Nos braços da história,
Jacarepaguá, quatro séculos de glórias
Entre
as formas, que muitas formas tomam a vida, uma delas é Arthur Bispo
do Rosário que viveu meio século na Colônia Juliano Moreira.
Desfiar de sentidos que acumulam as palpitações da matéria, que povoam
os olhos, que sussurram aos ouvidos um mundo de Histórias e Glórias.
A “Minha passagem pela Terra.”
Ninguém pois melhor do que ele para nos contar perante a presença do
Grande Supremo e da humanidade, “Nos Braços da História, Jacarepaguá,
Quatro Séculos de Glórias.”
Jacarepaguá deriva-se de três palavras da língua Tupi-Guarani: YACARE
(jacaré), UPÁ (lagoa) e GUÁ (baixa) - A “Baixa lagoa dos jacarés”. Na
época da colonização, as lagoas da baixada de Jacarepaguá eram repletas
de jacarés, daí o nome. Antes da chegada dos europeus, a imensa região
não tinha dono, embora existisse uma rica diversidade de seres vivos.
Índios, animais e vegetais conviviam com inteligência em simetria às
leis da Natureza. Essa harmonia ambiental cessou com o descobrimento
do Brasil. O rei de Portugal passou a ser proprietário de tudo, com
o poder de dividir o mundo descoberto entre vassalos, sem contudo, perder
a autoridade central e absoluta. Seus representantes no Brasil também
tinha direito de doar em seu nome terras para agricultura.
Eram chamadas Sesmarias.
A História de Jacarepaguá começou em 1567, dois anos após a fundação
da cidade do Rio de Janeiro, quando Salvador Correia de Sá assumiu o
cargo de primeiro governador da nova cidade e concedeu a dois auxiliares
da administração, Jerônimo Fernandes e Julião Rangel, as terras de Jacarepaguá.
Porém, Jerônimo e Julião nunca tomaram posse da Sesmarias concedidas.
Mais tarde, em 1594, o governador Salvador Correia de Sá revogou o ato
anterior e doou as Sesmarias para seus filhos Gonçalo e Martim. A data
da carta da concessão é de 09 de setembro de 1594. Os dois irmãos iniciaram
a colonização de Jacarepaguá, principalmente Gonçalo. Martim dedicou-se
mais à política. Foi governador do Rio de Janeiro, em dois períodos,
no início do século XVII. Martim casou-se com a espanhola Maria de Mendonza
e Benevides.
Dessa união surgiu a dinastia Sá e Benevides de grande importância na
história de Jacarepaguá, principalmente seus sucessores: os Viscondes
de Asseca.
Nas primeiras décadas do século XVII, Gonçalo fundou o engenho do Camorim
e dentro do engenho a capela de São Gonçalo do Amarante, que ainda existe
nos dias de hoje. No mesmo período, surgiram outras edificações na atual
Freguesia que perduram até hoje: a Sede do Engenho D’Água e a Igreja
de Nossa Senhora da Pena, no alto da Pedra do Galo. Na época, essa região
de Jacarepaguá, já possuía razoável povoamento, em virtude dos diversos
arrendamentos feitos pelos Correia de Sá. Assim, com a chegada dos primeiros
escravos no Rio de Janeiro, que aconteceu em 1614, a maioria veio para
os grandes foros de Jacarepaguá.
A característica de Jacarepaguá nos séculos XVII e XVIII, períodos mais
ricos do Brasil-colônia, foi a ocupação dos portugueses com a criação
de muitos engenhos de açúcar e ao mesmo tempo edificando capelas e igrejas,
em comum acordo com o poder eclesiástico. Como os índios não aceitavam
a servidão, os colonizadores apelaram para os escravos vindos da África.
