No
ano 2000 a São Clemente é Tupi, com Sergipe na Sapucaí
Apresentação:
Um Estado não
é feito apenas de circunstâncias, embora elas sejam importantes...Um
Estado se constrói a partir de fundamentos que moldam a identidade
de seu povo, definindo seus costumes, instituições, estabelecendo
o modo pelo qual se relaciona com os outros e absorve as tendências
dominantes em cada momento. São estes fundamentos apresentados a partir
dessas circunstâncias, que procuraremos mostrar neste enredo e nesta
viagem pela 'História de Sergipe'. As vésperas de completarmos 500
Anos de Brasil, resolvemos pensar sobre o passado, o presente e o
futuro de nosso Pequeno Notável Sergipe...Verificamos quantas maravilhas
esse Estado possui e não valorizamos; a beleza de sua natureza, a
variedade de sua fauna, a originalidade de seu folclore e, principalmente,
a generosidade de seu povo...Pensamos e repensamos sobre o que? Ou
quem? Poderíamos sintetizar todo o nosso desejo de descrever este
Sergipe maravilhoso somente superficialmente, mas achamos que este
'pequeno notável' merece o sintetismo global de toda a sua arte, sua
magia e encanto... "No Ano 2000, a São Clemente é Tupi, com Sergipe
na Sapucaí !, premia a obra do seu grande povo e o que temos de Brasil;
reafirma nosso respeito por este 'grande' Estado e sua Gente, e com
o orgulho de sermos brasileiros, o sonho de tornarmos esse Estado
em um grande lugar onde todos possam também se orgulhar...
João Luís de Moura &
Sônia Regina Carnavalescos
Enredo
No ano 2000
a São Clemente é Tupi, braço esquecido de nossa formação étnica e
cultural. Sergipe vem dar uma outra versão para os quinhentos anos
do Brasil, celebrando a nação Tupi através de seus mitos e de suas
lendas, tendo em conta que aquela nação indígena tem sido considerada
como um elemento sem significação para nossa formação cultural. Mas
a mitologia Tupi é extremamente rica em imagens. Segundo a lenda Tupi,
o mundo surge do desejo do Deus Marra...
Depois de criar sete deusas de pedra, Maira, não contente,
resolve dar vida a uma delas.
Numiar era seu nome...
Maíra então, fez com que Numiar se casasse com seu
filho Arapiá. Desse casamento nascem quatro filhos, cada um representando
uma das estações do ano: o calor do Verão, a fartura do Outono, a
beleza fria do Inverno e o colorido das Flores da Primavera. Os netos
de Marra reinam durante três meses, sucessivamente, alternando sua
influência sobre o clima do mundo visível...
Numiar e Arapiá, contudo, em luta pelo poder, passam
a viver em profundo e severo desentendimento, o que desagrada Maíra.
Visando por fim ao conflito, Marra arremessa os dois
para o ar transformando Arapiá em sol e Numiar em Lua, fazendo uma
apologia à mãe natureza, onde no sonho Tupi, Marra criara o mundo
com abundância.
Maíra divide o mundo em duas metades superpostas: noite e dia, dando
a cada um deles, o reino correspondente e o castigo de jamais se encontrarem.
Durante as escavações para a Construção de uma hidrelétrica,
uma equipe de arqueólogos descobriu em Xingó um dos maiores sítios
arqueológicos do país, com achados datando de mais de 3000 anos...Vestígios
de um homem desconhecido foram encontrados às margem do Rio São Francisco
nos sítios arqueológicos sergipanos de Justino e Xingó. Se vamos comemorar
é preciso saber, então, que somos muito mais antigos do que o Brasil
dos 500 supõe...
Queremos questionar o marco cronológico do Brasil dos 500 e sua cultura
primitiva... Será que o Brasil são outros quinhentos?
Somos 500 ou Somos 2000?
Além disso,
no início da colonização, o "achado de Cabral", ficou relegado
ao abandono, como "terra de ninguém'", já que os portugueses
não encontraram meios de lucro no novo mundo. Foi quando outros povos
descobriram, também, o Brasil, que o português foi obrigado a dar
uso ao seu achado. Os holandeses permanecem no Nordeste por quase
trinta anos, espanhóis conseguiram algum direito de uso através da
União Ibérica.
