em meados do século XV, os Portugueses desembarcaram na costa Africana, atingindo, antes do fim do século, o Cabo da Boa Esperança e a Costa Oriental. Os aventureiros de outros países europeus - franceses, ingleses, alemães, belgas, etc. - seguiram os portugueses nessa corrida e viram, com seus próprios olhos, os povos negros negativamente descritos nos relatos dos antigos brancos (as primeiras notícias sobre as populações negras vêm do “grande” historiador grego Heródoto: baseando-se na teoria dos climas, criou uma imagem bastante desfavorável dos africanos, afirmando que as altas temperaturas tornam o homem bárbaro. Todas as descrições desta época mostram os habitantes do interior do continente negro parecidos com animais selvagens. Esta visão retornou na Idade Média e no Renascimento, reatualizando sempre os mesmos mitos que faziam da África Negra um mundo habitado por monstros, seres semi-homens, (semi-animais).
            Os escravos eram uma multidão de negros cativos que não falava a mesma língua, possuindo hábitos de vida diferentes e religiões distintas e não tinham em comum senão a infelicidade de estar, todos eles, reduzidos à escravidão, longe de suas terras de origem.
            Os navios negreiros transportaram através do Atlântico, durante mais de trezentos e cinqüenta anos, não apenas o contingente de cativos descrito acima, destinados ao trabalho de mineração, dos canaviais, das plantações de fumo localizadas no Novo Mundo, como também sua personalidade, a sua maneira de ser e de se comportar. as suas crenças.
            No Século XVI, constata-se na Bahia a presença de negros bantu, que deixaram a sua influência no vocabulário brasileiro. Em seguida verifica-se a chegada de numerosos contingentes de africanos proveniente de regiões habitadas pelos Daomeanos (gêges) e pelos iorubás (nagôs), cujos rituais de adoração aos Deuses parecem ter servido de modelo às etnias já instaladas na Bahia.
            As convicções religiosas dos escravos eram colocadas a duras provas quando de sua chegada ao Novo Mundo, onde eram batizadas obrigatoriamente “para a salvação de sua alma” e deviam curvar-se às doutrinas religiosas de seus mestres.
            A extraordinária resistência oposta pelas religiões africanas às forças de alienação e de extermínio com que freqüentemente se defrontavam haveria de surpreender a todos os homens de negócios que se dedicavam ao tráfico de negros na Costa da Mina.
            Os negreiros, professando as mais diversas formas de monoteísmo, tentavam “salvar” as almas dos africanos, mergulhados nas “trevas” da idolatria.
            Na Bahia, todos os Santos do Paraíso foram invocados como protetores dessa “respeitável” atividade: protetores dos negreiros, dos seus barcos e das mercadorias transportadas.
            Passando em revista os nomes dos navios relacionados em diversos documentos, observamos que, até 1800 aproximadamente, todos aqueles dedicados ao tráfico de escravos encontravam-se sob a proteção da Virgem Maria, de Cristo, dos Santos e até mesmo das Almas.
            Fatumbi investigou sob qual denominação Nossa Senhora era mais freqüentemente invocada para proteger a tarefa de salvação da alma dos escravos. Partindo de indicações recolhidas nos registros de patentes. Fatumbi constatou que “Nossa Senhora” encontra-se mencionada 1154 vezes sob 57 invocações diferentes. Nossa Senhora da Conceição é citada 324: Nossa Senhora do Rosário 105 e Nossa Senhora do Carmo, 98. O “Bom Jesus” encontra-se citado apenas 180 vezes. Curiosamente, o nome São Jorge aparece apenas uma vez. São José era merecedor de grande devoção entre os negreiros, alcançando mesmo, por volta de 1757, a posição de “protetor particular”.
            A fé dos traficantes de escravos na proteção divina permaneceu inalterada até o final do tráfico, mesmo clandestino.
            Nessa ordem de idéias, a Igreja católica fez do preto a representação do pecado e da maldição divina. Por isso, nas colônias ocidentais da África, mostrou-se sempre Deus como um branco velho de barba e o diabo, um moleque preto de chifrinhos e rabinhos.
            Alguns missionários, decepcionados na sua missão de evangelização pensavam que a recusa dos negros em se converterem ao Cristianismo refletia, de fato, sua profunda corrupção e sua natureza pecaminosa. A única possibilidade de salvar esse povo tão corrupto era a Escravidão. Muitos utilizaram-se de tal argumento para defender, justificar essa instituição. Desse modo não haverá nenhum problema moral entre os europeus do séc. XVI e XVII, porque na doutrina cristã, o homem não deve temer a escravidão do homem pelo homem, e sim sua submissão às forças do mal. Por isso foram instaladas capelas nos navios negreiros para que se batizassem os escravos antes da travessia. Em total desrespeito e flagrante violação à religião dos Africanos, a preocupação cristã consistia em salvar as almas e deixar os corpos morrerem. Aliás, parte dos missionários mostrou-se até incapaz de aceitar que eles possuíssem uma religião e, quando o foi, chamaram-na de Animismo, com o intuito de ressaltar que os negros botavam alma nas pedras, nas árvores e em todos os objetos animados e inanimados de seu meio ambiente.
            A descoberta da América propiciou a transferência de populações inteiras do Continente Africano para terras do Novo Mundo.
            Os negros da “Corte dos Escravos” (Congo, Angola e Moçambique) vieram ao Brasil trabalhar nas plantações de cana, minas de ouro e casas grandes dos senhores brancos.
            Além de arrancá-los da Terra Natal, a Escravidão destruiu as estruturas sociais, organizações familiares, misturou as etnias, tudo isso para reduzir os negros desligados de suas civilizações à uma denominação comum: máquina de trabalho.
            Ainda assim os Africanos salvavam dentro de si seus Deuses e seus cultos. Porque? E como?
            Os governantes para impedir uma revolta generalizada dos negros contra os brancos permitiram a manutenção de jogos e danças étnicas. Curiosamente, a Igreja se associou à esta política, separando os grupos por raça ou “nação”, a fim de catequizá-los em várias línguas e dar-lhes unidade católica.
            Sobretudo nas cidades, a criação de Associações Profissionais, de negros livres ou escravos, permitia a evocação das origens negras de um mesmo território e a reconstituição em torno de seus lideres dos ritos sagrados dos ancestrais.
            Sob nomes diversos, sempre dados por brancos para as seitas dos negros (Tambor do Maranhão, Xangô em Recife e Alagoas, Candomblé na Bahia, Caboula no Espírito Santo, Macumba no Rio, Batuque em Porto Alegre), os antigos cultos puderam sobreviver até os nossos dias.
            Só podemos admirar esta fidelidade à Antiga África. Que não significa nacionalismo ou racismo negro. Os Candomblés recebem brancos, mulatos e outros que aceitam os apelos de seus Orixás (existem europeus filhos de Santo como Fatumbi).
            As religiões africanas não se sentem estrangeiras no Brasil. Elas amam profundamente a nova pátria que as assimilaram política, econômica e socialmente, poderíamos dizer que é tão legitimamente brasileira como africana.
            O termo iorubá, aplica-se a um grupo lingüístico de vários milhões de indivíduos que além da linguagem comum estão unidos por uma mesma cultura e tradições de sua origem comum, na cidade de Ifé, mas não parece que tenham jamais constituído uma única entidade política.
            O vocábulo Nagô (ou Anago ou Inongo) aparece pela primeira vez numa carta de 1780, onde Olivier Montaquère, comandante do Forte de São Luiz de Gregoy, escrevendo para a Companhia das Índias afirma que em Herdre, vulgarmente chamado Portenanve, pode-se conseguir Nagôs, os negros preferidos dos compradores.
            Alguns estudiosos dão a significação de língua à expressão “iorubá” e outros a aplicam a um povo, nação ou território.
            Nagô é o nome pelo qual os iorubás são conhecidos no Brasil. No Novo Mundo encontramos os primeiros vestígios da palavra Nagô em um documento enviado da Bahia em 1756, antes mesmo que esta palavra aparecesse na correspondência da África.

