FICHA TÉCNICA 2000

 

Carnavalesco     Mauro Quintaes
Diretor de Carnaval     Luiz Augusto Lage Duran (Fú)
Diretor de Harmonia     Sidney Machado (Chopp)
Diretor de Evolução     Sidney Machado (Chopp)
Diretor de Bateria     Lourival de Souza Serra (Mestre Louro)
Puxador de Samba Enredo     Wander Pires
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Vanderli Silvares Rodrigues e Fernanda Saint'Clair
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Carlos Eduardo Júnior (Mosquito) e Mara Rosa
Resp. Comissão de Frente     Zeca Taveira & Carlota Portella
Resp. Ala das Baianas     Lecy Souza de Oliveira (Tia Ciça)
Resp. Ala das Crianças     Margareth Valença

 

SINOPSE 2000

"Sou Rei, Sou Salgueiro, meu Reinado é Brasileiro"

            Tanto pelos pés dos sambistas, quanto pelas mãos dos nossos artistas, toda a história do Brasil já passou pelo Salgueiro. Neste carnaval 2000, seguiremos nossa tradição e vamos apresentar na avenida mais um momento importante da vida brasileira, cumprindo a missão de levar cultura e entretenimento aos súditos da realeza carnavalesca.
            Nosso enredo vai mostrar o início do amadurecimento do Brasil, quando passou de Colônia à Reino Unido. Curiosamente, partiu da França a influência que favoreceu essa transformação: primeiro pela força, com Napoleão praticamente expulsando a Corte de Portugal; e depois pela arte, com o legado documental da Artística Missão.
Não compete a nós, salgueirenses, julgar a figura marcante de D. João. Seria ele um estadista empreendedor, amante da cultura e da ciência ou um soberano bufão, indeciso, que saiu corrido de seu país? Temos que retratar a história desse monarca com alegria carnavalesca, deixando que o público folião faça seu próprio julgamento.
            Com a força da vermelho e branco, decretamos a Abertura dos Portos da Alegria para a Chegada da Corte de Momo, Elevando e Aclamando o Salgueiro como o mentor da mais importante das Missões Artísticas: a perpetuação do Carnaval.
            Embarque conosco nesta Caravela para o Futuro!

A Transmigração da Família Real para o Brasil

            O imperador Napoleão dominava com seus exércitos o continente europeu. Praticamente o único país capaz de resistir à supremacia francesa era a Inglaterra, dona de uma poderosa Marinha.
Percebendo que não podia dominar o adversário pela força militar, Napoleão decide subjugá-lo pela força econômica: decretou, em 1806, o Bloqueio Continental, determinando que todos os países do continente europeu sob seu domínio fechassem seus portos ao comércio inglês.
            Nessa época, Portugal era governado pelo Príncipe-Regente, D. João, pois sua mãe, a rainha D. Maria I, havia enlouquecido. A situação política de Portugal perante a França e a Inglaterra era extremamente delicada. Tentava o Príncipe Regente manter uma posição de neutralidade diante do conflito. Não podia obedecer imediatamente as ordens francesas temendo - diante do poder naval inglês - perder suas colônias, principalmente o Brasil.
Em 1807, Napoleão assina com a Espanha o Tratado de Fontainebleau, que dividia a nação portuguesa entre os dois aliados, e determina a invasão de Portugal.
            Não dispondo de condições militares para deter o avanço das tropas francesas, D. João resolveu partir para o Brasil, transferindo a sede do reino português. A atitude de D. João contava com a ajuda e o incentivo do governo inglês.
Sob chuvas torrenciais, o embarque da família Real de Bragança e comitiva composta por 15 mil pessoas ocorre no dia 29 de novembro de 1807. Num dos seus acessos mais acentuados de loucura, D. Maria I gritava desesperadamente, protestando contra a partida. Houve lama, choros e vaias à medida que os passageiros entravam nos navios. Os que se retiravam levavam todas as riquezas transportáveis dando a impressão de uma simples fuga precipitada.
            Terá sido mesmo uma fuga desesperada? Há quem defenda a tese de que a idéia da transmigração da Corte para o Brasil já era aventada nos séculos anteriores, para o caso de se defrontar Portugal com dificuldades superiores às suas forças. Transferindo a Corte, d. João salvaria a monarquia com todas as suas colônias ultramarinas.
            Após 55 longos dias de tormentosa viagem, a corte e comitiva desembarcam na Bahia, encontrando o povo em festa para recebê-los. A realeza se surpreende com as manifestações de carinho dos súditos de terras tão distantes e, pela primeira vez, entra em contato com... a alegria do povo brasileiro ! ! !