Assim o povo indígena foi diminuindo até sua completa extinção ao mesmo
tempo que os africanos cresciam nas terras de Jacarepaguá. A população
da região em 1797 era de 1.905 habitantes, sendo 437 homens, 562 mulheres
e 906 escravos. No início, a produção seguia pelo mar, através da Barra
da Tijuca, até o porto do Rio de Janeiro. Depois, o caminho passou a
ser terrestre pela Estrada Real de Santa Cruz, (hoje, Estrada Intendente
Magalhães, Ernani Cardoso e Suburbana). Outro caminho era até o Porto
Fluvial de Irajá. Daí seguia-se em pequenos barcos até a atual Praça
Quinze.
Jacarepaguá era a região da cidade com mais engenhos de açúcar da época
colonial. Os principais eram o Engenho da Taquara, o Engenho Novo (atual
Colônia Juliano Moreira), Engenho do Camorim, Engenho D’Água, Engenho
da Serra (atual da estrada do Pau Ferro e as encostas da serra da atual
Estrada Grajaú-Jacarepaguá) e Engenho de Fora (atual região da Praça
Seca).
Além dos Correia de Sá e seu ramo Sá e Benevides, a principal família
dos tempos coloniais de Jacarepaguá foi a Teles Barreto de Menezes.
Os monges do Mosteiro de São Bento também tiveram importante papel na
história de Jacarepaguá. Os Beneditinos possuíam terras cultivadas e
edificadas no Camorim, Vargem Pequena e Vargem Grande. Preservaram a
Capela de São Gonçalo do Amarante e edificaram a Capeia de Nossa Senhora
de Mont’Serrat.
Ao chegar o Império, Jacarepaguá mantinha seu aspecto agrícola. A cana-de-açúcar
continuava a ser cultivada, mas a plantação de café tornou-se o mais
importante produto econômico dos antigos engenhos. As terras estavam
bastante divididas. Embora ainda imensas, as propriedades eram menores
do que as do período colonial. A principal família continuava a ser
a Teles Barreto de Menezes, tradicional do Brasil-colônia, cujos principais
engenhos eram o da Taquara, o Engenho D’Água e o Engenho de Fora. Os
Sá e Benevides perdiam a força do poder na região, a cada ano do império
e nada possuíam em Jacarepaguá na época da Proclamação da República.
Nascido em Jacarepaguá em 1839 e falecido em 1918 na sua casa da cidade
no Arco dos Teles, na atual Praça Quinze. O Barão da Taquara foi grande
benfeitor de Jacarepaguá. Construiu estradas, escolas e loteou diversas
das suas terras, distribuindo muitos lotes para seus escravos alforriados
antes da abolição da escravatura. Outro personagem de destaque em Jacarepaguá
na época imperial foi o Coronel Tedim, proprietário do Engenho da Serra
e grande amigo do Imperador Dom Pedro I.
O monarca brasileiro gostava muito de caçar nas terras do Coronel
Tedim.
Sem perder o seu aspecto rural, o progresso chegou a Jacarepaguá, após
a segunda metade do século XIX. Durante todo o período imperial, os
meios de transportes eram as carroças, carruagens, tropas de cargas
e montaria individual a cavalo. Os habitantes de Jacarepaguá tinham
que enfrentar a poeirenta Estrada Real de Santa Cruz, para alcançar
a cidade. Em 1858, o trem chegou à Cascadura, logo depois, em 1875,
o Bonde puxado a burro ligava Cascadura, Freguesia e Taquara. Foi a
maior revolução para o povo de Jacarepaguá. A distância entre a região
e a cidade diminuiu bastante. O trem, movido a carvão, (a famosa Maria-Fumaça),
tinha velocidade espantosa para a época.
O século XX chegou quando a República tinha onze anos. Jacarepaguá continuava
agrícola. Mas o café perdia completamente o seu domínio. A atividade
granjeira iniciava a sua presença em Jacarepaguá juntamente com o novo
século. As chácaras se multiplicavam a cada ano para abastecer o mercado
do Centro e das outras partes próximas da cidade, que, na época, já
possuíam aspectos bem urbanos. Jacarepaguá, apesar de ser bastante rural,
não abdicava de acolher as novidades do progresso.