Parte Dois - No Benin e Nigéria nasce Fatumbi Babalaô

Resumo:

            Encantado com o poder e a beleza dos negros africanos, Pierre Verger,o francês-fotógrafo se transforma no Babalaô Fatumbi, sagrado por seus mestres negros em 1943, após 10 anos de estudos, pesquisa e fotografias sobre a cultura Iorubá-Nagô. morando entre a Nigéria e a República do Benin.
            O Babalaô, guardador dos segredos e das receitas medicinais, precisa dominar milhares de fórmulas. Entre as 400 publicadas por Fatumbi, no livro “Ewé”, destacamos uma que consideramos impressionante e de valor fundamental para a perpetuação da espécie: “A receita para despertar um pênis adormecido”.
            O Babalaô como todos os homens, está sujeito aos Deuses. Acima dos orixás reina um deus supremo, Olódùmarè. E um Deus distante, inacessível e indiferente às preces e ao destino dos homens. Está fora do alcance da compreensão humana. Ele paira acima de todas as contingências de justiça e de moral. Nenhum culto lhe é destinado. Ele criou os orixás para governarem e supervisionarem o mundo. E pois a eles que os homens devem dirigir suas preces e fazer oferendas. Olódùmarè, no entanto, aceita julgar as desavenças que possam surgir entre os Orixás. Olódùmarè mora no além, Orun. A idéia de que Orun-além está situado embaixo da terra é comprovada durante as oferendas aos Orixás, quando o sangue dos animais sacrificados é derramado no Ojubo, um buraco cavado na terra, em frente ao local consagrado ao deus, e os olhares se voltam para o chão e não para o céu.
            Admitindo o papel de deus supremo atribuído a Olódùmarè e se pairarmos acima das sutilezas locais, parece que poderemos elaborar um sistema em que cada orixá torna-se um arquétipo de atividade, de profissão, de função, complementares uns aos outros, e que representam o conjunto das forças que regem o mundo. E o que exprime algumas histórias de Ifá, que os babalaôs recitam, como as que se referem ao que já foi dito acima: “Os orixás e os ebora são os intermediários entre Olódùmarè e os seres humanos e receberam, por delegação, alguns de seus poderes”.

Aprofundamento: Adivinhação e Receitas do Velho Feiticeiro

            Pierre Verger viveu durante dezessete anos em sucessivas viagens, desde 1948. pelas bandas ocidentais da África em terras Iorubás. Em 1952, em Kêto, hoje República do Benin, foi iniciado Babalaô, recebendo de seu mestre Oluwo o nome Fatumbi “renascido pela graça de Ifá”. Isto facilitou e oficializou suas pesquisas que duraram mais de quarenta anos, mesmo porque tomar conhecimento do uso das plantas para preparação de receitas, remédios e “trabalhos” tradicionais constituem um direito e uma obrigação do babalaô.
            Fatumbi conseguiu registrar os mecanismos, fórmulas e entonações usadas para a cura dos males físicos e espirituais que os antigos Babalaôs iorubás praticavam penetrando em uma área da cultura negra pouquíssimo acessível a europeus e até hoje fechada para não iniciados. Seu trabalho fornece uma preciosa base para futuras pesquisas tanto das plantas medicinais iorubás como da cultura em sentido mais amplo.
            Além de antiga, a língua iorubá é oral, tendo sido grafada no papel pela primeira vez apenas no Séc. XIX, pelos etnólogos britânicos que chegavam à África, sendo necessário “cantar” suas palavras corretamente para se expressar por meio dela. Originária da África Ocidental (região que hoje faz parte das Repúblicas da Nigéria e do Benin, a língua iorubá é unia língua milenar com relatos de muitos séculos de história, antes da chegada dos Europeus à capital de seu reino, Ilé-Ife. Ao lado do Haussa, o iorubá é uma das mais importantes línguas da Nigéria, sendo falada por 25 milhões de pessoas no país e milhões de descendentes de escravos africanos em países onde houve espaço para a cultura iorubá sobreviver, como no Brasil (na forma conhecida como Nagô).
            Fatumbi pertencia a um “colegiado” de Babalaôs africanos, que na sociedade iorubá fazem a adivinhação segundo um sistema denominado Ifá, baseado em 256 signos chamados ODUS, sob os quais estão classificados os remédios tradicionais e os trabalhos a serem realizados por quem deles precisam.
            Estes 256 Odu-Ifá são os signos duplos derivados de 16 signos simples, que fazem par tanto consigo próprios para fazer os odus primários, quanto com cada um dos outros dezesseis signos simples para formar os 240 secundários.
            Durante a preparação de uma fórmula, o Babalaô estabelece uma ligação entre o remédio e o signo de Ifá, sendo este último desenhado por ele no pó. A ligação é feita através de elos verbais entre o nome da planta, o nome da ação medicinal ou mágica dela esperada e o Odu, signo de Ifá no qual é classificada.
            Tais elos verbais são essenciais para ajudar o babalaô a memorizar as noções e conhecimentos transmitidos por tradições orais, tendo assim um caráter coletivo e não individual.
            A transmissão oral do conhecimento é considerada na tradição iorubá como o veículo do Axé, o poder, a força das palavras, que possam agir, precisam ser pronunciadas.
            O conhecimento é transmitido do babalaô ao Omo-awo, do mestre ao discípulo, através de sentenças curtas baseadas no ritmo da respiração. Sendo repetidas constantemente, tornam-se estereótipos verbais que se transformam em definições aceitas com facilidade.
            O livro Ewe (O uso das plantas na sociedade iorubá) último publicado em vida por Fatumbi, é um extrato do que os mestres e confrades Babalaôs tiveram a boa vontade de ensinar durante os numerosos anos que Fatumbi viveu na África. É uma síntese de seus conhecimentos como Babalaô. As plantas lhes eram entregues pelos Babalaôs acompanhadas de seus nomes iorubás e de frases curtas chamadas ofó as quais anunciam, em termos muitas vezes poéticos, suas qualidades.
            Este livro é a seleção de 447 recitais, dentre as milhares que Fatumbi coletou. Ele tem um enfoque etnológico e não médico. O babalaô aponta quais são as plantas utilizadas na farmacopéia iorubá e para que tipo de trabalho (medicinal ou mágico) são empregadas. Em geral, cada prescrição comporta de 3 a 6 plantas diferentes.
            São estas as categorias de receitas do livro:

            29 receitas de uso medicinal (no conceito ocidental);
            31 receitas relativas à gravidez e ao nascimento;
            33 receitas relativas à adoração das divindades iorubas (orixás);
            91 receitas de uso benéfico;
            32 receitas de uso maléfico;
            41 receitas de proteção contra as de uso maléfico;

            As 9 receitas para matar pessoas não são dadas por Fatumbi, mas entre as receitas estimulantes, as da virilidade chamam a atenção e mexem com o imaginário popular. A receita para “acordar” um pênis “adormecido” manda:

            Queimar Tristema Littarale (melastomaceal);
            Queimar o fruto do alugbaako;
            Queimar o (amomo) ataare;
            Misturar o pó preto que sobra das queimas com Acaçá quente. Neste momento o Babalaô pronuncia o ofó na língua iorubá cuja tradução é:
            “Bater para permanecer firme, faça o pênis ficar duro Chute o pênis com força, faça o pênis ficar duro Que a bondade que pica possa empurrá-lo para fora.

            Destacamos ainda receitas para:
            matar o amante da esposa
            evitar pesadelos
            ajudar o feto a virar no útero
            tratar quem dorme demais
            ajudar alguém a ser possuído por Xangô
            persuadir as pessoas
            engravidar de gêmeos

            Fatumbi foi taxativo quando de sua iniciação como Babalaô: “A partir deste momento, sou Fatumbi. Pierre Verger é morto!”

Parte Três - A “PONTE FATUMBI” que liga o Brasil à Africa

Resumo:

            Fatumbi revelou a Gilberto Gil em sua última entrevista: “Quando descobri que muita coisa havia se perdido nos laços culturais entre o povo de Benin e da Nigéria e o da Bahia, passei então a fazer a PONTE, levando informações de uma cultura à outra.” “Tive a chance de, a partir de 1948, poder fazer numerosas viagens alternadas ao Brasil e à África. Isso me proporcionou uma acolhida favorável em certos terreiros de candomblé da Bahia e minha integração entre os praticantes da religião Iorubá”. Fatumbi contribuiu com suas fotografias e ensaios para o redescobrimento da Sociologia Negra Brasileira - seu livro Orixás é considerada a Bíblia do Candomblé e a mais completa obra para a compreensão da África Brasileira ou do Brasil Africano.

Aprofundamento:

            A Ponte Fatumbi que liga os dois continentes é explicada pelo próprio: “Tive a chance de, a partir de 1948, poder fazer numerosas viagens alternadas ao Brasil e à África. Isso me proporcionou uma acolhida favorável em certos terreiros de candomblé da Bahia e minha integração entre os praticantes das religiões tradicionais da África. Que eu freqüentasse esses ambientes sem fazer perguntas indiscretas e desse notícias sobre o que se passava no outro lado do Atlântico interessava de urna parte e de outra”.
            Pierre Verger redescobriu o Brasil através de seus tratados sobre as múltiplas influências e semelhanças entre o Golfo de Benin e o Recôncavo Baiano.
            Pode-se afirmar que existe a Ponte Fatumbi sobre o Atlântico, ligando as terras africanas da Nigéria e do Benin com as terras brasileiras da Bahia de Todos os Santos.
            Passa-se a entender os ritos negros do Candomblé brasileiro como continuidade e adaptação (releitura) de ritos seculares praticados em África. E percebe-se que as adaptações e sincretismo estiveram a serviço da continuidade das crenças, aspecto sincrético este primordial para a prática dos ritos pelos negros escravos.
            Aliás os navios negreiros são verdadeiros mundos atravessando o Oceano para desembarcar cultura negra no Brasil (que achava apenas estar importando escravos).
            “Quando descobri que muita coisa havia se perdido nos laços culturais entre os povos de Benin e o da Bahia, passei então a fazer a PONTE, levando informações de uma cultura à outra”, revelou Fatumbi à Gilberto Gil em sua última entrevista.
            Na África chegou pelo Senegal no verão de 1940. No Brasil chegou por Corumbá em 13 de Abril de 1946.
            Nem todos os africanos libertos e seus descendentes que voltaram à África tornaram ao Brasil, depois de terem completado seus conhecimentos do ritual do culto dos orixás. Muitos deles regressaram à África para aí permanecer. Curiosamente, eles chegavam abrasileirados, desafricanizados, aparentemente cristianizados, vestidos à ocidental, construindo casas assobradadas de estilo brasileiro e formando uma sociedade fechada, sem se misturar facilmente com os seus antigos compatriotas africanos. Tinham conservado relações, comerciais com a Bahia e faziam freqüentes vagens de uma margem a outra do Atlântico, a bordo de numerosos navios que continuavam a navegar entre os dois continentes e que, embora carregassem do Brasil fumo de rolo, barris de cachaça e carne-de-sol, não transportavam mais escravos desde 1851, ano em que foi definitivamente abandonado o tráfico negreiro. As mercadorias provenientes da África consistiam em azeite-de-dendê, nozes de cola, panos da costa e muitos outros necessários à realização do culto dos deuses iorubás no Brasil, sem esquecer os condimentos para a preparação das oferendas aos orixás, pois, se muitas receitas dos pratos africanos glória da apimentada culinária da Bahia, chegaram até nos, é que foram fielmente conservadas e transmitidas de mães para filhas pelas baianas vendedoras de quitutes nas ruas. Acontecia às vezes que, antes de sair de casa, eles faziam oferendas de parte das comidas nos altares de seus orixás. Quando as pessoas compravam e comiam acarajé, participavam, sem saber, de uma comida em comum com Iansã: e se era caruru, também chamado amalá nos terreiros de candomblé, era com Xangô que comungavam. Assim, por consideração aos gostos de orixás, nasceram e perpetuaram-se os vários quitutes da Bahia.