A Abertura dos portos às Nações amigas

            Logo ao chegar, durante sua breve estada na Bahia, D. João decretou a Abertura dos Portos do Brasil às Nações Amigas, em 28 de janeiro de 1808.
            A abertura dos portos favoreceu os proprietários rurais, produtores de bens destinados à exportação (açúcar e algodão, principalmente), os quais se livraram do monopólio comercial da Metrópole. Daí para frente seria possível vender a quem quer que fosse, sem restrições impostas pelo sistema colonial.
            O Rio de Janeiro se tornou porto de entrada dos produtos manufaturados ingleses, com destino não só ao Brasil como ao Rio da Prata e à Costa do Pacífico.
            A Inglaterra tratou de tirar o máximo de proveito econômico da proteção que oferecia a Portugal, sendo a maior beneficiada com esse ato do Príncipe Regente pois iria abastecer o novo mercado com seus produtos industrializados e consumir produtos tropicais brasileiros.
            A escalada inglesa pelo controle do mercado colonial brasileiro culminou no Tratado de Comércio e Navegação, em 1810, com a Coroa Portuguesa se comprometendo a oferecer benefícios tarifários aos produtos ingleses.
            Mesmo sabendo que naquele momento a expressão "nações amigas" era equivalente à Inglaterra, o ato punha fim a trezentos anos de sistema colonial, mudando radicalmente... a vida econômica brasileira.

A Corte no Rio de Janeiro

            A família real foi recebida no Rio de Janeiro com indiscutível entusiasmo. A cidade, engalanada, e como em convulsões, parecia uma só alma em delírio" (Rocha Pombo).
            As festas duraram nove dias e todas as noites a iluminação da cidade teve o mesmo brilhantismo. A alegria era geral! E ainda por algum tempo depois pode-se dizer que a cidade continuou em festas pois de todas as capitanias, até dos pontos mais afastados do interior, vieram, não só governadores ou seus representantes, bispos ou seus enviados, como outras autoridades, todos a felicitar o Príncipe e a Rainha.
            Não houve trégua no trabalho das escravas costureiras: vinham encomendas de todos os cantos, e as compras de fitas, rendas, chamalotes, veludos, damascos, jóias, galões e outros artigos não tinham limites. As meias de seda, os sapatos rasos de fivela de ouro e prata, as cabeleiras, os coletes de cetim bordados e os chapéus armados, tudo subiu de preço. O comércio português já põe à prova sua esperteza e seu tino comercial. Foi um rega-bofe completo que durou nove dias sucessivos" (Gostão Gruls).
            A corte é acompanhada de toda espécie de gente palaciana: mordomo e fiéis; camareiros e estribeiros; damas de honra e guarda-jóias; guarda-roupas e gentis-homens, além de personalidades notáveis da nobreza, do clero, confessores, ministros, cirurgiões e funcionários.
            As diferenças de vestuários, de maneiras e modos de vida entre os lisboetas e as boas famílias do Rio também provocaram certa estranheza e até alguns atritos. Tudo isso, contudo, era compensado por um sentimento de maior segurança e liberdade, propiciado especialmente pela presença do príncipe regente que representava uma garantia contra os abusos dos vice-reis e altos funcionários.
            Um novo interesse pela moda se manifestou na população da cidade.
            A cidade era relativamente pequena, não se tendo tomado com antecedência as medidas necessárias para o alojamento de milhares de acompanhantes do príncipe. Requisitaram-se inúmeras casas, o que causou transtorno e indisfarçável revolta da população carioca. Entre outras coisas, diz-se que as autoridades mandavam marcar as casas requisitadas com as iniciais P.R. (Príncipe Regente), que o povo interpretava como... Ponha-se na Rua e também Prédio Roubado.

A elevação do Brasil à categoria de Reino Unido e a Aclamação de D. João

            Após a expulsão dos franceses de Portugal, em 1814, e portanto não se justificando a permanência do Príncipe-Regente no Brasil, quiseram os portugueses tradicionalistas que retornasse a Corte a Portugal. D. João, contudo, tratava o assunto com indiferença.
            Em 16 de dezembro de 1815, o Príncipe-Regente assinou uma carta-lei elevando o Brasil à Reino Unido a Portugal e Algarve de maneira a formarem um só corpo político. A medida legitimava a permanência de D. João no Brasil e era apoiada pelos participantes do Congresso de Viena, reunião dos países que derrotaram Napoleão.
Ao transformar o Rio de Janeiro em sede do Império Português, D. João reorganizou toda a administração, criando ministérios, fundando o Banco do Brasil, a Imprensa Régia, a Academia Militar da Marinha, o teatro São João, a fábrica de pólvora, o Jardim Botânico, a Biblioteca Real e outras escolas e academias voltadas para a Educação e Cultura.
Essas medidas, porém, não beneficiavam a massa dos "segregados" – escravos, negros livres e mestiços pobres – que representavam mais de 70% da população do país; e sim as elites.
            Após a morte da D. Maria I, em 1816, passou o Príncipe-Regente a usar o título de D. João VI e foi aclamado Rei em 6 de fevereiro de 1818.
            Para os brasileiros que presenciaram esses acontecimentos, o Brasil estava caminhando com passos largos para o processo de emancipação pois a estada da corte portuguesa no Rio de Janeiro ratificava a postura político-social de igualdade com Portugal.
            A coroação do imperador ocorreu no teatro São João, com honras de um monarca europeu. Toda a corte e vários convidados vieram participar de um dos... mais grandiosos e luxuosos eventos realizados no país.