A eletricidade entrava no bairro. Os bondes em 1912 deixavam de ser
puxados a burro e foram eletrificados. O Barão da Taquara tinha uma
linha de telefone, que ligava a fazenda da Taquara com sua casa do centro
da cidade. O cinema mudo se instalava na Praça Seca. Um pouco mais tarde,
na década de 1920, o futebol ganhava espaço no bairro. Na década de
1930, chegava a vez das Escolas de Samba, com o Vai-se-Quizer e Corações
Unidos.
No início da década de 1960, os grandes loteamentos já modificavam boa
parte do bairro em área urbana com seus problemas peculiares. Mas a
atividade agrícola persistia na maioria das terras da região, fornecendo
produção hortigranjeira para toda a cidade do Rio de Janeiro. A transformação
do bairro, mudando completamente a fisionomia agrícola que vinha dos
tempos coloniais começou a acontecer a partir da década de 1970, com
a formação de grandes indústrias. Surgiram os enormes conjuntos residenciais
e os loteamentos legais e clandestinos.
Assim, a população cresceu demasiadamente, fazendo Jacarepaguá uma cidade
grande dentro de outra cidade, com todos os problemas inerentes dos
intensos centros populacionais.
Apesar da brusca mudança, Jacarepaguá não perdeu a elegância dos tempos
remotos. Há ainda lugares, como a Vargem Pequena e Vargem Grande, que
servem de amostra da época agrícola do bairro.
Há também rico patrimônio de construções do Rio de Janeiro colonial:
igrejas, sedes de engenhos e um aqueduto. Tudo isso ainda dentre nossas
responsabilidades com o futuro está a de valorizar e conservar instalações
que contribuem para a vida material e cultural da cidade: os Mananciais
nas Serras Limítrofes, o Aeroporto, o Autódromo, o Rio Centro e um Horto
Municipal. Junto às escolas, praças dos condomínios, centros comunitários,
de importância local, são estes os legados que oferece a região para
que se reconstrua o significado de ser carioca por épocas que estão
por vir. Definitiva Metrópole.
Tudo isso em harmonia com as construções modernas, que também são patrimônios
valiosos do bairro que sabe cultivar um charme através de, “Nos Braços
da História, Jacarepaguá, Quatro Séculos de Glórias.”
Orlando Júnior

Bibliografia:
-
O SERTÃO CARIOCA
Magalhães Corrêa
Coleção Memória do Rio 5
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
-
O VALE DO MARANGÁ
Waldemar Costa
-
BISPO DO ROSÁRIO
Galeria do Ibeu – Copacabana
Galeria do Ibeu –Madureira
Curadoria Marcio Doctors
Instituto Brasil - Estados Unidos, Galeria de Arte
-
JACAREPAGUÁ ATRAVÉS DOS TEMPOS
Marcia de Souza Santos - Livraria Ciência e Paz
-
JACAREPAGUÁ DE ANTIGAMENTE
Carlos Araújo - Carol Borges Editora
-
AS FREGUESIAS DO RIO ANTIGO
Noronha Santos - Edições Cruzeiro
-
IMAGENS DE JACAREPAGUÁ
Waldemar Costa
-
BAIXADA DE JACAREPAGUÁ: SERTÃO E ZONA SUL
Hélio Vianna
Coleção Bairros Cariocas
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
Secretaria Municipal de Cultura
Subprefeitura da Barra da Tijuca/Jacarepaguá
-
HISTÓRIA DO RIO DE JANEIRO (do capital comercial ao capital industrial
e financeiro)
Eulalia Maria Lahmeyer Lobo – 1° e 2° volumes
-
JACAREPAGUÁ Reggie
Anna Carmem da Silva Fernandes
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Diretoria do E-15 Distrito de Educação e Cultura
Trabalho elaborado por Speranza França da Mata.
Agradecimentos ao escritor Waldemar Costa pela sua colaboração.
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