Parte Quatro - Bahia de Todos os Santos

Resumo:

            Fatumbi chegou em Salvador em 1946, onde passou a viver em permanente ponte aérea com a África. Apaixonara-se pela atmosfera do Recôncavo Baiano quando lera Jubiabá de Jorge Amado, antes mesmo de conhecer a Bahia. Dele, Amado disse: “é um baiano tão definitivo e único que tão extraordinário mais parece urna invenção”. Tomou-se Filho de Santo de Mãe Senhora do Terreiro do Axé do Opô Afonjá que o sagrou “Oju Obá” (os Olhos de Xangô), que tudo vê) e amigo e consultor de Mãe Menininha do Gantois. Darcy Ribeiro afirmou que “Fatumbi era um verdadeiro baiano, um desses estrangeiros que acabou incorporando o Baianismo”. No livro Orixás, Fatumbi mapeia os Terreiros da Bahia desde o Primeiro Candomblé escravo até hoje, como figura proeminente da vida baiana que foi.

Aprofundamento: A África brasileira ou o Brasil Africano

            Fatumbi apaixonou-se pela atmosfera do Recôncavo Baiano quando leu, na África, Jubiabá de Jorge Amado, sob o título de Bahia de Todos os Santos. Mudou-se para Salvador em 1946, onde passou a viver em permanente ponte aérea com a África.
            Assim Jorge Amado a ele se refere: “A mistura do Francês da Rua Cardinal Lemoine, em Paris, com o africano de Dakar, Porto Novo, Oyó, resultou no baiano definitivo e único, aquele que de tão extraordinário mais parece uma invenção”.
            Por ocasião da morte de Fatumbi em 11 de fevereiro de 1996, o sociólogo Darcy Ribeiro afirmou “que considerava Verger um verdadeiro baiano. Era um desses estrangeiros que acabou incorporando o baianismo”.
            Gilberto Gil e Fatumbi se conheceram nos anos 70, durante uma viagem à Nigéria. Desde então ficaram muito amigos.
            “A Bahia tem um certo charme que pode passar desapercebido por quem nasce aqui, mas não por mim. Ao chegar aqui na Bahia encontrei um povo muito aberto”. - derrete-se de amores Fatumbi.
            Para a inesquecível Mãe Senhora, Fatumbi era “um dos grandes feiticeiros da Bahia. Cuidado com Vergar, ele é feiticeiro, tem poderes”.
            Os primeiros anos em Salvador são passados em um quarto do Hotel Chile, com vista para o porto de Salvador. Festas, Sambas, Candomblé, capoeira, a cozinha, os retratos de artistas, poetas e pintores populares, a arquitetura, o modo de vida do povo negro e mestiço formavam um mundo onde Fatumbi estava à vontade: o mundo a África Brasileira ou do Brasil Africano, como ele chamava a Bahia.
            Nos terreiros da Bahia. Fatumbi jamais foi um visitante, um homem de fora, um estrangeiro com olhar curioso sobre os “heréticos”. Ele pertencia ao mundo do candomblé, foi aceito pelos praticantes negros da Bahia com um dos seus, como um verdadeiro irmão, um irmão branco.
            No livro ORIXÁS ele revela a história do Candomblé na Bahia “com a chegada dos escravos a Igreja Católica tratava de separar as etnias africanas. Os escravos nos novos agrupamentos ainda assim praticavam o culto de seus deuses africanos, em locais situados fora das igrejas. Duas mulheres energéticas, originárias do Kêto, antigas escravas libertas tomaram a iniciativa de criar um terreiro de Candomblé chamado Iyá Omi Ase Àira Intilé.
            Para Fatumbi o Candomblé é um pequeno mundo cheio de tradições , onde questões de etiqueta, de direitos, fundamentadas sobre o valor dos nascimentos espirituais, de saudações, de prosternações, de ajoelhamentos, beija-mãos ligeiramente balançadas em gestos abençoadores, representam um papel tão minucioso e docilmente praticado como na corte do Rei Sol. Os Terreiros de Candomblé são os últimos lugares onde as regras do bom tom reinam ainda soberanamente.
            A palavra Candomblé, que designa na Bahia as religiões africanas em geral, é de origem Bantu (Congo e Angola) que exerceu certa influência entre os Nagôs.
            Entre os filhos de africanos da primeira geração que retomaram no século passado para educar-se ou iniciar um aprendizado em Lagos, voltando depois à Bahia. Fatumbi cita dois nomes que ficaram gravados nos anais dos candomblés: Agimuda (Martinimiano Eliseu de Bonfim). cuja permanência na África tinha lhe dado muito prestígio e tomou-se rapidamente um babalaô muito procurado e Felisberto Américo de Souza, o Felisberto Benzinho.

