Salgueiro, Minha Paixão, Minha Raiz
- 50 Anos de Glórias
Justificativa:
Cinquenta
anos de existência! Nada mais justo do que o Salgueiro mergulhar fundo
em sua essência para fazer uma retrospectiva de seus 50 anos de pleno
samba, contando e cantando sua história na avenida
Tudo
começou no morro do Salgueiro, encravado no bairro da Tijuca, abrigo
de tantos que migraram para o Rio de Janeiro, fundindo seus costumes
e tradições com a natureza sambista e festiva do lugar. Morro com suas
tendinhas recheadas com muito mocotó, cozido, peixada, feijoada, local
onde se discutia sobre samba e futebol, tudo isso regado com muita cerveja
e cachaça. Morro em que nasceu uma verdadeira Academia do Samba, nem
melhor, nem pior, apenas diferente.
Ao
longo das transformações que o carnaval vem sofrendo, o Salgueiro foi
pioneiro e grande responsável pela revolução do conceito dos desfiles
das escolas de samba. Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues e Joãosinho
Trinta, introduziram enredos criativos e inéditos, trazendo sempre o
inesperado para o público. Através de seus carnavais abriram-se as “comportas
da criatividade” e conquistou-se uma nova postura diante dos desfiles,
transformando-os em espetáculos grandiosos e luxuosos como os que vemos
hoje em dia.
E
é através de sua trajetória, de seus enredos memoráveis que o Salgueiro
quer homenagear a todos que participaram dessa agremiação, a todos que
de algum modo contribuíram, da maneira mais humilde à mais generosa
para cada desfile.
Aos
famosos ou anônimos que passaram na avenida defendendo o vermelho e
branco da escola. Às crianças, aos jovens, aos Aprendizes do Salgueiro
que continuarão a trajetória da escola por outros cinqüentenários.
Enfim,
Salgueiro em si; pedra bruta lapidada em brilhante reluzente, reduto
de sambistas brilhantes, espalha teu samba, tua alegria, tua luz a todos
os que de ti se aproximarem, fazendo com que reluza também em seus corações,
tua história, teu brilho e tua glória.
Sinopse do Enredo
Um morro ganha vida...
Princípio
do século XX no Rio de Janeiro. Das lavouras de café à fábrica de chitas,
aos poucos um morro no bairro da Tijuca vai se transformando em lugar
de moradia para migrantes e escravos. Muitos se diziam seus donos e
o morro era ainda, um morro sem nome, o que perdurou até a chegada de
um português chamado Domingos Alves Salgueiro. Comerciante e dono de
uma fábrica de conservas na Tijuca, Domingos era também proprietário
de 30 barracos no local, seu nome então virou referência e designação
do morro, que passou a ser conhecido como morro do Salgueiro e começou
a ser procurado por várias famílias, vindas de Minas Gerais, interior
do Estado do Rio de Janeiro, Sul da Bahia e Nordeste. São essas pessoas
que começam a dar vida ao morro, construindo as primeiras casas, os
primeiros barracos e transformando a pedra bruta e inanimada em lugar
de moradia.
De
suma importância para o dia-a-dia do morro foram as famosas tendinhas;
algumas ganharam fama, como a de seu Neca da Baiana, de Ana Bororó,
de Casemiro Calça Larga ou de Anacleto Português entre outras. Pontos
de encontro dos moradores e locais de discurssões sobre política, futebol
e samba onde, entre um gole e outro de cachaça, surgiram incontáveis
parcerias musicais.
Novas
culturas, hábitos e costumes trazidos pelos migrantes de outros estados
foram sendo incorporados no cotidiano dos habitantes do morro. E em
meio à essas manifestações folclóricas, o caxambú, dança vinda do interior
de Minas Gerais e do Estado do Rio de Janeiro, se destacou tornando-se
a principal manifestação folclórica absorvida pelos salgueirenses. O
morro do Salgueiro ia ganhando, pouco a pouco, uma vida social era apreciada
nos Grêmios Recreativos: Cultivista Dominó e Sport Club Azul e Branco
e também no Cabaré do Calça Larga com seus bailes dançantes com música
ao vivo.
