A Cana que aqui se
planta, tudo dá... Até energia.
Álcool – o combustível do futuro.
“(...) Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados
(...) Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela
tudo...”
Pero Vaz de Caminha
1º de maio de 1500
E não
é que o nosso primeiro cronista tinha razão?
Em sua carta-inventário, o nobre lusitano profetizava, logo de cara, a
fertilidade da Terra Brasilis, ainda sob o impacto
inicial de avistar uma terra tão rica em variedade de plantas e animais.
Teriam os colonizadores encontrado a Canaã – A terra prometida - ou viria
a ser o novo país a Canaã - a terra da cana?
Mais uma vez o Salgueiro desembarca na Sapucaí com as suas cores e traz
seus foliões para brincar nesta grandiosa usina de alegria, destilando
alto astral na festa de Momo. E aporta na avenida com uma das principais
riquezas da nossa terra, em que se plantando tudo dá.
Originária da Índia, a cana-de-açúcar encontrou no solo verde-amarelo
e na mão-de-obra indígena um terreno fértil para a produção de riqueza;
atraiu exploradores e instituiu os fundamentos da vida colonial portuguesa
no Brasil. A nobreza se regozijava na doçura do produto enquanto
os negros provavam, nas lavouras, o gosto amargo da escravidão.
O olho gordo sobre o açúcar trouxe os holandeses, que, por
suas vez, trataram de garantir o seu quinhão em Pernambuco. Obrigados
a plantar em outra freguesia, os refinados nobres da Casa de Orange utilizaram
a experiência tupiniquim nas Antilhas. Apesar disto e do protecionismo
ao açúcar da beterraba européia, não havia como escapar: o Brasil já era
o país do futuro. E da cana.
Tempos mais tarde, mais precisamente no início século XX, surgem
as primeiras usinas de álcool no Brasil. Não é que a observação de Caminha
estava sendo levada às últimas conseqüências? Quem poderia imaginar que
na terra que tudo dava, daria até energia?
Na Segunda Guerra Mundial, devido à escassez do petróleo e a busca de
fontes alternativas, o álcool entrou em cena para dar a partida e impulso
aos veículos. Trabalho para as usinas, força para a economia. Terminada
a guerra, porém, tudo voltou ao que era antes, com o petróleo recuperando
com força total a coroa ameaçada de rei dos combustíveis e o nosso
álcool reassumindo o posto de mero plebeu dos trópicos.
Nos anos 70, vejam só, o renegado produto novamente entraria em cena para
salvar a pátria, após mais uma crise, desta vez sem precedentes. Com toda
infra-estrutura em terra, clima e tecnologias, o Brasil deu a partida
ao mais ambicioso programa de energia renovável, um jeitinho brasileiro
de abastecer. Destilarias foram criadas anexas às decadentes usinas
de açúcar. A indústria automobilística apostou na energia que nascia
do chão brasileiro. Mas o que era doce se acabou. O fantasma do desabastecimento
e a queda do preço do petróleo entornaram o caldo do programa. A semente,
entretanto, continuaria viva e cada vez mais viável para enfrentar a estrada
desse futuro tão presente.
O terceiro milênio traz consigo a esperança e a necessidade de
apostar em novas fontes de energia. No vai-e-vem da economia, a
guerra pelo petróleo acelera a aposta do homem em combustíveis de fontes
renováveis. Foguetes alcançam o espaço impulsionados pela força
do combustível verde e limpo. O futuro aplaude e o meio-ambiente agradece.
Do espanto de Caminha até a conquista espacial, passaram-se séculos de
busca pela energia capaz de mover o progresso. O Brasil evolui e encontra
num futuro próximo a arte de se superar, moeda forte numa civilização
que luta pela preservação de suas raízes. É o país que exporta,
entre tantos produtos, beleza, arte, cultura e encanta o mundo com o jeitinho
brasileiro de ser. Se assim quisermos, assim será: um Brasil
que renova sua energia vital celebrando nos asfaltos do mundo e até no
infinito a sua grande herança divina.
Um país que não é melhor, nem pior. É apenas diferente e abençoado.
Terra onde tudo o que se planta deu, dá e dará. Até energia!
Renato Lage, Márcia Lávia e Departamento Cultural
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