Terreiros de Candomblé no Brasil

            Na Bahia, no inicio do século, os terreiros dedicados aos cultos dos orixás eram freqüentemente instalados longe do centro da cidade. Com o crescimento da população e a extensão tomada pelos novos bairros, eles progressivamente encontram-se incluídos na zona urbana.
            Esses terreiros são geralmente compostos de uma construção chamada barracão, com grande sala para as danças e cerimônias públicas, de uma série de casas, onde são instaladas os “pejis”, consagrados aos diversos orixás, e de casas destinadas à residência das pessoas que fazem parte do candomblé.
            A responsabilidade do culto repousa sobre o pai ou mãe-de-santo, correspondente aos nomes, de origem iorubá, babalorixá ou ialorixá. São chamados também de “zelador” ou “zeladora”, termos equivalentes aos de “babalaxé” ou “ialaxé”, pai ou mãe encarregados de cuidar do “axé”, do poder do orixá.
            Os pais ou as mães-de-santo são assistidos por país ou mães pequenos, “babá” ou “ia kekere”, e por toda uma série de ajudantes, com papéis e atividades diversos e definidos. Assinalamos o “dagan”, que, antes das cerimônias públicas, encarrega-se, com a ajuda de “iamarô”, do “padê” ou “despacho de Exu”: a “iatebexê”, que assiste o pai ou a mãe-de-santo na direção da seqüência dos cânticos dos orixás, no decorrer das cerimônias públicas; a “iabassê”, que de cuidar dos “iaôs”, logo que estes entram em transe: o “sarepebê”, que leva as mensagens para a sociedade do terreiro. Encontramos ainda o “axogum”, encarregado de fazer os sacrifícios dos animais oferecidos aos orixás, e o “alabê”, chefe dos tocadores de atabaques.
            Certos dignatários chamados “ogãs” Não tem funções religiosas especiais, mas ajudam materialmente o terreiro e contribuem para protegê-lo. Formam uma sociedade civil de ajuda mútua. colocada sob a invocação de um santo católico.
            Existem, enfim, os “iaôs”, “mulheres” dos orixás, que são os filhos e as filhas-de-santo.
            Nos dias de cerimônia pública, chamada “Xirê dos Orixás” (a festa, a distração dos orixás), o barracão é decorado com guirlandas de papel, nas cores do Deus festejado. O chão é cuidadosamente varrido, salpicado de perfumadas folhas de pitanga, e grandes palmas atadas com fitas decoram as paredes.
            O pai ou mãe-de-santo, cercado por seus ajudantes, fica sentado próximo dos atabaques, que são colocados sobre um pequeno estrado enquadrado por palmas trançadas. Os ogãs são instalados em cadeiras ornamentadas e marcadas com seus nomes, onde só eles tem o direito de se sentar; os visitantes importantes sentam-se em bancos e cadeiras e o resto do público fica dividido em dois grupos, homens de um lado e mulheres do outro, todos separados da parte central do barracão, onde dançam os filhos e filhas-de-santo. Antigamente, o piso do barracão deveria ser de terra batida, e os iaôs dançavam descalços a fim de que o contato com a terra e o mundo do além, onde residem os orixás, fosse mais direto. Por razões de prestígio, o piso do barracão é atualmente de cimento e, algumas vezes, recoberto com assoalho de madeira.
            No início da festa, três atabaques de tamanhos diferentes, denominados rum, rumpí e lé, acompanhados de um sino de percussão, o agogô, tocam apelos ritmados às diversas divindades. Esses atabaques apresentam uma forma cônica e são feitos com uma única pele, fixada e esticada por um sistema de cravelhos para os nagôs e os gegês, e por cunhas de madeira para os tambores ngomas, de origem congolesa e angolana.
            Tais instrumentos foram batizados e. de vez em quando. É preciso manter sua força (o axé), por meio de oferendas e sacrifícios. Os atabaques desempenham um duplo papel, essencial nas cerimônias: o de chamar os orixás no início do ritual e. quando os transes de possessão se realizam, o de transmitir as mensagens dos deuses. Somente o “alabê” e seus auxiliares, que tiveram uma iniciação, tem o direito de tocá-los. Nos dias de festa, os atabaques são envolvidos por largas tiras de pano, nas cores do orixá invocado.
            Durante as cerimônias, eles saúdam, com um ritmo especial, a chegada dos membros mais importantes da seita e estes vem curvar-se e tocar respeitosamente o chão, em frente da orquestra, antes mesmo de saudar o pai ou a mãe-de-santo do terreiro.
            No caso de um desses atabaques ser derrubado ou cair no chão durante uma cerimônia, esta é interrompida por alguns instantes, em sinal de contrição.
            Durante os toques de chamada, feitos no início da cerimônia, os atabaques são abatidos sem acompanhamento de danças e cantos, o que contribui para realçar, graças a essa ausência de elementos melódicos, a pureza do ritmo associado a cada orixá. Em lugar de ritmos, podemos chamá-los “ídeofones ou locuções musicais”.
            O elemento melódico das músicas africanas destaca-se, no decorrer das cerimônias privadas, no momento dos sacrifícios, oferendas e louvores dirigidos as divindades diante dos “pejis”. São cantos sem acompanhamento de tambores, ficando o ritmo, ligeiramente marcado por palmas. A melodia é rigorosamente submetida as acentuações tonais da linguagem iorubá.
            Os dois elementos, ritmo e melodia, encontram-se associados no decorrer do “xirê”, quando os sons dos atabaques são acompanhados por cantos.
            Antes de começar o “xirê”' dos orixás no barracão, faz-se sempre o “padê”, palavra que significa “encontro” em iorubá: um encontro. principalmente com Exu, o mensageiro dos outros deuses, para acalmá-lo e dele obter promessa de não perturbar a boa ordem da cerimônia que se aproxima.
            Uma vez terminada essa parte, todos se põem de pé, Mãos estendidas em forma de saudação, enquanto a “iamorô” e as outras pessoas que tomaram parte ativa no “padê” dançam por um momento, para honrar a memória dos portadores de títulos desaparecidos.
            Mais tarde, no início da noite, começa o “xirê”. Os “iaôs” começam por saudar a orquestra e se prosternar aos pés do pai ou mãe-de-santo, executando, em seguida, ao som dos atabaques danças para cada um dos orixás. O caráter dessas danças é variado, ora agressivas, ora majestosas, ora graciosas, ora atormentadas.
            Para o conjunto dos fiéis, esses cantos e danças são formas de saudar as divindades. Para os filhos-de-santo, consagrados a um orixá determinado, quando chega a hora de evocar o seu Deus, a dança adquire uma expressão mais profunda, mais pessoal, e os ritmos, pelos quais foram sensibilizados, tornam-se uma chamada do orixá e podem provocar-lhes um estado de embriaguez sagrada e de inconsciência que os incitam a se comportarem como o deus, enquanto vivo.
            O transe começa por hesitações, passos em falso, tremedeiras e movimentos desordenados dos “iaôs”. Imediatamente ficam descalços, as jóias que usam são retiradas, as calças são arregaçadas até o meio da perna. Depois de alguns instantes, eles começam a dançar, possuídos pelos seus deuses, com expressões faciais e maneiras de andar totalmente modificadas.
            Os orixás são recebidos com gritos e louvores e, em seguida, fazem a saudação aos atabaques, ao pai ou a mãe-de-santo, aos “ogãs” do terreiro, sendo, finalmente, levados pelas “ekedis” ao “peji” do seu deus. Os “iaôs” vestem-se então, com roupas características do seu orixá e recebem suas armas e seus objetos simbólicos. Uma vez convenientemente vestidos, todos os orixás encarnados voltam em grupo ao barracão, onde começam a dançar diante de uma assistência recolhida. Xangô “pavoneia-se” majestosamente; Oxum requebra-se; Oxossi corre, perseguindo a caça; Ogum guerreia; Oxalufã, enfraquecido e curvado pelo peso dos anos, arrasta-se mais do que anda, apoiando no se “paxorô”.
            A diferença entre as cerimônias para os orixás na África e no Novo Mundo decorre sobretudo, de que, na primeira evoca-se um só orixá durante uma festa celebrada em um templo reservado para ele, enquanto que no Novo Mundo vários orixás são chamados em um mesmo terreiro durante uma festa. E ainda na África tal cerimônia é celebrada geralmente pela coletividade familiar e um só elégùn é normalmente possuído. No Novo Mundo não existindo essa coletividade familiar, o orixá tomou o caráter individual e acontece que, durante uma mesma festa, vários “iaôs” são possuídos pelo mesmo orixá, para a satisfação própria e a de todos aqueles que cultuam esse orixá.