A
diversidade religiosa também se manifestou no Salgueiro. Na subida do
morro, o cruzeiro passou a ser um local para agradecimentos; velas acesas
para as almas benditas, flores e ex- votos de promessas a pagar, os
terreiros de umbanda e candomblé e as benzedeiras com suas garrafadas
curadoras, banhos de limpeza e resas localizadas. - Eta Salgueiro!,
morro de dois padroeiros, São Sebastião e Xangô, senhor das pedreiras,
estende teu vermelho e branco e pede passagem …
E, de samba em samba, nasce a Academia
“Vamos embalançar a roseira,
Dar um susto na Portela, no Império, na Mangueira.
Se houver opinião,
O Salgueiro apresenta uma só união,
(...) Na roda de gente bamba,
Frequentadores do samba
Vão conhecer o Salgueiro
Como primeiro em melodia.
A cidade exclamará em voz alta:
- Chegou, chegou a Academia!”
E
foi assim que, num sábado, Geraldo Babão desceu o morro cantando a união
das três escolas: A Unidos do Salgueiro, de cores azul e rosa, A Azul
e Branco e a Auviverde Depois Eu Digo, que tiveram como figuras principais,
Antenor Gargalhada,o portugues Eduardo Teixeira e o italiano Paolino
Santoro, o “italianinho do Salgueiro”. A ala de baianas abrigava personagens
como as jovens Maria Romana, Neném do Buzunga, Zezé e Doninha. Nas três
escolas iam surgindo sambistas talentosos como; Pedro Ceciliano, o Peru,
Paulino de Oliveira, Mané Macaco, Geraldo Babão, Guará, Iracy Serra,
Noel Rosa de Oliveira, Duduca, Geraldo, Abelardo, Bala, Anescarzinho
e Djalma Sabiá que com suas canções inspiradoras fizeram com que o Salgueiro
passasse a ser respeitado por todas as demais escolas de samba.
Líder
no morro e bem articulado politicamente, Joaquim Casemiro, mais conhecido
como Calça Larga, organizava rodas de samba, passeios, piqueniques em
Paquetá e tudo o que fosse possível para unir a comunidade do morro.
E
foi nesse clima de união os componentes e baterias das três escolas
juntaram-se, somando as cores das bandeiras, fundando em 5 de março
de 1953 o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro,
com as cores vermelho e branco, combinação de cores que já era quebra
de tabú, uma vez que, naquela época todos achavam que “crioulo com roupa
vermelha parecia demônio”.
Inovando
sempre, o Salgueiro mudou o carnaval carioca apresentando enredos que
fugiam aos temas patrióticos impostos pelo Estado Novo. Navio Negreiro,
sobre a viagem de escravos para o Brasil, de 1957 e Viagem Pitoresca
e Histórica pelo Brasil, sobre a missão do pintor francês Debret no
Brasil, de 1959, são exemplos da ousadia salgueirense. O ano de 1959
ficou marcado também pela entrada de artistas plásticos convidados por
Nelson de Andrade para que criassem e desenvolvessem enredos para a
escola, foi quando o pernambucano Dirceu Nery e a suíça Marie Louise
criaram um belo desfile que surpreendeu a todos, em especial a um dos
jurados; Fernando Pamplona, aluno da Escola de Belas Artes.
O Salgueiro canta a liberdade
Convidado
para produzir o carnaval de 1960, ao lado de Arlindo Rodrigues, Pamplona
propôs o enredo Quilombo dos Palmares em homenagem a Zumbi dos Palmares,
líder negro e figura à margem da história do País. Seguindo uma temática
de exaltação ao negro, com um belo samba, a precisão da bateria e as
imagens da África e dos Quilombos expostas na avenida, o Salgueiro encantou
a todos. Apontado
como favorito conquistou o seu 1º título e não restavam mais dúvidas
de que uma nova estética havia sido criada nos desfiles das escolas
de samba do Rio de Janeiro.