A Missão Artística Francesa

            Por sugestão de Antônio de Araújo e Azevedo, o conde da Barca, D. João VI decide criar uma Escola de Ciências, Artes e Ofícios na sede da Corte, com o objetivo de promover e difundir a instrução através de um corpo docente categorizado "importado" do exterior.
            Coube ao embaixador português em Paris, o marquês de Marialva, a organização da Missão Artística junto ao governo da França. A comitiva contava com artistas de renome, artífices, serralheiros, mestre-ferreiro, gravadores, carpinteiros, curtidores.
            Chefiada pelo literato e crítico de arte Joachim Lebreton, a grandiosa missão era formada pelo pintor histórico Jean Baptiste Debret; o pintor de paisagens Nicolas Antoine Taunay; o arquiteto Auguste Herni Victor Grandjean de Montigny; o escultor Auguste Marie Taunay; o gravador Charles Simon Pradier; o engenheiro mecânico François Ovide, e o único suíço da equipe, o compositor e organista Sigmund Neukormm.
            Debret foi o membro do grupo que melhor captou a vida brasileira. Na sua "Viagem pitoresca e histórica ao Brasil", ele retrata, além dos eventos palacianos, os costumes do povo, cenas cotidianas com brancos, negros, índios, o movimento das ruas, do comércio, a fauna e flora.
            Apesar de sofrer resistências tanto artísticas quanto políticas, a missão francesa marcou "a ruptura, sob as influências de uma concepção nova, da arte de tradição colonial de origem portuguesa, e o conflito entre a arte de expressão litúrgica e o laicismo francês" (Fernando Azevedo).
            O Brasil até hoje agradece aos artistas dessa missão... o primoroso legado artístico e documental.

Caravela para o futuro

            Ao chegar ao final do enredo, o Salgueiro, orgulhoso, conclama toda a população para embarcar numa CARAVELA PARA O FUTURO, com o objetivo de perpetuar, no próximo Milênio, esse momento mágico que é o Carnaval Carioca, a maior festa popular do mundo, originária do Entrudo, curiosamente mais uma contribuição portuguesa à cultura brasileira.
            Fundindo o novo e o velho, convidamos reis, rainhas, aristocracia e povo, pretos, brancos e índios, artistas e sambistas para o embarque, cabendo ao Salgueiro – de braços dados com as escolas co-irmãs - a responsabilidade de conduzir a NAVE DA ALEGRIA E ESPERANÇA nas comemorações dos 500 ANOS DO BRASIL, rumo ao 3º MILÊNIO.

            PARABÉNS BRASIL, PARABÉNS SALGUEIRO,
            PARABÉNS A TODO O POVO BRASILEIRO !!!

 

SAMBA ENREDO                                                2000
Enredo     Sou rei, sou Salgueiro meu reinado é Brasileiro
Compositores     Fernando Baster, J.C. Couto, João da Valsa e Touro
Senhor, olhai por nós
Iluminai este momento
Os nossos corações
As emoções estão ao vento
Navegando o passado
Nas águas do meu pensamento ( e hoje )

A história vem mostrar
A transmigração da realeza
Chegando à Bahia, trazendo luxo e riqueza
E no Rio de Janeiro, a corte veio encontrar
No carioca maneiro, um povo festeiro a comemorar

Roda baiana bonita
Vem no balanço do mar
O teu sorriso clareia meu olhar

Mudando o rumo da economia, meu Rio seria
A grande atração comercial
Dom João está sorrindo
Com a expulsão da França em Portugal
Nova estrutura, arte e cultura
E veio a coroação
Criou-se um legado de artistas
Que ao mundo encantou
E nessa caravela futurista
Sou mais um sambista, me leva que eu vou

Vou brincar com meu amor, eu vou que vou
Nessa viagem de alegria, salgueiro eu sou
Parabéns meu Brasil
Vem comigo, arrebenta bateria