Parte Cinco - A Obra Fotográfica e o Sincretismo

Resumo:

            O acervo deixado por Fatumbi inclui 6 mil negativos de extrema importância na recuperação da memória africana na cultura brasileira e 40 livros. Dentre elas, Orixás, analisa, como os santos Africanos ligaram-se aos santos Católicos no fenômeno conhecido como Sincretismo. Nesta alegoria o enredo homenageia as fotos e os textos de Fatumbi, e representam sua análise sobre as relações Candomblé/Catolicismo.

Aprofundamento: Fatumbi publica a Bíblia do Candomblé: O livro “Orixás”

            Para o antropólogo Gilberto Velho a obra legada por Fatumbi “é extremamente importante na recuperação da memória africana na cultura brasileira”.
            Pierre Verger morreu aos 93 anos, vítima de insuficiência cardíaca e respiratória. O acervo deixado inclui 62 mil negativos e mais de 40 livros escritos e 3.500 espécies de plantas.
            Começou a fotografar aos 30 anos, por ocasião da morte de sua mãe.
            A compreensão do Sincretismo é um dos resultados mais importantes da Obra de Fatumbi, pois os Santos do paraíso católico ajudaram os escravos a lograr e a despistar os seus senhores sobre a natureza das danças que estavam autorizados a realizar, aos domingos, quando se reagrupavam em batuques por nações de origem. Vendo seus escravos dançarem de acordo com os seus hábitos e cantarem nas suas próprias línguas, os senhores julgavam não haver ali divertimento de negros nostálgicos. Quando precisavam justificar o sentido dos seus cantos, os escravos declaravam que louvavam, nas suas línguas, os santos do paraíso. Na verdade, o que eles pediam era ajuda e proteção aos seus próprios deuses.
            Para Fatumbi é difícil precisar o momento exato em que esse sincretismo se estabeleceu. Parece ter-se baseado, de maneira geral, sobre detalhes das estampas religiosas que poderiam lembrar certas características dos Deuses Africanos.
            Os santos católicos, ao se aproximarem dos deuses africanos, tornavam-se mais compreensíveis e familiares aos recém-convertidos. É difícil saber se essa tentativa contribuiu efetivamente para converter os africanos, ou se ela os encorajou na utilização dos santos para dissimular as suas verdadeiras crenças. Nos candomblés da Bahia as duas religiões permanecem separadas, concebe-se os orixás e os santos católicos como de categoria igual, embora perfeitamente distintos.
            Com o passar do tempo, com a participação de descendentes de africanos e de mulatos cada vez mais numerosos, tornaram-se eles tão sincera.mente católicos quando vão a igreja, como ligados às tradições africanas quando participam. zelosamente, das cerimônias de candomblé.
O Sincretismo determinado no Livro ‘Orixás” é:

Oladumaré

Deus

Orixás

Santos

Exu

Diabo

Ogum

Bahia: Santo. Antônio de Pádua
Rio: São Jorge

Oxóssi

Bahia: São Jorge
Rio: São Sebastião

Ossain

?

Orunmilá

?

Oranian

?