Anos dourados para o Salgueiro
Os
anos 60 são um marco na história do Salgueiro. Foi nesse período que
a escola conquistou três campeonatos, apresentou enredos e sambas memoráveis
contribuindo definitivamente para a mudança dos desfiles das escolas
de samba.
O
desfile de 1963 sintetiza essa década, quando o Salgueiro apresentou
um novo personagem à margem da história oficial - Xica da Silva, uma
escrava que viveu em Minas Gerais. Interpretando Xica, o Salgueiro introduziu
uma personalidade no carnaval carioca: Isabel Valença.
Uma
nova vitória foi conquistada em 1965, com o enredo História do Carnaval
Carioca - Eneida, escolhido por Fernando Pamplona para o desfile em
comemoração do IV centenário da cidade do Rio de Janeiro.
“Tem que tirar da cabeça o que não
se pode tirar do bolso..."
Após
alguns maus resultados, em razão de crises políticas e financeiras e
ao contrário daquilo que todos imaginavam, o Salgueiro escolheu Bahia
de Todos Os Deuses como enredo para 1969. Cantando um samba inesquecível
mais uma vez a escola voltou a ser consagrada como a melhor escola de
samba do Rio de Janeiro.
(...Na ladeira tem, tem capoeira,
zum zum zum zum zum zum,
capoeira mata um...)
Com
a mesma força dos anos anteriores, a década de 70 continuou a ser próspera
para o Salgueiro. Seguindo a temática negra, a escola leva para a avenida
Festa Para Um Rei Negro, em 1971. Nascido de um trabalho de mestrado
de Maria Augusta Rodrigues, o enredo baseava-se numa visita de príncipes
africanos à Maurício de Nassau em Pernambuco. A equipe responsável pelo
visual era mais uma vez comandada pela dupla Fernando Pamplona e Arlindo
Rodrigues que contaram com a ajuda de Rosa Magalhães, Joãosinho Trinta
e Maria Augusta.
O
Salgueiro continuava fiel a sua filosofia e fazia de seu desfile um
espetáculo aberto e livre de preconceitos.
O Salgueiro desfila o sonho e o luxo
Joãosinho
Trinta assume a frente da escola como carnavalesco, o enredo escolhido
para 1974 foi O Rei de França na Ilha da Assombração, um tema que trouxe
o imaginário para a avenida, o que contribuiu para modificar definitivamente
a tônica dos enredos das escolas de samba.
Já no enredo As Minas do Rei Salomão, de 1975, Joãosinho Trinta viaja
mais ainda. Ele e Maria Augusta cogitavam sobre a presumível estada
de embarcações fenícias no norte brasileiro. Fundamentado no livro,
“A Pré-história no Brasil”, que relata a possibilidade de expedições
fenícias em busca de madeira brasileira terem aportado na região do
Amazonas, patrocinadas pelo Rei Salomão, o enredo seguiu seu curso e
quando foi divulgado, muitos o acusaram de infligir o regulamento que
não permitia enredos com temas estrangeiros, mas a escola seguiu em
frente com sua ideologia que sempre se voltou para histórias à margem
de nossa história. E na abertura dos envelopes o Salgueiro conquista
o seu primeiro bicampeonato.
A
cada ano que passava, o salgueiro mostrava que estava vivo e que a década
de 90 prometia boas surpresas para os salgueirenses...
Essa
expectativa foi confirmada em 1993, com Peguei Um Ita no Norte, sobre
a viagem do navio Ita de Belém até o Rio de Janeiro.
O
Salgueiro entrou na avenida “possuído” e fez um desfile mágico em que
o resultado não poderia ser outro a não ser a conquista do título. Mais
uma vez, o Salgueiro contagia, sacudindo essa cidade!