Nesse momento, podemos falar da gênese da formação
social brasileira, em especial a formação sergipana, ocasião em que
os portugueses introduziram um modo de vida estranho a seus habitantes
originais, criando uma dimensão econômica desconhecida: trouxeram
bois, cavalos, burros e outros animais, devastaram a terra, cultivaram
o açúcar e, em nome da 'civilização', quase destruíram por completo
a grande nação Tupi.
As terras descobertas eram vistas apenas como meio
de comércio e de obtenção de riqueza. Nem o ser humano que encontraram
escapou à cobiça, por isso, trouxeram para cá a escravidão, extinta
na Europa desde a antigüidade.
Escravizado, o índio tornou-se força de trabalho e o gado tomou contada
terra que antes era sua. No fim, reinou o açúcar, com seu vapor maldito
e seus engenhos de devorar negros.
Somos "terra de todos' ou 'terra de ninguém"?
Sergipe transpira a história do Brasil, através da explosão
da raça Tupi...
A culinária, o folclore, as artes e o artesanato são
a alma de um povo.
Sergipe é um dos estados mais ricos em termos de representações
e celebrações culturais.
O folclore é, sem dúvida, o resultado da fusão do
negro, do índio e do europeu no campo da cultura. Podemos destacar
os caboclinhos, o reisado, os bacamarteiros, pois também com muito
Forró, viva São João!
Terra da pluralidade, vou comer à beça! Tem peixes
variados, camarões e caranguejos.
À, sombra de suas árvores para descansar, ao brilho
da luz, ao prazer da brisa, sou delícias de cajus, cocos, mangabas,
maracujás e abacaxis que o gosto Tupi relegou...
O artesanato nessa terra sergipana foi traduzido em
rendas, bordados e labirintos, em couro e madeira, além das cerâmicas
e azulejos que são seu domínio sob a forma e criação.
Sou o orgulho do nordeste enfeitando meu país com
o mais rico artesanato!
Nas artes, o tropicalismo barroco sempre presente,
face ao encontro de duas culturas artísticas: a arte barroca, de origem
européia ibérica, adaptada à América tropical.
Sergipe é também o Rio São Francisco, e o Rio não
pode morrer...
"Não se deixa morrer, aquilo que dá a vida..."
O Rio São Francisco é o rio da alma do Brasil, que
corre pelo sertão a incorporar os diversos elementos do nosso povo...
O Rio São Francisco é o rio das poderosas "carrancas", que
abrem novos caminhos através do desconhecido, espantando fantasmas
e maus espíritos.
As "carrancas" nasceram para proteger as
embarcações contra os monstros das águas, mas hoje são belos objetos,
contribuindo para desenvolver atividade artística entre os ribeirinhos.
Ao longo do rio, convivendo com os sertanejos e ribeirinhos,
barqueiros e pescadores, crianças e velhos, existem personagens lendários
com Goiajara, Anhangá, Anagi, Galo Preto, Capetinha, Cavalo d'água,
Bicho d'água,Mãe d'água e Minhocão.
Desafiando a natureza, o homem ali desbravou o São
Francisco e, semesquecer de preservar o meio ambiente, construiua
Hidrelétrica de Xingó, a maior obra civil brasileira deste final de
século, que gera milhões de quilowatts e que hoje representa uma das
mais avançadas tecnologias em hidrelétricas do mundo.
É na Ilha de São Pedro, situada nesse imenso Rio dos
Sertões que, nos dias de hoje, cerca de 300 índios Xocós ainda vivem
e resistem...
Esses índios conservam a cultura tradicional de antigas
tribos, como repositórios dos elementos marcantes de seus ancestrais.
E dessa Ilha, quem sabe, virá a glorificação ao Rio
dos Sertões e a concretização da profecia de Sumé, que preconizou
a constituição de uma grande nação Tupi, fundada na solidariedade,
na liberdade e na coragem, sendo este o desejo da São Clemente e de
Sergipe para o Brasil no Carnaval do Ano 2000.
"... uma coisa é saber da história segundo historiadores,
e outra é vê-la através dos olhos que a viram."
João Luís de
Moura & Sônia Regina
Carnavalescos e Autores do Enredo
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