Xangô

São Jerônimo

Oiá-Iansã

Santa Bárbara

Oxum

Bahia: N. Sra. das Candeias
Recife: N. Sra. dos Prazeres

Obá

Santa Catarina

Iemanjá

N. Sra. da Imaculada Conceição

Oxumaré

São Bartolomeu

Obaluaê

Bahia: São Lázaro e São Roque
Rio: São Sebastião

Nanã Buruku

Sant’ana

Oxalá

Bahia: Senhor do Bonfim

 

Parte Seis: Fatumbi Iluminado encontra Oxalá

Resumo:

            Jorge Amado diz que Fatumbi iluminou o Brasil. Sábias palavras. A expressão de Luz é total: para guiar a humanidade no sentido de respeito e compreensão às diferenças culturais, pois não existem povos certos ou errados. Precisamos, como Fatumbi, compreender a grandeza das manifestações religiosas espalhadas por todo o mundo e estabelecer as bases para um mundo melhor e fraterno.
            Nascido a 4 de Novembro de 1902. em Paris, numa família rica, como Pierre Verger, ele morreu em Salvador no dia 11 de Fevereiro de 1996 como Fatumbi Oju Obá. Ele foi longe, mas está perto: “a morte é uma mera passagem para a reencarnação, e por isso, é sempre motivo de festa.”. A festa entre Fatumbi e Oxalá se dá na alegoria 6. Oxalá ou “Òrìsànlá ou Obàtálá”, “O Grande Orixá” ou “O Rei do Pano Branco” ocupa uma posição única e inconteste do mais importante orixá e o mais elevado dos deuses iorubás. Foi o primeiro a ser criado por Olodumaré, o Deus Supremo. Òrìsànlá-Obàtálá é também chamado Òrìsà ou Obà-Igbó, o Orixá ou o Rei dos Igbôs. Tinha um caráter bastante obstinado e independente, o que lhe causava inúmeros problemas.

Aprofundamento:

            Òrìsànlá foi encarregado por Olodumaré de criar o mundo com o poder de sugerir (àbà) e o de realizar (àse) razão pela qual é saudado com o título de Alàábáláàse. Para cumprir sua missão, antes da partida. Olodumaré entregou-lhe o “saco da criação”. O poder que lhe fora confiado não o dispensava, entretanto, de submeter-se a certas regras e de respeitar diversas obrigações como os outros orixás. Uma história de Ifá nos conta como, em razão de seu caráter altivo, ele se recusou a fazer alguns sacrifícios e oferendas a Exu, antes de iniciar sua viagem para criar o mundo.
            Òrisànlá pôs-se a caminho apoiado num grande cajado de estanho, seu òpá osoró ou paxoró, o caiada para fazer as cerimônias. No momento de ultrapassar as portas do além, encontrou Exu, que entre as suas múltiplas obrigações, tinha a de fiscalizar as comunicações entre os dois mundos. Exu, descontente com a recusa do Grande Orixá em fazer as oferendas prescritas, vingou-se fazendo-o sentir uma sede imensa. Òrisànlá, para matar sua sede, não teve outro recurso senão o de furar, com o seu paxarô, a casca do tronco de um dendezeiro. Um. liquido refrescante dele escorreu: era o vinho de palma. Ele bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou bêbado, não sabia mais onde estava e caiu adormecido, roubou-lhe o “saco da criação”, dirigiu-se a presença de Olodumaré para mostrar-lhe seu achado e lhe contar em que estado se encontrava Órisànlá. Olodumaré exclamou: “Se ele está nesse estado, vá você, Odùduà! Vá criar o mundo!”
            Quando Oxalá acordou não mais encontrou ao seu lado o “saco da criação”. Desrespeitado, voltou a Olodumaré. Este, como castigo pela sua embriaguez, proibiu ao Grande Orixá, assim como aos outros de sua família, os orixás funfun, ou “orixás brancos”, beber vinho de palma e mesmo de usar azeite de dendê. Confiou-lhe entretanto, como consolo, a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos, aos quais ele, Olodumaré, insuflaria a vida.
            Por essa razão, Oxalá é também, chamado de Alàmórere, o “proprietário da boa argila”. Pôs-se a modelar o corpo dos homens, mas não levava muito a sério a proibição de não beber vinho de palma e, nos dias em que se excedia, os homens saiam de suas mãos contrafeitos, deformados, capengas, corcundas. Alguns, retirados do forno antes da hora, saiam mal cozidos e suas cores tornavam-se tristemente pálidas: eram os albinos. Todas as pessoas que entram nessas tristes categorias são-lhes consagradas e tornam-se adoradoras de Orixalá.

Fatumbi é exemplo de luz

            “A morte é uma mera passagem para a reencarnação, e por isso, é sempre motivo de festa. Na África, as pessoas já nascem sabendo que irão reencarnar depois da morte.” - dizia ele.
            Nascido em Paris a 04 de Novembro de 1902, numa família rica. Fatumbi morreu no dia 11 de fevereiro de 1996 na sua Salvador, Bahia.
            Ele possuiu o raro do bom contacto humano, capaz de adaptar-se a várias realidades e culturas sem menosprezá-las, ao contrário, vivenciando-as de forma plena. Ele foi longe, praticando a simpatia e o desprendimento. Um homem livre e disponível. O que explica seus ganhos. Um sábio iluminado.
            Sábio e artista, Fatumbi sabia tudo sobre a África e o Brasil - baiano exemplar, nos engrandeceu e iluminou. Belas palavras de Jorge Amado. E a expressão usada “iluminou” é perfeita - Fatumbi é luz e esperança para a convivência pacífica da humanidade pois o respeito cultural é fundamental para a manutenção do belo mosaico humano mundial.