E o barco não vai parar...
Quantas
viagens nesses 50 anos, quantos carnavais, cinquenta anos de história
e de festas em vermelho e branco.
O
Salgueiro homenageia à todos aqueles, homens e mulheres, verdadeiros
guerreiros que ergueram o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos
do Salgueiro. Foram muitos os que deram o sangue para construir essa
história. E foram eles que abriram caminho para uma nova geração de
crianças e jovens, os Aprendizes do Salgueiro que irão prosseguir com
essa viagem tão apaixonante, segurando firme o timão, rumo a um futuro
brilhante que não será, nem melhor, nem pior, apenas diferente.
A
justificativa e a sinopse do enredo “Salgueiro Minha Paixão, Minha Raiz,
50 Anos de Glória” foram compilados de textos gentilmente cedidos pela
Diretoria Cultural do Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do
Salgueiro.
Tornamos
deles, nossas palavras,
Nosso
muito obrigado
Renato Lage e Márcia Lávia
Bibliografia
Livro
|
Autor
|
Editora
|
Ano de edição
|
Páginas consultadas
|
Orixás
|
VERGER, Pierre Fatumbi
|
Corrupio
|
2002
|
Todas
|
A arte do artesanato brasileiro
|
Programa do Artesanato Brasileiro
|
Talento Ltda.
|
2002
|
Todas
|
Salgueiro: Academia do Samba
|
COSTA, Haroldo
|
Record
|
1984
|
Todas
|
Carnaval J. Carlos
|
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
|
Lacerda Editores
|
1999
|
Todas
|
Brasil: Histórias, costumes e lendas
|
ARAÚJO, Alceu Maynard
|
Três
|
Sem ano de edição
|
Todas
|
Naturama, Enciclopédia do Mundo Animal
|
GIBELLI, Nicolas J.
|
Codex S.A.
|
1965
|
Todas
|
Costume Cavalcade
|
HANSEN, Henry Harold
|
Eyre Methuen
|
1956
|
Todas
|
The Hollywood Musical
|
HIRSCHHORN, Clive
|
Octopus Books Limited
|
1981
|
Todas
|
Cronograma
do Desfile
Alegoria 1 - Um morro ganha vida
O início de tudo.
Do morro, dos sambas dos blocos e das escolas. O surgimento da vermelho
e branco e seus bambas. Entre os barracos, folhas de café recordam a
vasta plantação existente no morro, que fez germinar, tempos depois,
a semente viva do samba entre os seus moradores, constituindo a “Academia
do Samba”.
Sob as bênçãos da nossa madrinha, a Estação Primeira de Mangueira, o
Salgueiro apresentou seu primeiro carnaval, com o enredo “Uma Romaria
à Bahia”, cuja reprodução da bandeira desfila com o terceiro casal de
mestre-sala e porta-bandeira. Salgueirenses ilustres estão presentes
na alegoria, cada um evocando a própria contribuição para o engrandecimento
da escola.
Alegoria 2 - Zumbi dos Palmares
A importância
da luta dos quilombos pela liberdade. A luta das nações africanas que
jamais se submeteram à escravidão, a formação do quilombo e o reinado
de Zumbi em Palmares, que tornou toda uma nação de excluídos liberta.
À frente da alegoria, estão presentes os atabaques utilizados como abre-alas
em 1960. Uma grande cabeça de negro representa a força de Zumbi. A decoração
rústica, executada em palha e bambus e elementos africanos, procura
reproduzir o ambiente do quilombo, bem como a estética proposta por
Fernando Pamplona, autor do enredo do primeiro campeonato do Salgueiro:
“Lança em vez de espada. Escudo em vez de armadura! A dignidade branca
dá lugar a dignidade negra. Vamos reproduzir uma África mítica”.
Alegoria 3 - Luxúrias de Xica
Os caprichos
da mulata não tinham limites. Como não conhecia o mar, Xica pediu ao
companheiro que construísse, no bairro na Palha, uma chácara junto a
um lago. Sobre os espelhos d ‘água flutuava um grande barco com direito
a mastro e velas, onde ocorriam festas oferecidas à sociedade local,
sempre animadas com orquestras e passeios pela propriedade. A alegoria
reproduz o clima luxuriante de uma das festas de Xica, com candelabros,
cascatas de frutas e convidados ilustres.
Alegoria 4 - História do carnaval carioca
A alegoria brinca
com a idéia carnavalesca de juntar dois elementos tradicionais do carnaval:
o bonde e um dragão, que representa uma dos mais conhecidos Préstitos
(Grandes Sociedades), os Tenentes do Diabo.
“... O bonde é motivo de saudade
Conduzia passageiros mascarados
Que dançavam e sambavam de verdade ...”
(trecho retirado do samba de Geraldo Babão para o enredo de 1965).
Alegoria 5 - Bahia de todos os deuses
Representa a
força dos orixás na cultura afro-baiana. Em 1969, o Salgueiro brindou
o público com uma das mais bonitas alegorias de todos os tempos. Uma
obra-prima feita por Arlindo Rodrigues: a figura de Iemanjá, uma escultura
poética que seduziu a avenida.
O carro dedicada à Bahia, além da referência aos orixás, traz grandes
vasos que representam a lavagem do Bonfim. Rendas e ornamentos complementam
a alegoria e traduzem, em cores suaves, a leveza e alegria do desfile
em que a vermelho e branco conquistou seu quarto título.
Alegoria 6 - Festa para um rei negro
Quem poderia
imaginar uma Festa para Um Rei Negro? O Salgueiro podia. E foi com esse
enredo, de autoria da carnavalesca Maria Augusta Rodrigues, que a escola
chegaria ao seu quinto título.
A alegoria representa o carro real, que durante a visita do Rei Negro
e de príncipes africanos a Maurício de Nassau, trouxe vários presentes
vindos da Costa do Marfim, num momento de grande confraternização.
Alegoria 7 - Rei de França e Minas do Rei Salomão
Os dois enredos
desenvolvidos por Joãosinho Trinta em 1974 e 1975, respectivamente,
onde o carnavalesco colocou o imaginário a serviço do carnaval. No primeiro,
ele materializa alegoricamente o sonho do menino Luís XIII, Rei de França,
que imagina seu reino no Maranhão, fundindo seus costumes com as lendas
e encantarias do local. No segundo, ele retrata uma possível estada
de embarcações fenícias no norte brasileiro, trazendo elementos até
então inéditos para os desfiles, como zebras, bigas e esfinges.
Alegoria 8 - Explode Coração
“Peguei um
Ita no norte
Pra vim pro Rio morar
Adeus meu pai, minha mãe
Adeus Belém do Pará...”
A canção de Dorival Caymmi, Peguei um Ita no Norte, foi a
inspiração para o Salgueiro visitar os vários “Brasis” no carnaval campeão
de 1993. Rebatizado de Explode Coração (trecho do refrão do samba de
enredo daquele ano), Peguei um Ita no Norte é uma visão carnavalesca
dos navios Ita, embarcações de carreira que durante décadas ligaram
Norte e Sudeste do país, transportando sonhos e esperanças até o litoral
do Rio de Janeiro, objeto de todo o fascínio dos migrantes.
O arrojo dos viajantes aventureiros superava a distância e as dificuldades
para conhecer e conquistar outras terras. Velhos e crianças, homens
e mulheres que, atraídos e guiados pelo sonho de um novo Eldorado, se
lançavam na aventura da busca de um lugar ao sol.
DEFESA DE QUESITO - FANTASIAS
Ala 1
Parceiros do Samba
Nos bailes, com música ao vivo nos Grêmios Recreativos, os rapazes de
ternos engomados, sapato de bico-fino e salto carrapeta, desfilavam
pelo salão, apreciando as moças com suas roupas de organdi, seda e tafetá.