Biografia de Fatumbi

            Pierre Fatumbi Verger Oju Obá nasceu Pierre Edouard Leopold Verger, a 4 de Novembro de 1902, em Paris. Fotógrafo, etnólogo, babalaô francês, costumava explicar os fatos de sua vida como conseqüência dos acasos.
            Aos trinta anos o primeiro caso importante: tendo perdido todos os membros da família e sem uma identidade mais profunda com o contexto social em que vivia, decide então abandoná-lo. Com uma mochila e uma máquina fotográfica, parte em busca de novas experiências e sobretudo do esquecimento de tantas outras. Assim, deixa Paris em 1932 e segue para as Ilha do Pacífico.
            Durante quinze anos viaja por diferentes regiões do mundo, fotografando o que lhe despertava interesse. Pouco a pouco, reúne uma preciosa documentação sobre antigas civilizações em vias de desaparecimento, ou que sofriam profunda transformação em suas tradições culturais. O exame deste material já revela o talento do pesquisador.
            Neste período conhece os Estados Unidos, Japão, China, Ilhas Filipinas, Sudão (hoje Mali), Togo, Daomé (atual Benin), Nigéria, parte do Saara, as Antilhas, México, Guatemala, Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Brasil. Além de repórter, foi também encarregado do laboratório fotográfico do Musée d’Etnographie (hoje Musée de I’Homme), em Paris, correspondente de guerra na China para a revista Life e encarregado de coletar documentos fotográficos para o Museo Nacional; de Lima, no Peru.
            Um segundo acaso importante precipita Verger definitivamente no campo da pesquisa. E quando descobre a Bahia em 1946.
            Trazido pela leitura de Jubiabá de Jorge Amado, apaixona-se pela cidade e sobretudo pela gente que aqui vivia. Instala-se, e passa a conviver intensamente com o povo. Desse convívio surge o interesse pela compreensão da sua história e da sua cultura. Inicia uma incansável pesquisa sobre o culto dos orixás e sobre as influências econômicas e culturais do tráfico de escravos.
            A partir daí, entre 1949 e 1979, faz sucessivas viagens entre a Bahia e a Costa Ocidental da África, principalmente Benin e Nigéria. Visita todo o reduto Iorubá do Novo Mundo. Intensifica suas investigações sobre esta etnia, sua influência na cultura baiana e as ligações que estabelecem entre si. A relação de Verger com a cultura negra aos poucos ultrapassa o interesse cultural. Envolve-se profundamente com o candomblé’, onde é aceito e iniciado e onde passa a exercer funções. Na Bahia é Ogã no Opô Afonjá da finada Mãe Senhora e no Opô Aganju de Babino, em Lauro Freitas. No Benin, foi iniciado como babalaô quando estudava a arte adivinhatória de Ifá, recebendo o nome de Fatumbi - renascido pelo Ifá. Como babalaô, teve acesso ao patrimônio cultural dos iorubás, sua mitologia e sua botânica aplicada à terapêutica e à liturgia dos cultos de possessão.
            Verger consolida, como repórter fotográfico, um importante trabalho histórico e etnográfico. Sua observação arguta o despojamento às vezes austero dos bens materiais, sua humildade intelectual e sua sabedoria humana - baseada na simplicidade, no respeito e na verdade - certamente facilitaram sua tarefa.
            Em 1966,o percurso e o talento da obra de Verger são oficialmente reconhecidos pela ciência: A Universidade de Paris, através de Sorbonne, lhe confere o título de doutor, embora tenha Verger abandonado. os estudos acadêmicos, ainda no liceu, aos dezessete anos.
            Viveu na Bahia. onde continuou incansável trabalho sobre sua documentação colhida durante trinta e quatro anos de investigações. Concentrou-se na divulgação de sua obra, preparando livros ou artigos para revistas e conferências. atendendo às solicitações que chegavam de diversas partes do mundo.
            Pierre Fatumbi Verger Oju Obá foi mesmo homem “livre e disponível” do qual falava seu amigo Théodore Mond. Fiel à sua escolha, seguiu no exercício profundo e correspondente da solidão e da liberdade. Morreu em Salvador, no dia 11 de fevereiro de 1996.

Títulos:

  • Doutor em estudos africanos pela Faculté des Lettres et Sciences Humaines de L’Universté de Paris - Sorbonne

  • Membro correspondente do Musé National d’Histoire Naturelle de Paris

  • Diretor aposentado de pesquisa do Centre National de la Recherche Scientifique - CNRS - Paris

  • Ex-Professor visitante da University of Ifé - Nigéria

  • Ex-Professor visitante da Universidade da Bahia.

Alguns dos livros Publicados

  • South Sea Islands - Routlege, Londres - 1937

  • Mexique - Paul Hartmann, Paris – 1938

  • Fiesta y danzas en el Cuczo y en Los andes – Editorial Sudamérica, Buenos Aires - 1945

  • Incas of Peru – Pocahontas Press, Chicago - 1950

  • Brésil-Paul Hartman, Paris - l951

  • Congo Belge - Paul Hartman, Paris - 1952

  • Dieux d’Afrique - Paul Hartman, Paris - 1954

  • Bahia de tous les Poêtes – Guide de Livre Lausanne - 1955

  • Indiens pas morts - Delpirc, París - 1956

  • L’influence du Brésil au Golfe de Bénin - Memória no 27 do Institut Français pour l’Afrique Noire - IFAN, Dakar – 1953

  • Notes sur le culte des orisha et vidoun à Bahia, la Baie de Tous les Saints au Brésil et à L áncienne Côte des Esclaves Memória no 51 do Institut pour l’Afrique Noire - IFAN, Dakar – 1957

  • Cuba - Paul Hartman, Paris – 1968

  • Stories of Orishas - Scholrs Press, Ibadan - Nigéria - no prelo

  • Retratos da Bahia - Editora Corrupio, Bahia, Brasil – 1981

  • Oxossi, o caçador - Editora Corrupio - Bahia – 1981

  • Notícias da Bahia - 1850 - Editora Corrupio - Bahia – 1981

  • Orixás – Editora Corrupio - SP – 1981

  • Ewé - Ed. Companhia das Letras - SP - 1995

Filmes:

  • Les mollécules sacrés - realizado por Jean Lalier e Monique Toselo para a ORTF – 1971

  • Africains du Brésil et brésiliens d’Afrique - realizado com a participação de Yannick Bellon para a ORTF – 1975

  • Tempo Rei – Realizado por Gilberto Gil para a TVA - 1995

Ilha do Governador, Março de 97
Milton Cunha

 

SAMBA ENREDO                                                1998
Enredo     Fatumbi, a Ilha de Todos os Santos
Compositores     Almir da Ilha, Maurício 100 e Márcio André
Vem brilhar
Um Dom divino
Na regência de Ifá
Nasce o filho do destino
E com a Ilha atravessa o mar
O navio é negreiro
E na vinda vêm os orixás
Pra surgir nossos terreiros
Da cultura Iorubá Nagô
Se entrega por inteiro
E se tornou
Babalaô, homem branco feiticeiro

Negro chora e negro ri, amor, amor
Negro é raça, negro é grito
Negro é tão bonito
Fatumbi fotografou

E com Jubiabá na memória
Muda sua trajetória
Vem-se embora
E da Bahia faz o seu canto
Se torna filho de santo
De Mãe Senhora
E sua obra no candomblé
Mostra a força do nosso axé
E a grandeza dessa nação
Iluminado
Pela paz de Oxalá
É luz que brilha, com seu encanto
É Ilha de Todos os Santos

Vem ver, vem ver
A bateria arrepiar
Xirê, Sapucaí vai tremer
Pra Fatumbi Ojuobá