A dança de salão se faz presente nessa ala de passo marcado.
Ala 2
Moleques de Debret
Um “pregão” onde se vendiam produtos e iguarias como foram demonstrados
na obra do pintor francês Jean-Baptiste Debret, ,que veio ao Brasil
para retratar o país no período colonial, que virou tema do desfile
do Salgueiro em 1959, mostrando a todos a disposição da escola para
buscar novos rumos.
Ala 3
Soldados portugueses
Para o poder colonial, destruir o Quilombo dos Palmares era uma questão
de honra. Várias lutas foram travadas até a destruição total do Quilombo
ocorrida em 20 de novembro de 1695.
Ala 4
Guerreiro africano
Palmares abrigou um verdadeiro exército de guerreiros africanos, que
lutaram bravamente contra a escravidão imposta pela Coroa portuguesa.
Nesta ala, o Salgueiro reconta a sua constante exaltação ao orgulho
negro.
Ala 5
Rei do Maracatu
No enredo apresentado pelo Salgueiro em 1960, não faltaram as manifestações
folclóricas próprias do palco onde se desenvolveu o quilombo, em festas
de exuberante beleza da cultura negra.
Cortejo Rei e Rainha do Maracatu
A Corte do Rei e da Rainha do Maracatu, manifestação típica do estado
de Pernambuco, é reproduzida na Marquês de Sapucaí, com os tradicionais
lampiões ladeando o casal e um pálio característico.
Ala 6
Nação Livre
O sonho de liberdade presente em Palmares uniu todos os seus membros
em torno de um ideal. Mesmo desfeito, o quilombo tornou-se um emblema
da luta contra a exploração, a intolerância e preconceito.
Cortejo de Xica
Além de resgatar a figura de Xica da Silva, em 1963, o Salgueiro ofereceu
outras contribuições para a história dos desfiles. Um deles foi Isabel
Valença, que se tornou para sempre Xica da Silva. Outro momento marcante
foi protagonizado pela ala coreografada por Mercedes Baptista, representada
por 12 pares de nobres dançando polca. A dança dos nobres unia-se à
batida do samba.
Ala 7
Orgulho da raça
Esta ala resgata a origem da escrava que ascendeu socialmente ao se
casar com o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, subvertendo
a lógica social da época com sua presença nos salões da fidalguia mineira.
Ala 8
A corte
No século XVIII, a descoberta de ricas jazidas de diamantes fez com
que o Rei D. João V fundasse o distrito de Diamantina, com sede no Arraial
do Tijuco. A corte portuguesa voltava sua atenção cada vez mais para
a região, que se desenvolveu sob a luz e o brilho de pedras preciosas.
Ala 9
Nobres africanos
Enquanto Diamantina vivia o esplendor da mineração, escravos africanos
eram usados para servir a corte e trabalhar nas minas. Mas uma escrava
negra, de nome Xica, aproveitando as brechas no sistema social dominante,
mostrou à sociedade o valor da nobreza africana.
Ala 10
Nobres de Diamantina
Representa a transformação da sociedade de Diamantina. Com a descoberta
de diamantes, nobres passeavam pelas ruas da cidade ostentando riqueza
nas terras de Xica da Silva.
Ala 11
Cucumbis
Através desta ala, o Salgueiro revive uma das maiores tradições do carnaval:
os cucumbis, negros vestidos de índios e selvagens africanos, em fantasias
feitas com muitas penas. No desfile de 1965, um grupo de Cucumbis abriu
alas para o Salgueiro passar com sua alegria.
Grupo de passistas – Alegria do samba
A vermelho-e-branca tijucana desfila a empolgação que brota em forma
de movimento dos nossos sambistas. Personificando a própria alegria
e espontaneidade do carnaval, seus passos atraem e fazem vibrar o folião
presente em cada um de nós.
Ala 12
Pierrots
Esta ala lembra o romantismo dos carnavais antigos. Inspirado no personagem
da Commedia Dell’Arte italiana, representa uma das fantasias mais populares
no carnaval brasileiro.
Ala 13
Festa de Momo
Sob o comando do Rei Momo, a massa salgueirense invade a avenida num
festival de alegria, contando a própria história do carnaval carioca.
Ala 14
Bateria - Arlequins
Inspirado em mais um personagem da Commedia Dell’Arte, o arlequim entra
na comemoração dos 50 anos do Salgueiro para dar ritmo e animar a festa,
vestidos com o vermelho e branco tradicional da escola.
Ala 15
Foliões
A alegria presente na alma de cada folião invade a avenida, numa festa
de pompons, máscaras e movimento. É a tradução do espírito carnavalesco
do carioca, na celebração da sua festa mais importante.
Ala 16
Baianinhas
Com roupas de baianas estilizadas, em cores leves, as baianinhas do
Salgueiro desfilam a malemolência e o gingado da “terra da felicidade”,
com suas contas, rendas e balangandãs, renovando a tradição das grandes
baianas do Salgueiro.
Ala 17
Baianas – Senhor do Bonfim
As grandes matriarcas do Salgueiro entram na avenida personificando
as tradicionais baianas, que sempre reforçam sua fé no Senhor do Bonfim.
Sobre os seus tabuleiros, desfilam os quitutes de iaiá, iguarias temperadas
com o gingado das senhoras do samba.
Ala 18
Mercador de flores
Pregoeiros do velho Mercado Modelo estão presentes e recordam um dos
mais belos momentos do carnaval carioca, quando o Salgueiro mostrou
que a Bahia era realmente de todos os deuses.
Grupo de Yaôs
O grupo representa aquelas que passarão por uma série de provas, como
raspar a cabeça, ficar reclusa, aprender os encargos e deveres do candomblé
para receber os orixás. Ilustra a religiosidade baiana, antecedendo
o carro Bahia de Todos os Deuses.
Ala 19
Filhos de Ghandi
Com sua roupa branca e seu turbante, o bloco de afoxé mais famoso do
Brasil é reproduzido nesta ala, num cortejo de foliões que saem às ruas
de Salvador num ritual espiritualizado.
Ala 20
Mercador de passáros
No grande mercado, vendedores apregoam pássaros, aqui reproduzidos em
leves tons de branco e amarelo, com chapéus tradicionais, lembrando
o estilo inconfundível de Arlindo Rodrigues.
Ala 21
Mercador de peixes
Em tons de branco, prata e dourado, desfilam vendedores de peixes, completando
o quadro dos vendedores do Mercado Modelo.
Ala 22
Damas da Corte
As damas da corte de Maurício de Nassau são representadas por esta ala,
lembrando o luxo e a pompa do período em que Recife viveu sob domínio
holandês. Com suas sombrinhas, as damas espalhavam charme e viviam o
esplendor da próspera capital nordestina.
Ala 23
Nobres
Representa a presença da nobreza na próspera cidade de Recife, palco
do encontro do rei africano com Maurício de Nassau.
Maurício de Nassau e Ana Paes
Como destaques de chão, são revividas as figuras de Maurício de Nassau,
conde que atuou nos domínios holandeses no Brasil entre 1637 e 1644,
e Ana Paes, mulher de pais nobres, rica, que escandalizou as tradicionais
famílias pernambucanas ao casar-se com o capitão do exército flamengo,
Carlos de Toulon.
Cortejo do Rei e Príncipes Negros
O rei africano, acompanhado da sua corte, em visita a Maurício de Nassau,
é recebido com honras de chefe de Estado, num desfile de grande beleza
pelas ruas do Recife.
Ala 24
Príncipes africanos
No século XVII, as ruas de Recife testemunharam a vinda da realeza africana.
Escravos negros tiveram contato com nobres vindos de sua terra, fato
de importante impacto social. “Que beleza, a nobreza que visita congá”.
Ala 25
Rei Africano
Membro da mais alta hierarquia, o rei negro participou do desfile pelas
ruas de Recife. Ofertou presentes a Maurício de Nassau e se apresentou
com suas roupas em estampas peculiares. Deslumbrados, os negros escravos
cantavam: “Senhor, oh, senhor, agora eu sei... Que eu também tenho
um rei”.
Ala 26
Desvendando a floresta
Segundo o enredo “Rei de França na Ilha D’Assombração”, o menino Luís
XIII presenciou os preparativos de uma esquadra que iria invadir um
lugar longínquo no novo mundo, habitado por índios. E para lá sua cabeça
voava, numa viagem onde o reino da França se fundia com um mundo desconhecido
e ao mesmo tempo sedutor. Candelabros transformavam-se em palmeirais,
imagens de uma floresta de exotismo embriagador.
Ala 27
Assombrados
Destaca-se aqui a lenda criada em torno da cruel Nhá Jança. Dizia-se
que, à meia-noite, surgia a sua carruagem arrastando as almas penadas
daqueles a quem ela havia maltratado. Quem a visse, virava lobisomem
ou fantasma. Na verdade, nada mais era do que um artifício fomentado
por ela própria para que ninguém saísse de suas casas à meia-noite,
quando fazia o tráfico ilegal de escravos.
Ala 28
Feiticeiros nativos
Na mente do pequeno Luís XIII, surgiam índios feiticeiros, que assombravam
a ilha de São Luís do Maranhão e alimentavam a imaginação dos seus habitantes
com lendas e encantarias.
Ala 29
Fenícios
O enredo As Minas do Rei Salomão, baseado em estudos sobre a
pré-história no Brasil, tratava das expedições do rei Salomão, em parceria
com o rei Hiran, da Fenícia a terras amazônicas.
Ala 30
Indígenas
Representam os povos amazônicos, que teriam testemunhado a chegada dos
fenícios no norte do país, em expedições a procura da madeira brasileira.
Ala 31
Bumba-Meu-Boi
A reação dos migrantes ao viajar e conhecer outras terras e a excitação
diante das novas imagens, como as representações azulejadas de São Luis
do Maranhão e suas tradições folclóricas, como o Bumba-Meu-Boi.
Ala 32
Cangaceiros
De porto em porto, as imagens diversificadas e próprias de cada local
do nordeste brasileiro eram presenciadas pelos migrantes. A figura dos
cangaceiros, típica do nordeste brasileiro, enche os olhos dos viajantes
rumo ao Rio de Janeiro.
Ala 33
Copacabana
A viagem termina na Cidade Maravilhosa. Em busca de uma nova vida, homens
e mulheres chegam ao Rio de Janeiro, terra do samba, da mulata e futebol,
das praias e de Copacabana. São novos cidadãos cariocas, integrandos
aos hábitos da cidade grande.
Ala 34
Comandantes do Ita
Representa a renovação da escola. Os Aprendizes do Salgueiro são os
futuros comandantes deste barco, que navegará por outros tantos 50 anos.
Ala 35
Velha Guarda
Representa a tradição da escola. Vêm ao final do desfile como uma homenagem
do Salgueiro àqueles que são testemunhas vivas da história da escola.
São eles que ensinam a verdadeira lição da Academia do Samba: não somos
nem melhores, nem piores. Apenas diferentes.
DEFESA DE QUESITO – FANTASIAS
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
1º Casal
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
A roupa do casal é uma releitura de fantasias usadas no carnaval europeu,
que chegou ao Brasil com suas cores e formas, influenciando a moda das
ruas e salões. Em vermelho e branco, a indumentária traduz o romantismo
e a nostalgia dos antigos carnavais.
2º Casal
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O segundo casal representa a beleza das danças e manifestações africanas,
que na festa para o rei negro se apresentaram com todo a sua vibração.
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